
Divulgação (Foto: reprodução)
Hospital de São Paulo se recusa a colocar DIU
em paciente por questões religiosas
Paciente relata recusa do Hospital São Camilo em realizar
procedimento contraceptivo, alegando valores religiosos da instituição
Uma paciente relatou que, depois de realizar uma consulta, o
Hospital São Camilo, em São Paulo, se negou a realizar a colocação do
dispositivo intrauterino (DIU), um método contraceptivo de longo prazo e que é
totalmente reversível. Por meio de seu perfil no X (antigo Twitter), Leonor
Macedo falou sobre a recusa da instituição médica, que aconteceu na unidade da
Pompeia, bairro da zona oeste.
"Vocês acham que é fácil ser mulher? Fui a uma consulta no
Hospital São Camilo e a médica me informou que não pode colocar o DIU em
mulheres porque isso vai contra os valores religiosos da instituição",
afirmou ela.
Ela disse ainda que o Hospital São Camilo entrou em contato para
explicar que não realiza procedimentos contraceptivos em mulheres nem em
homens. Segundo Leonor, foi uma conversa respeitosa, no entanto, ela criticou a
postura do hospital.
Em uma das respostas aos seus comentários, uma internauta cita
que o marido também recebeu a informação de que o Hospital São Camilo não
realiza vasectomia. O próprio médico, no entanto, se ofereceu para realizar o
procedimento contraceptivo no seu consultório particular. A consulta também foi
realizada na unidade da Pompeia.
"O Hospital São Camilo disse que só coloca o DIU no caso de
endometriose grave, mas não como método contraceptivo. Explicou que é uma
instituição religiosa e que segue os preceitos da Igreja Católica e do
Vaticano", acrescentou Leonora.
Também por meio das redes sociais, o Hospital São Camilo SP
confirmou que, por diretrizes de uma instituição católica, não há realização de
procedimentos contraceptivos, seja em homens ou mulheres.
Em nota enviada na manhã desta quarta-feira, 24, a Rede de
Hospitais São Camilo - SP reforçou que, por ser uma instituição confessional
católica, tem como diretriz não realizar procedimentos contraceptivos.
"Tais procedimentos são realizados apenas em casos que envolvam riscos à
manutenção da vida."
Os pacientes que procuram pela Rede de Hospitais São Camilo - SP
e não estão com a saúde em risco são orientados a buscar na rede referenciada
do seu plano de saúde hospitais que tenham esse procedimento contratualizado.
Em nota, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do
Estado de São Paulo (SindHosp), que representa 51 mil serviços privados de
saúde, disse que acredita que, desde que o hospital não deixe o paciente correr
risco de vida e que o preceito de atendimento de emergência seja cumprido, as
instituições de saúde têm o direito de implantarem suas próprias políticas de
atendimento.
Procurado, o Ministério da Saúde não comentou o caso envolvendo
o Hospital São Camilo, apenas disse que o acesso aos métodos contraceptivos
pelo sistema de saúde é direito de todas as brasileiras. "Cabe à pasta
garantir a oferta de diversos métodos assim como informações, acolhimento e
orientação sobre planejamento familiar nos serviços vinculados ao Sistema Único
de Saúde (SUS)."
Hospital pode se recusar a colocar DIU ou outros métodos
contraceptivos por questões religiosas?
"Se não há risco para a integridade da saúde do paciente, o
hospital privado pode se negar a realizar o procedimento por preceitos
religiosos", afirma Mérces da Silva Nunes, mestre e doutora em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e especialista em
Direito Médico e Bioética pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de
São Paulo.
A situação muda quando a vida do paciente está em risco.
"Nesse caso, não há possibilidade de ser invocada, tanto pela instituição
como pelos profissionais de saúde, qualquer convicção religiosa com o propósito
de evitar a realização de um determinado procedimento. Isso seria inconcebível
e o caso seguiria para apuração de responsabilidade na esfera criminal",
disse a advogada.
Como paciente deve proceder caso o procedimento seja negado pelo
hospital por questão religiosa?
O paciente deverá procurar outro hospital credenciado no seu
plano de saúde para realizar o procedimento.