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Câmara aprova MP que cria Auxílio Brasil com mecanismos para ampliar
programa
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (25) a proposta que
cria o Auxílio Brasil, programa social elaborado pelo presidente Jair Bolsonaro para substituir o Bolsa
Família, cuja marca é ligada a gestões petistas.
Por 344 votos a favor e nenhum contrário, o plenário da Casa deu aval à
versão apresentada pelo relator, deputado Marcelo Aro (PP-MG), que sugeriu
mudanças com potencial de ampliar o número de famílias atendidas pelo programa
e deve pressionar a verba do Auxílio Brasil já em 2022.
Agora a proposta segue para o Senado. Por ser uma MP (medida
provisória), o ato de Bolsonaro tem efeito imediato e já criou o Auxílio
Brasil. No entanto, o projeto precisa do aval das duas Casas do Congresso até 7
de dezembro para não perder a validade.
As mudanças no Auxílio Brasil aprovadas na Câmara devem elevar a
cobertura da transferência de renda à população mais vulnerável, pressionando a
verba do programa social se o governo conseguir garantir o montante de quase R$
86 bilhões para o próximo ano -valor estimado atualmente a ser previsto no
Orçamento de 2022.
Para valer em 2022, o Auxílio Brasil precisa estar totalmente
implementado neste ano para não ferir a lei eleitoral, que proíbe aumento de
gastos sociais em ano de eleições.
A base aliada do governo apoiou uma medida traçada pelo relator cujo
objetivo é impedir que haja fila de espera para ingressar no programa.
Hoje, por lei, o governo não é obrigado a atender todas as famílias que estão
dentro da faixa de pobreza e extrema pobreza.
A fila, que atualmente está em torno de 1,2 milhão de cadastros, se
forma porque a verba do Bolsa Família tem ficado menor que o necessário para
atender a todos que tiveram o cadastro analisado pelo governo.
A verba do Auxílio Brasil para 2022 considera que 17 milhões de famílias
serão atendidas -a cobertura hoje é de 14,7 milhões.
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do Auxílio Brasil
No entanto, além da fila que já se formou, houve um aumento no número de
famílias que se inscreveram na faixa de pobreza e extrema pobreza pelo Cadastro
Único (sistema para programas sociais), como relataram técnicos do governo ao
jornal Folha de S.Paulo em outubro diante do fim do auxílio emergencial.
Outra mudança no programa social na versão aprovada pela Câmara eleva as
faixas de pobreza e extrema pobreza (critérios de entrada de uma família no
programa social). Isso também abre margem para que mais pessoas se enquadrem na
transferência de renda.
No início de novembro, o governo atualizou esses critérios. Hoje, para
entrar no Bolsa Família, o Cadastro Único considera em extrema pobreza pessoas
com renda mensal de R$ 100 por membro da família.
Rendimentos entre R$ 100,01 e R$ 200 são classificados como situação de
pobreza.
O texto aprovado pela Câmara eleva essas faixas para R$ 105 por membro
da família (extrema pobreza) e R$ 210 (pobreza). Com isso, mais pessoas se
tornam aptas a receber a transferência de renda pelo Auxílio Brasil.
Segundo técnicos do Congresso, a elevação das faixas como critério de
acesso ao programa e a determinação de que não pode haver fila de espera irão
ampliar o Auxílio Brasil, pressionando a verba que será reservada para as
transferências de renda já em 2022.
A votação da MP que cria o substituto do Bolsa Família estava prevista
para terça (23), mas só ocorreu nesta quinta, pois o governo teve que articular
mudanças no relatório.
Numa versão preliminar, Aro queria prever uma correção automática do
valor da renda transferida mensalmente à população mais pobre do país. O
reajuste seria pelo INPC (índice de inflação com foco nas classes mais baixas).
Por pressão da equipe econômica, a maioria da Câmara não apoiou esse
item. O time do ministro Paulo Guedes (Economia) é contra medidas que impõem
aumento automático de despesas.
Líderes de partidos aliados ao Palácio do Planalto atenderam ao pedido
do governo e sinalizaram a Aro que o reajuste automático do benefício pago pelo
Auxílio Brasil encontra forte resistência na Câmara. Diante desse cenário, o
relator recuou
O texto aprovado pela Câmara também retirou a parte que permitia aos
beneficiários do programa social contratarem crédito consignado. A proposta era
do Ministério da Cidadania e previa que até 30% da renda fossem comprometidos.
Essa medida foi derrubada pelo relator após pressão da oposição.
O deputado também propôs que mais beneficiários do programa tenham
direito a um bônus em caso de ampliarem a renda familiar. O Ministério da
Cidadania quer pagar, por até dois anos, esse valor extra para beneficiários
que conseguirem emprego formal (com carteira assinada). Segundo o governo, é
uma forma de incentivar que as famílias não dependam mais da renda do programa
social.
Pela versão de Aro, o bônus deve ser pago mesmo a beneficiários que
atuarem como microempreendedor individual (MEI) e trabalhador autônomo.
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No entanto, a ideia do relator é que esse valor extra seja pago em títulos
do Tesouro Nacional. O valor acumulado poderia ser resgatado após sair do
programa social, perda de emprego ou fechamento da microempresa.
Além de aprovar a MP que cria o Auxílio Brasil, o governo precisa do
aval do Congresso para ampliar a margem de gastos no Orçamento e, com isso,
cumprir a promessa de Bolsonaro para elevar o benefício médio do programa do
patamar atual de R$ 220 por mês para, no mínimo, R$ 400.
A ampliação da margem de gastos se dará pela PEC (proposta de emenda à
Constituição) dos Precatórios, que está em análise no Senado. Com essa PEC,
será possível expandir o orçamento do programa para cerca de R$ 86 bilhões no
próximo ano, quando Bolsonaro pretende concorrer à reeleição.
As bases do Auxílio Brasil seguem o formato do Bolsa Família. Quem já
está no programa criado na gestão do PT será automaticamente transferido para a
versão de Bolsonaro.
O programa de Bolsonaro altera a forma de calcular o benefício de cada
família. Ao todo, serão nove tipos de benefícios que, ao final da conta, serão
reunidos no valor a ser recebido.
No entanto, a principal diferença entre o Auxílio Brasil e o Bolsa
Família é a intenção do governo de ampliar a verba para o programa.
De olho nas eleições de 2022, Bolsonaro foi aconselhado por aliados a
destinar mais recursos para essa área.
A popularidade dele subiu no auge do auxílio emergencial, mas agora
segue em queda -mesmo com o aumento do orçamento do Auxílio Brasil, o novo programa
ainda estará longe de alcançar a cobertura de famílias carentes que o auxílio
emergencial teve.