divulgação (Foto: Reprodução)
Diante de impasse na CPI da Coelba, deputado recorre a audiência pública
para pressionar parlamentares
Assembleia Legislativa da Bahia não tem tradição de investigações. Em
toda história, apenas quatro CPIs vingaram e, ainda assim, sem grandes
resultados
Morosidade. Essa é a palavra que vem sendo usada para definir a atuação
parlamentar na instalação de uma CPI da Coelba na Assembleia Legislativa da
Bahia. Enquanto a companhia elétrica lidera o número de queixas no Procon e
registra cerca de oito quedas no fornecimento de luz por dia, os deputados
lutam há cerca de quatro meses para decidir quem ficará à frente da
investigação.
Diante do impasse, o deputado Tum (PSC), responsável pelo requerimento
para instalar a comissão, anunciou uma “campanha paralela”: o próximo passo
será a convocação de uma audiência pública na AL-BA. Ainda sem data confirmada
(incialmente estava prevista para o dia 8 de março), a intenção é que no evento
estejam a União dos Municípios da Bahia (UPB), o Ministério Público Estadual, a
Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), senadores, deputados, além da própria
Coelba, para pressionar o trâmite da apuração.
O motivo, segundo a assessoria do deputado, é fugir do imbróglio entre
líderes do governo e da oposição para definir a composição do colegiado. A
informação, envolta em ameaças, é de que alguns colegas parlamentares têm
interesses particulares junto à Coelba, o que trava ainda mais a instauração da
CPI.
Antes mesmo de a investigação ser aprovada na Procuradoria-Geral do
Legislativo, Tum afirmou que a cúpula da Coelba chegou a assediar parlamentares
para uma reunião a “portas fechadas”, na própria Assembleia Legislativa. Após
repercussão na imprensa, o encontro teria sido cancelado.
Apesar de a companhia elétrica negar as acusações desde o início, o
gabinete de Tum diz que “tem deputado fazendo jogo de interesse” com a empresa
e que, se precisar, “o que tem acontecido” será divulgado para a imprensa e
sociedade. O deputado e a assessoria não quiseram dar mais detalhes à
reportagem sobre este ponto em específico.
A falta de eficiência investigativa não é tão estranha ao costume da
AL-BA. Um levantamento feito pelo Jornal da Metropole mostra que, em toda
história moderna da Casa, apenas quatro comissões tiveram algum tipo de
andamento. A luta da CPI da Coelba ainda é contra o engavetamento.
Ao JM, o presidente da Casa, Adolfo Menezes, diz que essa é uma cultura
de todo o país, e não só da Assembleia Legislativa. “Estamos falando da
Assembleia, que é importante, mas imagina o Senado… Você vê quantos meses a CPI
da Covid ficou lá, sendo televisionada todo dia, e até hoje não deu em nada.
Infelizmente é o Brasil”, afirma.
Em relação ao caso específico da CPI da Coelba, o deputado diz que “fez
sua parte”, e responsabiliza os líderes por “não conseguirem se decidir”.
“A mim, como presidente, quando recebi as assinaturas mínimas
necessárias, conforme regimento, chegou na presidência e mandei para o
departamento jurídico analisar se tem motivo ou não. O jurídico disse que sim,
então autorizei. Agora cabe aos líderes [nomearem o colegiado], que não estão
conseguindo chegar a um acordo, então eu não tenho o que fazer”.
Entraves
O requerimento para a CPI, que obteve 39 assinaturas (18 mais do que
mínimo necessário), teve parecer favorável da Procuradoria-Geral da AL-BA no
dia 18 de novembro e, em tese, a investigação seria instalada na semana
seguinte. Mas uma série de confusões impediu seu andamento.
De acordo com o regimento interno, o colegiado será composto por oito
membros titulares e quatro suplentes, mas há um impasse em torno da disputa
pela presidência, vice-presidência e relatoria da comissão. A oposição deseja
ter pelo menos um nome na presidência ou na relatoria, mas a bancada do governo
reivindica os cargos.
O bloco governista, em dezembro, tentou emplacar a presidência e
relatoria do colegiado, inclusive já anunciando como presidente o deputado
Vitor Bonfim. A bancada de oposição respondeu com a decisão de retirar as
assinaturas de apoio à abertura da CPI, afirmando que os líderes do governo
pretendiam “atropelá-la” e fazer uma “investigação chapa branca”.
Assim o assunto ficou para depois do recesso parlamentar. O acordado
entre a presidência da casa e os líderes — Sandro Régis (UNIÃO), da oposição, e
Rosemberg Pinto (PT), do governo — é que em março entrariam em consenso e
dariam início às investigações. Mas isso não parece perto de acontecer.
“Eu não entendo como uma Casa como a Assembleia Legislativa se negue a
fazer o óbvio, que é apurar o que a Coelba está fazendo”, diz Tum.
Empresa lidera reclamações no Procon
Pouco depois do recolhimento de assinaturas para a CPI da Coelba, uma
informação deu força ao pedido. Cobranças indevidas e serviços não fornecidos
foram os pontos que colocaram a companhia de eletricidade como a empresa que
mais motivou clientes a prestar queixa no Procon, em 2021.
Ao todo, foram 1.060 registros que reivindicaram a cobrança injusta e
outros 102 que denunciaram que a Coelba deixou de fornecer o principal: energia
elétrica.
Exemplos não faltam. Ainda em novembro, moradores da Barra, em Salvador,
relataram ao Jornal da Metropole que alguns pontos do bairro ficaram sem luz da
madrugada do dia 14 até o período da manhã. No dia 30, o Ministério Público da
Bahia ajuizou uma ação civil pública contra a Neoenergia Coelba e a Secretaria
Municipal de Ordem Pública (Semop) para que eles solucionassem as demandas.
Já em fevereiro deste ano, moradores de Lençóis, na Chapada Diamantina,
ficaram mais de 15 horas sem luz e sem sinal. A Coelba informou que “uma falha
em componente da rede elétrica” provocou queda de energia em outros dois
municípios da região: Andaraí e Iraquara. Na mesma época, houve uma explosão na
Subestação da empresa no bairro da Federação, que causou queda de energia no
próprio bairro e também no Garcia, Horto Florestal, Rio Vermelho e Brotas. A TV
Band Bahia também ficou fora do ar.
Outro Lado
Procurado, o grupo Neoenergia afirmou que não recebeu notificação sobre
a realização de audiência pública até o momento, mas disse estar à disposição
para participar de “debates construtivos”.
No que se refere a conversas com parlamentares, a concessionária afirma
que o diálogo “faz parte das atividades cotidianas da empresa e são inerentes
ao serviço público que presta’’.