divulgação (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
Bolsonaro se une
a PSDB e União Brasil nos estados e empareda terceira via
A
adesão informal de candidatos da centro-direita a Jair Bolsonaro (PL), que
marcou a reta final do pleito de 2018, começa a ganhar novo fôlego em 2022,
faltando cinco meses para as eleições.
Em busca de palanques fortes que ancorem sua candidatura à
reeleição em outubro, Bolsonaro iniciou um movimento de aproximação com
pré-candidatos a governador de PSDB e União Brasil em seis estados e já recebeu
apoio público em quatro deles.
A iniciativa do presidente empareda os partidos que
nacionalmente tentam construir uma terceira via e amplia o isolamento das
possíveis candidaturas de Luciano Bivar (União Brasil), João Doria (PSDB) e
Simone Tebet (MDB).
O apoio a Bolsonaro já foi selado em Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Amazonas e Rondônia. Também há movimentos de aproximação no Ceará e na
Paraíba.
Aliados de Bolsonaro afirmam que o presidente tentará ampliar
seus palanques para além da sua coligação formal. E avaliam que o recente
respiro dele nas pesquisas e a força da máquina federal tendem a atrair
candidatos da centro-direita nos estados.
As parcerias avançam a despeito do histórico de atritos entre
Bolsonaro e governadores que ganhou força na pandemia, quando o presidente
abriu guerra contra medidas sanitárias contra a Covid-19 e foi alvo de críticas
de parte dos gestores estaduais.
Foi o que aconteceu em Mato Grosso, estado que tem economia
ancorada no agronegócio e tem forte viés antipetista. O governador e candidato
à reeleição Mauro Mendes (União Brasil), que havia se afastado Bolsonaro na
pandemia, agora anunciou apoio ao presidente.
A aliança foi selada há duas semanas após uma visita de
Bolsonaro a Mato Grosso. Em entrevista à rádio Metrópole FM de Cuiabá, o
presidente confirmou que apoiará a reeleição do governador.
"Não tem atrito entre nós, estamos em paz. Mato Grosso é um
estado importantíssimo para o Brasil, e harmonia entre eu e o Mauro Mendes
interessa não só para Mato Grosso, mas para todo mundo. Então, estamos fechados
e vamos tocar o barco aí", afirmou.
Para selar a parceria, o presidente pediu que aliados locais
como o deputado federal José Medeiros (PL) e ao pastor Victório Galli (PTB)
baixassem a temperatura nas críticas ao governador.
Medeiros, que é um dos mais fiéis aliados de Bolsonaro no
estado, diz que não vai criar obstáculos para a aliança: "Eu,
pessoalmente, não tenho condições de caminhar com governador. Mas não serei um
empecilho para a aliança. Voto não se joga fora."
O acordo faz de Mauro Mendes favorito à reeleição, já que o
governador não terá adversários competitivos no campo da direita e aliados do
ex-presidente Lula seguem sem um nome para a disputa.
O cenário é semelhante em Mato Grosso do Sul, onde o
ex-secretário Eduardo Riedel (PSDB) será candidato à sucessão do governador
tucano Reinaldo Azambuja em uma aliança com PP e PL.
Mesmo com a pré-candidatura ao Planalto do tucano João Doria,
ex-governador de São Paulo, Riedel afirmou que está "fechado com
Bolsonaro".
"Estou em um partido que até hoje não decidiu se tem
[candidato à] presidente ou não tem. [...] Entre os projetos que aí estão, eu
coloco claramente minha posição pelo presidente Bolsonaro", disse Riedel
há duas semanas em entrevista à imprensa local.
Pré-candidata ao Senado na chapa de Reidel, a ex-ministra da
Agricultura Tereza Cristina (PP) deve atuar como ponte para consolidar o apoio
do presidente ao tucano.
O movimento isola o deputado estadual Capitão Contar, que ensaia
concorrer ao governo de Mato Grosso do Sul representando o bolsonarismo raiz.
