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"Moro só prospera se Bolsonaro morrer politicamente", analisa
Wilson Gomes
Ao Portal M!, professor
da Ufba também fala sobre antibolsonarismo x antipetismo, união de Lula com
Alckmin e disputa pelo Governo da Bahia
Professor titular da Faculdade
de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Wilson Gomes conversou
com o Portal M! sobre a disputa eleitoral
pela Presidência da República em 2022. Entre os assuntos abordados estão o
antibolsonarismo x antipetismo e a provável união política entre o ex-presidente
Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (sem partido).
De acordo com o professor, o pré-candidato Sergio Moro (Podemos)
só tem possibilidade de prosperar se o atual presidente Jair Bolsonaro (PL)
morrer politicamente.
"O bolsonarista ou o antipetista estava procurando uma
alternativa a Bolsonaro, não uma alternativa a Lula e Bolsonaro. [...] Se Moro
vai se viabilizar, não sei. [...] Agora é questão de saber se ele cresce, essa
é uma coisa muito discutível", avaliou Wilson Gomes.
"[Moro] não pode crescer para a esquerda, no centro está
ocupado e tem que crescer para cima de Bolsonaro. O bolsonarismo é mais
consolidado que o morismo. Bolsonaro tem um apoio resiliente que caminhou com
ele e não vai caminhar para Moro", explicou.
Gomes complementa: "Vai depender de quanta besteira
Bolsonaro faça, denúncias contra os filhos, coisas desse tipo. Moro só prospera
se Bolsonaro politicamente morrer. Caso contrário, vai ficar ali tirando voto
de Bolsonaro".
De acordo com o professor, o antibolsonarismo está mais na moda
que o antipetismo.
"O antipetismo hoje dificilmente será a principal força
eleitoral, como foi em 2018. Lula neutraliza muito isso, sobretudo depois das
decisões do STF [Supremo Tribunal Federal] sobre Moro e sobre o julgamento de Lula,
considerado injusto. Lula recupera muito o prestígio", disse.
"O antibolsnarismo é provavelmente o elemento mais comum
que tem na sociedade brasileira. Por outro lado, isso reforça o bolsonarismo,
como o antipetismo reforçou o petismo em 2018. Não cresce, mas fica mais
compacto. O bolsonarismo fica mais compacto, mas o antibolsonarismo vai ser o
dialeto comum no Brasil em 2022", justificou.
Ainda sobre a eleição presidencial no Brasil em 2022, Wilson
Gomes diz que o debate anticorrupção não terá tanta força.
"Debate anticorrupção é o luxo que se dá quando as pessoas
não estão passando fome, quando essa pauta não está em causa. Esse tema não sei
como passou batido em 2018, já que a crise econômica se arrasta desde
2015", contou o professor.
"Por ter o Brasil decidido que a luta anticorrupão era mais
importante que educação e saúde em 2018, chegamos a esse ponto. Acho pouco
provável que essa pauta se mantenha. Moro vai se tornar aquele candidato de uma
pauta monotemática e regional, como foi Marina Silva com desenvolviemtno
sustentável e Cristóvão Buarque com educação fundamental. São importantes, mas
as pessoas sabem que não é o bastante. Não se constrói o país só com uma pauta
dessa", explicou.
"A loucura brasileira de achar que a política precisa ser punida
perpassou, mas de 2020 pra cá sabemos o quanto precisamos de política, e,
portanto, a fome vem antes da corrupção", complementou.
Lula e
Alckmin juntos
Wilson Gomes explicou que a provável união de Lula com o
ex-tucano Geraldo Alckmin como candidatos a presidente e a vice,
respectivamente, servirá para sinalizar uma candidatura pró-democracia.
"O papel de Alckmin na candidatura de Lula não é trazer
votos. Acho que serve para poder sinalizar um pouco o que seria o governo Lula,
uma frente de pessoas pró-democracia, apesar das diferenças enormes da visão de
mundo e perspectiva", disse.
O professor da Ufba complementa: "Essa sinalização é
importante, sobretudo para uma pessoa que não é lulista, petista, para um
antipetista light, de repensar seu voto diante das alternativas do morismo e do
bolsonarismo. Acho que a candidatura de Lula ganha, mas não ganha
necessariamente porque vai trazer um batalhão de votos. Pode neutralizar um
pouco os votos antipetistas em lugares extremamente antipetistas como São
Paulo".
Eleição
para o Governo da Bahia
O professor Wilson Gomes também comentou sobre a disputa
eleitoral pelo Governo do Estado em 2022. Em relação às primeiras pesquisas,
que colocam o pré-candidato ACM Neto (DEM/UB) à frente do senador Jaques Wagner
(PT), ele afirma: "Normal que Neto saísse na frente. É natural que pensem
no ex-prefeito de Salvador".
"O governo local, com o DEM na capital e o PT no estado, ambos
foram muito bem avaliados no desempenho, inclusive com um perfil semelhante do
sujeito que faz obras, focados em obras. Mesmo estilo de drenar todo orçamento
público e fazer obras. Não tem nenhum escândalo de corrupão, coisa do tipo, e
são obreiros, parecidos no perfil de gestor. Então, parece que as pessoas
gostaram desse perfil", explicou, sobre as semelhanças de Neto e o
governador Rui Costa (PT).
Wilson Gomes destaca, no entanto, que a Bahia não é Salvador.
"Vamos ver se ele [Neto] interioriza esse voto. O interior
da Bahia é capaz de neutralizar esse voto de Salvador para ACM Neto, vamos ver
como isso prossegue e tal. Além do fato que Neto tem um passivo aí, que é esse
bolsonarismo light que ele acabou adotando. O ex-governador [Jaques Wagner] tem
um ponto fraco, que é a crise do PT, acusações que pesam sobre ele".
O professor da Ufba pontua que Wagner deve ter um 'cabo
eleitoral' melhor que o ex-prefeito da capital baiana: Lula.
"Neto está há muito tempo esperando essa eleição. Se
preparou para essa disputa, que não é contra Rui. Não sei que planos, que
cartas ele tem na manga para jogar esse jogo estadual. Provavelmente Wagner vai
ter um melhor cabo eleitoral que Neto. Lula faz muito efeito na Bahia e até em
Salvador", explicou.
"Enquanto que o padrinho de Neto, seja Moro ou Bolsonaro,
realmente não é um cavalo que vai fazê-lo chegar longe. Ele próprio tem que
ser, vai ter uma tarefa mais díficil pela frente", reforçou.