Divulgação (Foto: Câmara dos Deputados)
MPE pede
investigação do deputado Pastor Sargento Isidório por falas transfóbicas
Deputado poderá ser denunciado pelo crime de violência política
de gênero contra a colega de Casa, Erika Hilton (PSOL-SP)
O Ministério Público Eleitoral encaminhou, nesta segunda-feira
(25), um ofício à Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo que o deputado
federal Pastor Isidorio (Avante-BA) seja investigado pelo crime de violência
política de gênero contra a colega de Casa, Erika Hilton (PSOL-SP), devido a
falas de tom transfóbico proferidas na Câmara na terça-feira passada (19).
"Homem nasce como homem, com 'binga', portanto, com
'pinto', com pênis, mulher nasce com sua cocota, sua 'tcheca', portanto, sua
vagina. Mesmo com as suas fantasias, homem, mesmo cortando a 'binga', não vai
ser mulher. Mulher, tapando a cocota, se for possível, não será homem",
afirmou Isidório.
De acordo com a representação que Hilton apresentou ao MP, o
deputado se referiu a ela usando o pronome masculino. A deputada é uma mulher
trans, e o gesto de Isidório é considerado uma grave ofensa às pessoas da
comunidade LGBTQIA+.
Na ocasião, a Comissão de Previdência, Assistência Social,
Infância, Adolescência e Família debatia um Projeto de Lei que pretende vetar o
casamento homoafetivo. Hoje, ele é permitido por um entendimento
jurisprudencial, consolidado pelo STF em 2011, e regulamentado
administrativamente em todos os cartórios de registro civil do país. O
casamento homoafetivo não está previsto na lei, mas é um consenso na
jurisprudência das Cortes nacionais por causa do entendimento do STF.
A sessão teve vários embates entre parlamentares progressistas e
conservadores - contrários ao casamento de pessoas do mesmo gênero. A base do
governo conseguiu adiar a votação e a sessão foi encerrada devido aos conflitos
entre os deputados.
O projeto em discussão resgata uma proposta apresentada em 2007
pelo então deputado Clodovil Hernandez, já falecido. Parlamentares
conservadores ressuscitaram o texto, mudando o objetivo da proposta para
proibir, ao invés de legalizar, o casamento entre pessoas do mesmo gênero.
Na terça passada, Isidório também usou argumentos religiosos
para fundamentar a sua posição. "Deus criou naturalmente homem e mulher.
Não adianta, pode botar dois homens em uma ilha, duas mulheres na próxima ilha,
que você chegando lá vai encontrar a mesma coisa. Coloque-se homem e mulher
numa ilha separada que, ao chegar, vai encontrar a procriação, vai encontrar a
família. Então homem com homem não procria, essa é a nossa constituição",
disse o parlamentar na última terça.
De acordo com o ofício enviado à PGR, ao qual o Estadão teve
acesso, o foro para investigar eventuais crimes cometidos por parlamentares do
Legislativo Federal é o Supremo, por isso a investigação foi encaminhada para a
PGR. O crime de violência política de gênero tem como pena um a quatro anos de
reclusão e multa.
A reportagem entrou em contato com o deputado Pastor Isidório
através do seu gabinete e também por e-mail, mas não houve retorno até a
publicação da reportagem.
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