divulgação (Foto: Reprodução/Google Maps)
Movimento
Antimanicomial repudia declarações de Associação Psiquiátrica da Bahia
Núcleo divergiu de opiniões "antidemocráticas" de presidente
da APB relacionadas a projeto de lei que propõe atendimentos voltados para
saúde mental em todas unidades de saúde de Salvador
Um projeto de lei que estabelece políticas de atenção psicossocial para
tratar possíveis consequências da pandemia foi encaminhado pela Prefeitura de
Salvador à Câmara dos Vereadores nesta segunda-feira (10). Ele propõe que todos
os serviços voltados para a saúde mental ofereçam atendimento 24 horas em todas
as unidades de saúde, mantendo o tratamento recomendado nos Centros de Atenção
Psicossocial (Caps).
Diante disso, o presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia
(APB), Lucas Alves, afirmou, em entrevista ao portal Bahia Notícias, que
espera que a prefeitura "não recrie o modelo ‘Capscentrico’, em que
tudo fica concentrado no Caps”. Segundo ele, os ambulatórios seriam uma
modalidade de atendimento mais indicada para os pacientes com transtornos
mentais.
A declaração gerou uma repercussão negativa entre profissionais da
área e apoiadores do Movimento da Luta Antimanicomial. Uma nota de repúdio
publicada no último sábado (15) pelo Núcleo de Estudos pela Superação dos
Manicômios caracteriza as falas do representante da associação como
"antidemocráticas".
"A outrora combativa APB, que no passado pelejava junto com
movimentos sociais pela democratização da saúde e por avanços na Reforma
Sanitária, nos tempos de baixa densidade democrática que atravessamos, abriga
esse tipo de posicionamento que diverge das Reformas Sanitária e Psiquiátrica
ao se posicionar reacionariamente, com observações descabidas", diz o
texto.
A nota do núcleo diverge de Alves em relação à indicação de
ambulatórios, e afirma que, com isso, a APB traz "soluções já superadas de
modo técnico e democrático pela Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB)" e
"advoga em favor de uma lógica privatista, reducionista e
médico-centrada".
"Não é que a APB desconheça a RPB e a Rede de Atenção Psicosocial
(RAPS)/SUS, não se trata de ignorância genuína, mas de uma retórica que tenta
negar a existência de algo (direitos adquiridos e conquistados
democraticamente, no caso do modelo de assistência em saúde menta/psiquiatria
territorial e comunitário)", continua a carta.
Por fim, o núcleo ressalta a necessidade de "considerar no
tratamento a complexidade da saúde humana que faz com que ela deva ser pensada
de modo integral, o que não cabe em um único serviço ou mesmo no setor da
saúde". "Renovamos aqui o registro do sucesso e da eficácia do modelo
de atenção e cuidado do SUS e da RPB assim como o reconhecimento das falhas que
acontecem em serviços que existem em redes precárias ou quase
inexistentes", acrescenta.