Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2025

Saúde

Publicada em 25/08/23 às 22:19h - 37 visualizações
Bahia tem quase 3 mil pessoas na fila de espera por um órgão
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Divulgação  (Foto: Reprodução)

Bahia tem quase 3 mil pessoas na fila de espera por um órgão

 A doação de órgãos despertou a atenção do país após Faustão entrar para a fila a espera de um coração

 

A Bahia possui 2.871 pessoas na fila de espera por um órgão, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A maior parte deste total é de pessoas esperando por um rim: 1.597. Em seguida, são 1.252 pessoas aguardando por transplante de córneas e por fim, 22 pessoas aguardando por transplante de fígado.

Liderando a lista, a espera por um rim é a maior não apenas na Bahia, mas também em todo o país, já que segundo o Ministério da Saúde, 37.092 pessoas aguardam pelo órgão no Brasil. Ao Portal M!, o nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), José A. Moura Neto, explicou que isso se dá pela prevalência alta da doença renal crônica.

"A lista para transplante renal é a maior não só na Bahia, mas em todo o país. Apesar de cada doador poder beneficiar duas pessoas da lista para o transplante renal, existem outros aspectos que certamente colaboram para esse número mais elevado que outros órgãos: prevalência alta da doença renal crônica, com número de pacientes em diálise crescendo anualmente. Além disso, órgãos como o coração têm o transplante como uma última opção terapêutica; no caso dos rins, o transplante é um tipo de terapia de substituição renal, assim como a diálise", explicou. 

José A. Moura Neto é nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) | Foto: Divulgação

Conforme o especialista, o transplante do órgão é indicado em casos em que existe perda muito significativa de caráter irreversível da função dos rins. "É a chamada falência renal. Normalmente, é quando existe também a necessidade de diálise", disse.

O transplante renal ajuda pessoas como o engenheiro mecânico Marcos César Domingos Ferreira, de 52 anos, e que passou pelo transplante em maio deste ano, após dois anos na fila de espera. Ele, que teve o diagnóstico de doença renal em julho de 2013, passou a contar com uma maior qualidade de vida após o procedimento.

"Eu acho que o ganho maior está na qualidade de vida que passei a ter após o transplante. Eu fazia 12h por semana de diálise, o que totalizava 52h por mês. Quando passei ter o rim, isso melhorou, porque nessas 52h eu passei a estar ao dispor da minha familia, entre outras coisas", destacou. 

Marcos César recebeu um transplante de rim em maio deste ano | Foto: Acervo pessoal

Marcos apontou possuir uma "felicidade indescritível" após o procedimento, e ressaltou que sua saúde está muito melhor. Agora, ele espera o momento de retomar as viagens que se acostumou a fazer, conhecendo novos lugares e pessoas.

"Minha saúde está muito melhor. A cirurgia ainda é recente, então estou em casa, tomando medicamentos, imunossupressores. Mas o procedimento, com certeza, me dará mais liberdade para viagens, e agora transplantado, posso voltar a aproveitar melhor isso, conhecer lugares", afirmou.

Apesar de ter conseguido o transplante, Marcos também lembrou dos momentos em que passou aguardando na fila de espera. Ele classificou o período como "agonizante", e destacou que as pessoas costumam ficar "sem esperança" e "desmotivados".

"Eu conheço várias pessoas que estão na fila, e acho que essa demora de estar na fila é agonizante. Você fica ansioso, muitas pessoas ficam sem esperança, desmotivados, porque há uma certa demora, para além de aparecer um órgão, de ser compatível, então é algo agonizante para quem está esperando", enfatizou.

Já o nefrologista José Moura Neto ressaltou que o transplante é benéfico para a qualidade de vida de pessoas que são acometidas por problemas renais. Segundo ele, apesar do transplante não conferir a cura da doença renal crônica, o procedimento permite uma "maior liberdade aos pacientes".

