divulgação (Foto: Reprodução / Flickr Ministério da Justiça)
Moro critica
chapa Lula-Alckmin e diz que a cada eleição 'são sempre as mesmas coisas'
Em
evento de filiação do deputado Arthur do Val ao Podemos, o ex-juiz Sergio Moro
(Podemos) criticou a aproximação entre o ex-governador Geraldo Alckmin (sem
partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pregando o caminho
da terceira via, também afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) enganou a
população.
Arthur
do Val, membro do MBL (Movimento Brasil Livre), deve concorrer ao Governo de
São Paulo pelo Podemos.
"A
gente precisa ter uma cara nova. Alguém jovem, mas maduro para dar um novo rumo
para o estado. Não é possível que a cada quatro anos nós tenhamos sempre as
mesmas coisas. Quando a gente vai ver no fundo, como hoje tem esse movimento do
ex-governador Alckmin em direção do PT, será que é tão diferente assim? Então a
gente precisa ter realmente uma cara nova", discursou Moro.
"Está
na hora de acabar com essa história de a cada quatro anos ficar pensando entre
PSDB e PT. Agora a gente está vendo que o PT está ameaçando voltar para São
Paulo, não é só no país que isso é um risco", completou.
O
evento de filiação de Arthur ocorreu em um teatro na capital paulista. Apesar
de ter prometido divulgar, na sexta (28), seus ganhos atuando em consultoria
nos EUA, o presidenciável do Podemos ignorou o tema em sua fala. Mais cedo, à
coluna Painel, o ex-juiz disse que ganhou da consultoria Alvarez & Marsal
valores "muito distantes" dos milhões de reais que são especulados.
A
remuneração de Moro na Alvarez & Marsal é alvo de investigação no TCU
(Tribunal de Contas da União) por suspeita de conflito de interesses --a
consultoria foi nomeada judicialmente para atuar na recuperação judicial de
empresas alvo da Lava Jato. O PT cogitou propor uma CPI sobre o tema.
Ao
falar com a imprensa após o evento, Moro afirmou que as suspeitas são fantasias
e mentiras.
Ele
disse ainda que escolheu prestar contas em suas redes sociais para não ceder ao
que considera um abuso do TCU.
"Quem
não deve não teme, meus rendimentos são todos lícitos, normais. Eu não queria
ceder ao abuso. Eu não vou apresentar ao TCU, porque está abusando do poder, o
processo é ilegal, mas vou apresentar para todas as pessoas nas minhas redes sociais",
disse.
"Eu
sempre combati a corrupção e sempre atuei com integridade. Como não tem o que
falar do meu trabalho, tem gente que fica fantasiando e mentindo. Porque o
pessoal tem medo, está vendo que o projeto está crescendo, com o Podemos, com o
MBL", afirmou à imprensa.
Ele
negou ter conhecido o dono da Alvarez & Marsal, Eduardo Seixas, antes de
trabalhar na empresa. "É um monte de fantasia", rebateu.
Também
negou rumores de que estaria de saída do Podemos ou de que haveria uma
debandada de filiados do partido em curso. "Só se for debandada para o
Podemos. Esse é o caminho pelo qual vamos arrebentar a polarização", disse.
Moro
afirmou trabalhar "por um país melhor, sem Lula e sem Bolsonaro".
"Começa a formação de uma terceira via, uma alternativa a essas propostas
extremas do país, com a união de um movimento e um partido político",
completou.
Em
seu discurso, o ex-juiz também mirou em Lula e Bolsonaro, seus principais
adversários eleitorais.
"Querem
que a gente esqueça que eles provocaram a maior recessão da história do
país", disse Moro a respeito do PT, lembrando do petrolão e do mensalão. A
respeito de Bolsonaro, afirmou que a população quer um presidente "que vai
defender a ciência e não vai negar os fatos".
Moro
afirmou que, enquanto juiz da Lava Jato, receber o apoio dos movimentos de rua,
como o MBL e o Vem Pra Rua, foi gratificante. "A gente sabia que era
aquilo que fazia a pauta anticorrupção avançar. [...] A Lava Jato é de vocês,
foi uma conquista da sociedade brasileira", disse.
Arthur
do Val afirmou que São Paulo é o estado que mais rejeita Lula e Bolsonaro.
"A terceira via nasce daqui", disse.
O
deputado discursou contra o pacto federativo, pregando que a arrecadação do
estado de São Paulo serve para sustentar outros estados.
Falando
a respeito do cenário estadual, em que as candidaturas do PSDB e do PT costumam
predominar, Arthur afirmou que os dois partidos se unem na Assembleia
Legislativa para aprovar projetos impopulares, como aumento de impostos.
Outros
nomes do MBL também se filiaram ao Podemos no evento -ou devem se filiar na
janela partidária, como o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e o deputado
estadual Heni Ozi Cukier (Novo-SP).
Como
mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o MBL vai oferecer ao Podemos um palanque
para Moro em São Paulo, com candidatos a deputado federal e estadual. Kim
concorrerá à reeleição, e Heni tentará uma vaga no Senado.
Kim
afirmou que o MBL é vítima de menosprezo dos inimigos e ridicularizou a
iniciativa do PT de propor uma CPI para investigar os ganhos de Moro na
iniciativa privada.
Presidente
do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP) agradeceu aos membros do MBL
pela filiação, chamando-os de "time de notáveis e idealistas".
O
evento reuniu mais de 350 pessoas no auditório, a maioria jovens, como costuma
ser o público do MBL. Não havia distanciamento entre os assentos, mas todos os
presentes usavam máscara. Moro foi aplaudido de pé.
Também
discursaram a ativista Adelaide Oliveira e o vereador Rubens Nunes, membros do
MBL que devem ser candidatos a deputado federal pelo Podemos. O palco teve
ainda a presença do general Carlos Alberto Santos Cruz (Podemos) e de André
Janones, presidenciável do Avante.
Renan
Santos, coordenador nacional do MBL, abriu o evento chamando a Lula e Bolsonaro
de "monstros" e "demônios". Segundo ele, Bolsonaro roubou
os sonhos e o legado dos movimentos de rua. A plateia reagiu chamando o
presidente de "vagabundo".
Janones
afirmou que é preciso acabar com a radicalização e com o discurso de ódio.
Depois de ser provocado por Abreu sobre uma futura filiação ao Podemos, disse
estar em um projeto nacional diferente, mas que tem o mesmo objetivo. "O
povo brasileiro não tem que escolher entre comer ou não ser roubado", completou.
Santos
Cruz, que foi ministro de Bolsonaro, assim como Moro, afirmou que "a
esperança se diluiu rapidamente" e que o presidente seguiu a
"cartilha do autoritarismo". Foi aplaudido ao dizer que as Forças
Armadas não devem participar do jogo político.
"O
Brasil não pode ficar preso na armadilha do populismo. [...] A regressão
institucional é a destruição da democracia e esse é o risco que estamos
correndo", afirmou a respeito da escolha entre Lula e Bolsonaro.
Nunes
afirmou que a aliança entre o MBL e o Podemos é necessária para "conter o
avanço do bolsopetismo".