Ele chegou a se filiar ao PL, mas acabou migrando para o PRTB após se ver sem
espaço para uma candidatura majoritária no partido.
Outro tucano que iniciou um movimento de aproximação com o
presidente é o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), pré-candidato ao governo da
Paraíba. Na última quinta-feira (5), ele prestigiou Bolsonaro em uma solenidade
na cidade de Itatuba (110 km de João Pessoa).
Uma possível aliança, contudo, demandaria negociações em âmbito
local, já que os bolosnaristas lançaram o radialista Nilvan Ferreira (PL) como
pré-candidato a governador. Procurado, Cunha Lima não respondeu aos contatos da
reportagem.
No Amazonas, o governador Wilson Lima (União Brasil) também
anunciou neste mês que vai endossar a candidatura à reeleição de Bolsonaro e
negocia o apoio exclusivo do presidente.
O endosso acontece em um momento de tensão entre Bolsonaro e o
governo do Amazonas em torno de um decreto do governo federal que altera a
tributação e reduz a competividade das indústrias de bebidas não alcoólicas da
Zona Franca de Manaus.
O governador tenta reverter a decisão em Brasília, mas tem
evitado críticas diretas ao presidente.
Caso a aliança se consolide, Lima deve ter Coronel Menezes (PL),
ex-superintendente da Zona Franca de Manaus e amigo de Bolsonaro, como
candidato ao Senado. Bolsonaro trabalha para derrotar o senador e candidato à
reeleição Omar Aziz (PSD), que presidiu CPI da Covid.
"É como o presidente fala: tem a fase do namoro, do noivado
e do casamento. Estamos entrando na fase do noivado", afirma Menezes sobre
a provável aliança entre Bolsonaro e Wilson Lima.
Rondônia é outro estado em que a União Brasil estará com
Bolsonaro. Eleito governador em 2018 pelo PSL, Marcos Rocha permaneceu no
partido após a fusão e mantém apoio ao presidente.
Ele deve dividir as atenções do presidente com o senador Marcos
Rogério (PL), líder de tropa de choque de Bolsonaro na CPI da Covid e também pré-candidato
ao governo.
Outro possível aliado é pré-candidato ao Governo do Ceará,
deputado federal Capitão Wagner (União Brasil). Ele tem afirmado diz que
trabalhará por um palanque amplo e aberto a outros presidenciáveis apoiados por
aliados.
Mesmo sem cravar o apoio a Bolsonaro, o deputado já recebeu uma
sinalização de apoio em agosto do ano passado, quando o presidente visitou o
estado: "Tenho certeza que, assim como o Brasil tem um capitão, o Ceará
terá brevemente um capitão também".
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), iniciou um
movimento de reaproximação. Mas enfrenta desgaste entre as alas mais radicais
do bolsonarismo após ter rompido com o presidente em meio a divergência sobre o
enfrentamento à pandemia.
Dias atrás Caiado participou de um ato com Bolsonaro em Goiás e
foi vaiado. Na última quarta-feira (4), o presidente comentou sobre a situação
com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada: "Eu não tenho culpa disso
não, tá? Ele colhe o que ele planta. Político colhe o que ele planta".
Para o secretário-geral da União Brasil, ACM Neto, a aproximação
com Bolsonaro em alguns estados não é uma surpresa, já que cada diretório tem
liberdade para adotar a estratégia seja mais adequada. Ele nega que haja um
movimento coordenado dentro do partido para apoiar o presidente.
"O que eu posso assegurar que não existe nenhum tipo de
orientação partidária nacional de aproximação nem de distanciamento com
ninguém. [...] Essa não é uma tendência ou uma articulação nacional. O que existe
é liberdade total para cada estado seguir o seu caminho", diz, o
ex-prefeito de Salvador.
Pré-candidato ao governo da Bahia, ACM Neto diz que manterá o
seu palanque aberto e deve permanecer neutro na eleição nacional, mesmo com a
possível candidatura de Luciano Bivar.
Procurado, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, preferiu
não comentar sobre a adesão de tucanos à candidatura de Bolsonaro.