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O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma ter certeza de que deve
ser alvo de inquéritos que teriam como objetivo levá-lo à prisão caso não seja
reeleito. Ele acredita também que seus filhos podem se tornar alvos mais fáceis
de investigadores caso deixe a Presidência da República.
De
acordo com a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, Bolsonaro tem
repetido a fala a diversos interlocutores em Brasília, inclusive de seu próprio
governo. Com dificuldade de se recuperar nas pesquisas eleitorais, a hipótese
estaria deixando o presidente cada vez mais inquieto e, de acordo com alguns
interlocutores, "transtornado" em alguns momentos.
Segundo
políticos e autoridades que não integram o governo, mas que conversaram com ele
nos últimos dias, Bolsonaro tem dito que reagirá —e que não será preso com
facilidade. Segundo os mesmos relatos, ele tem demonstrado nervosismo e
repetido frases semelhantes à que disse em um discurso no dia 7 de setembro do
ano passado, em um ato na avenida Paulista, em São Paulo: "Nunca serei
preso".
Na
mesma ocasião, ele afirmou que poderia sair do Palácio "preso, morto ou
com vitória". A primeira hipótese estaria descartada. Nas conversas em
Brasília, ele também teria dito, na mesma linha do discurso em São Paulo, que
pode haver "morte" caso tentem prendê-lo.
Dois
ministros do governo afirmaram que já ouviram Bolsonaro falar sobre a
possibilidade de ser detido em mais de uma ocasião. O tom, no entanto, não
seria de nervosismo, mas, sim, de mera constatação sobre uma suposta
perseguição que ele poderia sofrer se perdesse o mandato.
Segundo
o mesmo ministro, Bolsonaro afirma que "estão loucos" para que isso
aconteça, mas ele saberia contornar a situação por não ser "ingênuo"
como seus antecessores —Lula (PT) e Michel Temer (MDB) foram presos depois de deixarem
o mandato de presidente.
O
petista chegou a ficar 580 dias na prisão. Já o emedebista, conduzido duas
vezes às celas, foi solto sempre em menos de dez dias. Um segundo ministro
afirmou à coluna que o mandatário sempre repete que "vão querer montar
alguma coisa para me prender", mas que a investida não terá sucesso, já
que ele não teria cometido crime algum.
Caso
seja derrotado e deixe a Presidência, ele poderá ser julgado pela Justiça
comum, o que eleva as possibilidades de responsabilização penal. O presidente é
alvo de centenas de denúncias, em especial por sua conduta durante a epidemia
da Covid-19 e pelos ataques ao sistema eleitoral.
A
possibilidade explicaria em parte a intensidade dos ataques de Bolsonaro ao
Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em
conversas com outras autoridades, o ministro da Economia, Paulo Guedes, por
exemplo, já citou a "psicologia do desespero" para contextualizar as
atitudes do presidente.
Por
ela, Bolsonaro se sentiria acuado e esticaria a corda como forma de autodefesa.
Isso levaria a reações da Justiça, numa escalada sem limites. Ministros do
governo dizem acreditar que um acordo com os demais poderes poderá esfriar os
ânimos, contribuindo para que as eleições no Brasil transcorram de forma
tranquila.