Divulgação (Foto: Reprodução)
Bahia tem
quase 3 mil pessoas na fila de espera por um órgão
A doação de órgãos despertou a atenção do país após
Faustão entrar para a fila a espera de um coração
A Bahia possui 2.871 pessoas na fila de espera por um órgão, de
acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A maior
parte deste total é de pessoas esperando por um rim: 1.597. Em seguida, são
1.252 pessoas aguardando por transplante de córneas e por fim, 22 pessoas
aguardando por transplante de fígado.
Liderando a lista, a espera por um rim é a maior não apenas na
Bahia, mas também em todo o país, já que segundo o Ministério da Saúde, 37.092
pessoas aguardam pelo órgão no Brasil. Ao Portal M!, o
nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), José A.
Moura Neto, explicou que isso se dá pela prevalência alta da doença renal
crônica.
"A lista para transplante renal é a maior não só na Bahia,
mas em todo o país. Apesar de cada doador poder beneficiar duas pessoas da
lista para o transplante renal, existem outros aspectos que certamente
colaboram para esse número mais elevado que outros órgãos: prevalência alta da
doença renal crônica, com número de pacientes em diálise crescendo anualmente.
Além disso, órgãos como o coração têm o transplante como uma última opção
terapêutica; no caso dos rins, o transplante é um tipo de terapia de
substituição renal, assim como a diálise", explicou.
José A. Moura Neto é
nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) | Foto:
Divulgação
Conforme o especialista, o transplante do órgão é indicado em
casos em que existe perda muito significativa de caráter irreversível da função
dos rins. "É a chamada falência renal. Normalmente, é quando existe também
a necessidade de diálise", disse.
O transplante renal ajuda pessoas como o engenheiro mecânico
Marcos César Domingos Ferreira, de 52 anos, e que passou pelo transplante em
maio deste ano, após dois anos na fila de espera. Ele, que teve o diagnóstico
de doença renal em julho de 2013, passou a contar com uma maior qualidade de
vida após o procedimento.
"Eu acho que o ganho maior está na qualidade de vida que
passei a ter após o transplante. Eu fazia 12h por semana de diálise, o que
totalizava 52h por mês. Quando passei ter o rim, isso melhorou, porque nessas
52h eu passei a estar ao dispor da minha familia, entre outras coisas",
destacou.
Marcos César recebeu um
transplante de rim em maio deste ano | Foto: Acervo pessoal
Marcos apontou possuir uma "felicidade indescritível"
após o procedimento, e ressaltou que sua saúde está muito melhor. Agora, ele
espera o momento de retomar as viagens que se acostumou a fazer, conhecendo
novos lugares e pessoas.
"Minha saúde está muito melhor. A cirurgia ainda é recente,
então estou em casa, tomando medicamentos, imunossupressores. Mas o
procedimento, com certeza, me dará mais liberdade para viagens, e agora
transplantado, posso voltar a aproveitar melhor isso, conhecer lugares",
afirmou.
Apesar de ter conseguido o transplante, Marcos também lembrou
dos momentos em que passou aguardando na fila de espera. Ele classificou o
período como "agonizante", e destacou que as pessoas costumam ficar
"sem esperança" e "desmotivados".
"Eu conheço várias pessoas que estão na fila, e acho que
essa demora de estar na fila é agonizante. Você fica ansioso, muitas pessoas
ficam sem esperança, desmotivados, porque há uma certa demora, para além de
aparecer um órgão, de ser compatível, então é algo agonizante para quem está
esperando", enfatizou.
Já o nefrologista José Moura Neto ressaltou que o transplante é
benéfico para a qualidade de vida de pessoas que são acometidas por problemas
renais. Segundo ele, apesar do transplante não conferir a cura da doença renal
crônica, o procedimento permite uma "maior liberdade aos pacientes".
"Diversos estudos demonstraram que o transplante renal está
associado a melhores resultados quando comparado à diálise: menor morbidade,
maior sobrevida e melhor qualidade de vida. Apesar do transplante renal não
conferir a cura da doença renal crônica, ele permite uma maior liberdade aos
pacientes, que em geral conseguem retornar para rotinas bem próximas ao que
costumavam ter antes do tratamento dialítico".