"Diversos estudos demonstraram que o transplante renal está associado a melhores resultados quando comparado à diálise: menor morbidade, maior sobrevida e melhor qualidade de vida. Apesar do transplante renal não conferir a cura da doença renal crônica, ele permite uma maior liberdade aos pacientes, que em geral conseguem retornar para rotinas bem próximas ao que costumavam ter antes do tratamento dialítico".

Transplantes realizados

Conforme a Sesab, entre janeiro e julho deste ano foram realizados 587 transplantes na Bahia. Destes, 311 foram transplantes de córnea, 172 transplantes renais, 83 transplantes de médula e 21 transplantes hepáticos.

Por fim, a Sesab também informou que, no mesmo período, houveram 87 doações de múltiplos órgãos e 330 doações de córneas.

Resistência familiar

Um dos principais impeditivos para a realização de transplantes e para a diminuição da fila de espera é a resistência familiar em aprovar a doação de órgãos, em casos de familiares mortos.

De acordo com dados da Sesab, em 2022, as principais causas de recusa de doação de múltiplos órgãos foram: familiares não aceitarem aguardar o processo de captação (62), desejavam o corpo íntegro (51), e o fato da pessoa não ser doador em vida (45). Outros motivos destacados, foram a falta de consenso entre familiares (43), além de 37 casos em que a família foi contrária à doação.

"Infelizmente, esses fatores estão diretamente relacionados à falta de conhecimento. O Brasil tem o maior programa público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. Porém, nossos números ainda são bem inferiores ao que poderíamos ter, considerando nosso potencial de doadores", ressaltou o presidente da SBN.

Diante deste cenário, José Moura Neto ressaltou a necessidade de se investir em campanhas para conscientizar a população sobre as etapas da doação, a legislação, a atuação dos órgãos fiscalizadores e os benefícios que o receptor ganha ao transplantar.

"Essas campanhas precisam ser frequentes e com linguagem acessível. Além disso, a população precisa saber quem pode ser doador e o que fazer para se tornar um doador no Brasil. Esses pontos ainda são muito pouco abordados no nosso país. Em geral, o transplante é considerado o tratamento com os melhores resultados. Ele proporciona melhor qualidade de vida e maior sobrevida aos pacientes. Para que o transplante aconteça, é preciso haver doação. Doação é um ato de amor e uma forma de seguir ajudando o outro, mesmo após a morte", enfatizou o médico.

Já Marcos, que passou pelo transplante, defendeu que o número de pessoas doadoras de órgãos deve ser maior no Brasil. "O que falta para isso são políticas públicas e campanhas sobre a importância da doação, campanhas mais robustas para levar informação à população. Às vezes até o falecido ou não, que é doador, a família impede disso acontecer, seja por religião ou outros fatores. Por isso, defendo campanhas mais robustas, a exemplo das ações de doação de sangue", ressaltou.

Transplante de coração

Recentemente, com a notícia de que o apresentador Fausto Silva, precisará de um transplante de coração, se reforçou a atenção para o tema. Nos últimos dias, o Portal M! mostrou que na Bahia não há fila de espera para o órgão, porque o transplante não é realizado aqui há um ano e sete meses.

A reportagem, no entanto, questinou a Sesab sobre o motivo pelo qual a cirurgia deixou de ser realizada no Estado. Conforme a pasta, a realização do transplante foi paralisada por conta do reflexo da pandemia. "Houve uma mobilização para oferta de outros serviços. Caso algum paciente residente na Bahia necessite de transplante de coração, ele é inserido na fila nacional. O procedimento é realizado em outro estado, sendo custeado o deslocamento e estadia pela Secretaria da Saúde do Estado", informou em nota.

Ainda segundo a Sesab,  o serviço de transplante de coração está sendo retomado na Bahia. A previsão é que até outubro o Hospital Ana Nery volte a fazer o procedimento

Como se tornar um doador

A legislação brasileira não exige que um paciente registre em documentos ou cartórios a vontade de ser um doar órgãos. O mais importante, conforme o Sistema Nacional de Transplantes, é que o potencial doador avise sua família e amigos.

Um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil é a negativa familiar, já que cerca de metade das famílias entrevistadas negam a autorização para a retirada de órgãos e transplantes do potencial doador.



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