Divulgação (Foto: Reprodução/Instagram)
Diagnóstico tardio do TDAH pode servir de
gatilho para ansiedade, depressão e bipolaridade
Casos como o da cantora Claudia Leitte, diagnosticada aos 43
anos, tendem a desencadear complicações ao longo do tempo
A cantora Claudia Leitte revelou recentemente que foi
diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH),
após os 40 anos de idade. Caracterizado por sintomas de desatenção, inquietude
e impulsividade, o TDAH é comumente identificado ainda na infância, no entanto,
nos últimos anos, tem crescido o número de pessoas diagnosticadas de maneira
tardia, já na fase adulta.
De acordo com o psicólogo, psicoterapeuta e neuropsicólogo
Gustavo Caribé, o maior problema do diagnóstico tardio está ligado à
autoestima, do ponto de vista psicológico. Isso porque, conforme o
especialista, esse adulto pode julgar ser "incompetente" em
desempenhar algumas ações.
"Ele vê o colega estudando para fazer uma prova e tendo bom
desempenho e ele não consegue. Então, ele chega já na fase adulta com
autoestima detonada. Ele chega na fase adulta reconhecendo que é cheio de
limitações", explicou Caribé, que também é mestre e doutorando em Ciências
da Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de ser especialista em
Saúde Mental, Dependência Química e em Atenção Integral aos Usuários de
Substâncias Psicoativas.
Psicólogo, psicoterapeuta e neuropsicólogo Gustavo Caribé / Foto: Acervo Pessoal
Outra questão ligada ao TDAH é a predisposição para outras
doenças. "O TDAH não tratado está associado a dependência química,
transtornos de personalidade, transtorno de ansiedade, transtorno depressivo e
bipolaridade. Então, qual é a grande questão? Às vezes, o paciente chega para
mim, por exemplo, para tratar uso abusivo de álcool, dependência química. E a
gente descobre, fazendo uma avaliação do TDAH", pontuou.
Segundo o especialista, existem casos em que o paciente já
possuía o TDAH desde a infância, mas não tinha conhecimento, e ao tratar de uma
questão como a dependência de álcool, a condição é descoberta a partir de uma
avaliação neuropsicológica. Conforme Caribé, o principal problema se dá porque
a condição interfere na vida da pessoa em várias esferas, inclusive nos
relacionamentos.
"Em um relacionamento com uma pessoa com TDAH, se pode
achar que ela é desligada, desorganizada, que não lembra de datas comemorativas,
não cumpre com o que promete. Já no trabalho, perde prazos, falta, chega
atrasado. Na faculdade, tem problemas com trabalhos em grupos, porque não
entrega sua parte, entrega em cima. Na área doméstica, temos a desorganização,
quarto bagunçado, falta de planejamento. O aspecto da saúde vai interferir no
cuidado e planejamento, por exemplo, ir ao médico para fazer avaliações, fazer
os exames, acompanhar a saúde", enumera.
Outro campo em que a pessoa com TDAH pode ter dificuldades é na
condução de veículos. "Impulsividade, direção mais agressiva, faz passagem
perigosas", descreve o especialista.
Diagnóstico costuma ocorrer na infância
De acordo com o psicólogo, na grande maioria das vezes, o
diagnóstico ocorre na infância. No entanto, já na fase adulta, o paciente
costuma chegar ao consultório com transtorno de ansiedade, bipolaridade,
transtornos de personalidade, dependência química ou depressão. Mas, segundo
Caribé, é apenas durante o processo de tratamento que as características do
TDAH vão aparecendo.
"É um transtorno que surge e se desenvolve na infância. Ele
é caracterizado especificamente por uma deficiência ou uma disfunção no
controle da atenção, mas também de regular os impulsos. Tanto que ele é
caracterizado como déficit, transtorno de atenção,
hiperatividade/impulsividade", disse.
Caribé também defendeu a importância de não se confundir a
dificuldade de manter a atenção com TDAH. De acordo com o especialista, é comum
as pessoas que custam a se concentrar em algo acreditarem ter TDAH.
"Na verdade, prestar atenção, manter a atenção, se
concentrar, está mais relacionado a um treinamento do que apenas uma
dificuldade. Ou seja, a gente nasce com o repertório, o recurso cognitivo para
prestar atenção, só que a gente precisa treinar a manutenção disso",
orientou.
Já quando há um diagnóstico tardio, o psicólogo diz que é
realizada toda uma investigação, para conferir a existência de outro
transtorno, decorrente do TDAH.
"O trabalho terapêutico é feito em parceria com a
psiquiatria, justamente para diminuir os sintomas do transtorno. E na
psicoterapia, trabalhar questões relacionadas à autoestima, mas também os
aspectos psicológicos e de reabilitação para esse funcionamento cognitivo do
adulto com TDAH".
A partir do diagnóstico, Caribé contou que os resultados são
efetivos, sobretudo porque os pacientes começam a responder corretamente às
dinâmicas da vida, bem como às exigências do dia a dia. "E aí a autoestima
começa a melhorar. E melhorando a autoestima ele começa a se regular mais, a
ficar mais sistemático e começa a ter êxito nas tarefas".
Ainda segundo Gustavo Caribé, os medicamentos utilizados para
tratamento do TDAH têm como alvo os transtornos que podem ocorrer em função do
transtorno. No entanto, em alguns casos, pode ocorrer o uso da cetamina, que
acelera o funcionamento cerebral.
"Esse
medicamento só tem uma função quando o paciente precisa se concentrar, ter foco
na execução de tarefas. Para além disso, no dia a dia, ele pode ser utilizado
para evitar acidentes, porque é muito comum o TDAH do tipo desatento sofrer
acidente. Então, para esse caso, os medicamentos psicostimulantes do tratamento
TDAH são interessantíssimos", completou.