Transplantes
realizados
Conforme a Sesab, entre janeiro e julho deste ano foram
realizados 587 transplantes na Bahia. Destes, 311 foram transplantes de córnea,
172 transplantes renais, 83 transplantes de médula e 21 transplantes hepáticos.
Por fim, a Sesab também informou que, no mesmo período, houveram
87 doações de múltiplos órgãos e 330 doações de córneas.
Resistência
familiar
Um dos principais impeditivos para a realização de transplantes
e para a diminuição da fila de espera é a resistência familiar em aprovar a
doação de órgãos, em casos de familiares mortos.
De acordo com dados da Sesab, em 2022, as principais causas de
recusa de doação de múltiplos órgãos foram: familiares não aceitarem aguardar o
processo de captação (62), desejavam o corpo íntegro (51), e o fato da pessoa
não ser doador em vida (45). Outros motivos destacados, foram a falta de
consenso entre familiares (43), além de 37 casos em que a família foi contrária
à doação.
"Infelizmente, esses fatores estão diretamente relacionados
à falta de conhecimento. O Brasil tem o maior programa público de transplantes
de órgãos e tecidos do mundo. Porém, nossos números ainda são bem inferiores ao
que poderíamos ter, considerando nosso potencial de doadores", ressaltou o
presidente da SBN.
Diante deste cenário, José Moura Neto ressaltou a necessidade de
se investir em campanhas para conscientizar a população sobre as etapas da
doação, a legislação, a atuação dos órgãos fiscalizadores e os benefícios que o
receptor ganha ao transplantar.
"Essas campanhas precisam ser frequentes e com linguagem
acessível. Além disso, a população precisa saber quem pode ser doador e o que
fazer para se tornar um doador no Brasil. Esses pontos ainda são muito pouco
abordados no nosso país. Em geral, o transplante é considerado o tratamento com
os melhores resultados. Ele proporciona melhor qualidade de vida e maior
sobrevida aos pacientes. Para que o transplante aconteça, é preciso haver
doação. Doação é um ato de amor e uma forma de seguir ajudando o outro, mesmo
após a morte", enfatizou o médico.
Já Marcos, que passou pelo transplante, defendeu que o número de
pessoas doadoras de órgãos deve ser maior no Brasil. "O que falta para
isso são políticas públicas e campanhas sobre a importância da doação,
campanhas mais robustas para levar informação à população. Às vezes até o falecido
ou não, que é doador, a família impede disso acontecer, seja por religião ou
outros fatores. Por isso, defendo campanhas mais robustas, a exemplo das ações
de doação de sangue", ressaltou.
Transplante
de coração
Recentemente, com a notícia de que o apresentador Fausto Silva,
precisará de um transplante de coração, se reforçou a atenção para o tema. Nos
últimos dias, o Portal M! mostrou
que na Bahia não há fila de espera para o órgão, porque o transplante
não é realizado aqui há um ano e sete meses.
A reportagem, no entanto, questinou a Sesab sobre o motivo pelo
qual a cirurgia deixou de ser realizada no Estado. Conforme a pasta, a realização
do transplante foi paralisada por conta do reflexo da pandemia. "Houve uma
mobilização para oferta de outros serviços. Caso algum paciente residente na
Bahia necessite de transplante de coração, ele é inserido na fila nacional. O
procedimento é realizado em outro estado, sendo custeado o deslocamento e
estadia pela Secretaria da Saúde do Estado", informou em nota.
Ainda segundo a Sesab, o serviço de transplante de coração
está sendo retomado na Bahia. A previsão é que até outubro o Hospital Ana Nery
volte a fazer o procedimento
Como se
tornar um doador
A legislação brasileira não exige que um paciente registre em documentos
ou cartórios a vontade de ser um doar órgãos. O mais importante, conforme o
Sistema Nacional de Transplantes, é que o potencial doador avise sua família e
amigos.
Um
dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil é a negativa
familiar, já que cerca de metade das famílias entrevistadas negam a autorização
para a retirada de órgãos e transplantes do potencial doador.