Bolsonaro faz
novo ataque ao STF, e Moraes fala em luta contra os antidemocráticos
O
presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a desferir ataques contra o Poder
Judiciário na tarde desta quinta-feira (19). Em evento no Rio de Janeiro, ele
afirmou que o STF (Supremo Tribunal Federal) tem interferido em sua atuação na
Presidência.
"Mais da metade do meu tempo passo me defendendo de
interferências indevidas do Supremo Tribunal Federal", disse.
Nas últimas semanas, o presidente fez diversas insinuações
golpistas em relação ao sistema eleitoral brasileiro, enquanto ministros do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) e do Supremo deram respostas duras às ilações do
chefe do Executivo.
Nesta quinta, Bolsonaro também afirmou que as Forças Armadas
foram convidadas a participar do processo eleitoral e que suas observações
"não vão ser jogadas no lixo".
No ano passado, as Forças Armadas foram convidadas pelo então
presidente do TSE, o ministro do STF Luís Roberto Barroso, para participar da
CTE (Comissão de Transparência das Eleições).
No início de maio, porém, o TSE informou que rejeitou novas
sugestões das Forças sobre o processo eleitoral de 2022.
O tribunal negou de forma assertiva 3 das 7 sugestões dos
militares e disse que o restante já está em prática, ou seja, que não há o que
mudar.
Bolsonaro foi ao Rio de Janeiro participar do Congresso Mercado
Global de Carbono, no Jardim Botânico, zona sul da cidade. Ele esteve
acompanhado dos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Joaquim Leite (Meio
Ambiente) e dos ex-ministros general Braga Netto (Defesa) e general Eduardo
Pazuello (Saúde).
Em sua fala, ele também voltou a afirmar que o voto tem que ser
contado publicamente e auditado —o que, na verdade, já ocorre. Ao final da
votação, cada urna imprime um comprovante com o total de votos nela
registrados, os chamados boletins de urna. Esse documento é colado na porta da
seção eleitoral para conferência dos eleitores.
"Não serão duas ou três pessoas que vão bater no peito [e
dizer]: 'eu mando, vai ser assim e quem agir diferente eu vou caçar o registro
e prender'. Isso não é democracia", afirmou Bolsonaro.
Também nesta quinta, o ministro Alexandre de Moraes, do STF e do
TSE, disse que a Justiça Eleitoral nasceu e segue com "vontade de
concretizar a democracia e coragem para lutar contra aqueles que não acreditam
no Estado Democrático de Direito".
A declaração foi feita na abertura das celebrações de 90 anos da
Justiça Eleitoral, no TSE.
No discurso, Moraes não citou ataques promovidos por Bolsonaro e
seus apoiadores ao sistema eleitoral.
Nas últimas semanas, ministros da corte eleitoral têm reagido a
insinuações golpistas do presidente.
No último dia 12, o presidente do TSE, Edson Fachin, disse que a
eleição é um assunto civil e de "forças desarmadas". Já no evento
desta quinta, Fachin fez um discurso protocolar e sem recados ao governo Bolsonaro.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também voltou
a defender o Judiciário, alvo dos ataques e ações do presidente Bolsonaro.
Ao participar de evento do Conselho da Justiça Federal, o
senador mineiro declarou que o compromisso com a democracia "não se faz
sem o absoluto respeito ao Poder Judiciário".
"Sempre quero deixar claro o nosso compromisso com a
democracia, com o Estado de Direito. E esse compromisso, definitivamente, não
se faz sem o absoluto respeito ao Poder Judiciário, e é o que aqui eu gostaria
de externar", afirmou o presidente do Senado, de improviso, após terminar
o seu discurso.
Na quarta (18), Bolsonaro apresentou à PGR (Procuradoria-Geral
da República) uma representação contra o ministro Alexandre de Moraes. A ação é
similar à que foi protocolada no Supremo na terça e rejeitada no dia seguinte
pelo ministro Dias Toffoli.
Com a nova investida, Bolsonaro obrigará o órgão comandado pelo
procurador-geral da República, Augusto Aras, a se manifestar sobre o assunto. A
PGR não foi consultada previamente por Toffoli sobre as alegações do presidente.
A iniciativa do chefe do Executivo representa mais uma ofensiva
contra a cúpula do Judiciário. Moraes é relator de inquéritos que têm como alvo
o mandatário e seus aliados.
Bolsonaro afirma que o magistrado tem realizado ataques à
democracia e desrespeitado direitos e garantias fundamentais previstas na
Constituição.
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Colaboraram Mateus Vargas e Renato Machado, de Brasília