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Alta de bactérias super-resistentes deixam
hospitais em alerta
Novo estudo mostra aumento de micro-organismos que não respondem a
antibióticos
Um novo estudo da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa
(Afip) detectou o aumento da presença de micro-organismos super-resistentes a
antibióticos em pacientes de hospitais brasileiros. De 71.064 amostras
coletadas nas unidades de saúde em 2023, 6,5% testaram positivo para as
bactérias pesquisadas.
Em 2022, quando foram avaliadas 58.065 culturas de vigilância, a
taxa de positividade foi de 6%, segundo o levantamento, apresentado nesta
semana no congresso da Associação para Diagnósticos e Medicina Laboratorial
(ADLM, na sigla em inglês), em Chicago.
A pesquisa também revelou uma mudança entre os micro-organismos
mais comuns. Em 2022, entre as amostras positivas, espécies do gênero
Klebsiella representaram 60,5%, seguidas por bactérias dos gêneros Enterococcus
(16%) e Acinetobacter (13,6%). Já em 2023, espécies de Klebsiella
corresponderam a 53,1% das amostras positivas. Em seguida, vieram Acinetobacter
(24,1%) e Enterococcus (10%). “O Acinetobacter baumannii não era o segundo
patógeno mais recorrente, ele era o quarto ou quinto”, afirma Jussimara
Monteiro, gerente do Núcleo de Apoio ao Serviço de Controle de Infecção
Hospitalar da Afip e líder do estudo. Em 2020, por exemplo, o gênero
correspondia a 4,3% das amostras com micro-organismos resistentes.
Segundo Monteiro, a mudança pode estar relacionada ao uso
indiscriminado de antibióticos durante a pandemia de covid-19, quando alguns
medicamentos, como a azitromicina, foram incorporados ao “kit covid” e
recomendados a pacientes independentemente da presença de infecção bacteriana.
Faltam, porém, mais estudos para corroborar essa hipótese.
Popularmente chamados de superbactérias, esses micro-organismos
são resistentes a três ou mais classes de antibióticos. Por isso, causam
infecções difíceis de serem controladas. Monteiro afirma, no entanto, que os
resultados não são motivo para alarde, pois não tratam da incidência de
infecções por superbactérias, e sim da colonização por esses micro-organismos
resistentes.
Em outras palavras, estão presentes no organismo de pacientes
dentro do ambiente hospitalar, mas não necessariamente causando quadro
infeccioso. É como se estivéssemos olhando para a base de um iceberg e não para
o cume, que seriam as infecções de fato, exemplifica a pesquisadora. Para ela,
o mapeamento feito nos hospitais brasileiros fornece dados para a cultura de
vigilância no País, que consiste em entender a dinâmica de colonização desses
micro-organismos e elaborar um conjunto de instruções a serem seguidas para
cortar o ciclo de reprodução. Com isso, é possível evitar que a colonização
evolua para infecções.
Entre as medidas cabíveis estão a coleta periódica de amostras
de pacientes em situação de risco e o isolamento daqueles com resultados
positivos para algum micro-organismo resistente. “Tem hospital que é porta
fechada, que só recebe paciente que vem de outros hospitais. Ele já faz uma
cultura de vigilância na hora em que o paciente entra, para saber se ele está
carregando alguma bactéria muito resistente”, afirma.
No Brasil, o projeto BR-Glass, do Ministério da Saúde, recebe as
informações sobre bactérias resistentes a antibióticos recolhidas pelos
hospitais.
Alerta da OMS
Nesta quinta, 1º, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um
comunicado sobre a situação de uma bactéria, a Klebsiella pneumoniae
hipervirulenta, assim chamada por ser mais agressiva do que outras. O documento
mapeia as regiões e países em que a bactéria foi encontrada. Dos 43 países que
forneceram informações para a OMS, 16 relataram a presença do micro-organismo –
o Brasil não está entre eles.