Divulgação (Foto: Reprodução/Freepik)
Confira o que se sabe até agora sobre o caso de cólera
confirmado em Salvador
Após 20 anos sem caso de infecção local, enfermidade voltou a
atingir a capital baiana
Um caso confirmado de cólera em Salvador causou alerta na população
baiana e em autoridades de saúde nacionais. Foi a primeira ocorrência com
contaminação local em quase 20 anos. E apesar de ter sido considerado
"isolado" pelo Ministério da Saúde, não significa que outros não
estejam ativos na cidade.
"Todas as vezes que a gente vê um caso de cólera, o fato de
ter sido encontrado um, não significa que exista somente esse. Ele pode ser o
resultado de já uns dez ou vinte que a gente não percebeu antes", alerta o
médico infectologista Adriano Silva de Oliveira.
A informação de uma incidência local de cólera no país foi divulgada
na última sexta-feira (19) pelo Ministério da Saúde e
aponta que um homem de 60 anos, morador da capital baiana e que trabalha em
Camaçari, na Região Metropolitana, teria contraído a doença sem ter viajado
para locais em surto ou tido contato com outro contaminado. Apesar do alerta, a
nota técnica divulgada pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente afirma
que o homem não tem a possibilidade de transmitir a doença desde o dia 10 de
abril. O período de transmissibilidade é de um a dez dias, mas no Brasil o
padrão é de 20 dias como forma de oferecer uma margem de segurança.
Mesmo assim, Adriano ressalta a necessidade de ficar atento,
visto que é uma doença extremamente transmissível. "É muito importante
manter a vigilância para ver se existem outros casos que contaminaram esse
indivíduo, que teriam levado ele a contrair a cólera", explica.
Esse foi o primeiro caso local de cólera em 18 anos no país. A
última vez que a doença foi identificada localmente foi no ano de 2005, com
cinco casos confirmados em Pernambuco. Desde então, apenas casos importados
foram registrados: um de Angola, notificado no Distrito Federal (2006); um com
origem na República Dominicana, diagnosticado em São Paulo (2011); um de
Moçambique, com registro Rio Grande do Sul (2016); e um da Índia, em um
paciente do Rio Grande do Norte (2018).
Em entrevista à Rádio Metropole nesta
quarta-feira (24), a diretora de Vigilância à Saúde da Secretaria Municipal
(SMS), Andréa Salvador, disse que um cruzamento de dados junto à pasta da saúde
em Camaçari está sendo feito com o objetivo de identificar a fonte de
contaminação do paciente. Em breve, o resultado da investigação deverá ser
divulgado.
O que é
a cólera
A cólera é uma doença bacteriana infecciosa intestinal aguda,
causada pela ação da bactéria Vibrio cholerae (sorogrupos O1 e O139). Ao
alojar-se nas paredes intestinais, ela descompensa o sódio presente no
organismo e pode provocar diarréias intensas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença
aprece geralmente em locais com superlotação e acesso inadequado à água limpa,
coleta de lixo e saneamento básico. Entre 21 mil e 143 mil pessoas morrem todos
os anos de cólera no mundo. Apesar do número, a maioria dos casos é considerada
leve e 75% das pessoas são assintomáticas. Outros sintomas da doença podem ser
dor abdominal e, nas formas severas, cãibras, desidratação e choque, além de
vômitos frequentes.
Segundo o infectologista Adriano Silva, ela se difere de outros
distúrbios intestinais devido à sua intensidade. “É um quadro infeccioso, que
se manifesta de uma forma, na maioria das vezes, muito mais intempestiva do que
as diarreias de natureza viral ou bacteriana. Apresentações assim tão intensas
sempre levam a gente à suspeita, mesmo fora de epidemias”, explica.
Prevenção
e vacinas
A forma de contágio ocorre por via fecal-oral, seja pela
ingestão de água ou alimentos contaminados, ou pela contaminação pessoa a
pessoa. Andréa Salvador ressalta que a principal forma de evitar é a prevenção,
que passa por uma boa higiene básica das mãos e dos alimentos consumidos. “Temos
que lavar as mãos antes dos preparos dos alimentos, antes de ingeri-los; após
usar o sanitário e após tocar em superfícies sujas. Temos que ter cuidado
porque a forma de infecção é boca-fezes. Se tivermos todas as bases de higiene,
não vamos nos contaminar. Os alimentos, principalmente os crus, precisam ser
higienizados antes de serem ingeridos”, explicou.
Além disso, uma nova versão simplificada de uma vacina oral
contra a cólera foi aprovada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O anúncio
foi feito também na sexta-feira (19) e servirá para países que estejam em
escassez do imunizante diante do aumento do número de casos. A versão
Euvichol-S é uma simplificação da Euvichol-S e vai permitir uma maior
produção da vacina em menor tempo. Apesar disso, o imunizante é indicado pela
OMS apenas para países que enfrentam cólera endêmica, além de populações em
situação de crise humanitária e com alto risco para cólera ou durante surtos da
doença.