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Caso Marielle: deputados pedem vista e adiam
análise sobre prisão de Brazão
Com pedido de vista coletivo na CCJ da Câmara, decisão final
deverá ocorrer após dia 9 de abril
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da
Câmara dos Deputados adiou, nesta terça-feira (26), pelo prazo de duas sessões
do Plenário, a análise sobre a manutenção da prisão preventiva do deputado
Chiquinho Brazão (RJ). A decisão foi tomada após um pedido de vista coletivo.
As informações são da Agência Câmara de Notícias.
O deputado, que foi expulso do União Brasil, está preso desde o
último domingo (24), assim como o irmão Domingos Brazão e o ex-chefe da Polícia
Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, por decisão do ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão foi confirmada na
segunda-feira (25) pela primeira turma do tribunal.
Chiquinho Brazão é acusado de ser um dos mandantes do
assassinato da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, em
14 de março de 2018, no centro do Rio de Janeiro. Na época, Chiquinho Brazão
era vereador na capital fluminense.
Documentos inacessíveis
O deputado Gilson Marques (Novo-SC) foi o primeiro a pedir vista
do ofício (CMC 1/24) enviado pelo Supremo à Câmara, no qual Moraes comunica a
prisão do parlamentar em flagrante delito por crime de obstrução de Justiça em
organização criminosa.
"O relatório final da Polícia Federal tem 479 páginas, a
decisão do Alexandre de Moraes tem 41 páginas. E esses dois documentos
importantíssimos não estão no sistema para consulta dos deputados dessa
comissão", argumentou Marques.
O deputado Roberto Duarte (Republicanos-AC) também pediu vista
do ofício. "Trata-se de um crime hediondo, o que nós repudiamos. Agora,
não entendo por que do afogadilho de, neste primeiro momento, querer justificar
uma votação imediata sem se fazer uma análise da prisão preventiva",
disse.
Defesa a distância
Por videoconferência, Chiquinho Brazão disse que os debates que
manteve com a vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro não podem ser
utilizados como motivo para ligá-lo ao assassinato de Marielle. "Eu estava
ali lutando para aprovar o projeto de lei que regulamentava em um período de um
ano os condomínios irregulares", disse.
Atuação histórica
A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) rebateu os argumentos de
Brazão. "A prisão do deputado acusado de planejar a execução de Marielle
veio corroborada por diversos elementos, como a atuação histórica da família
Brazão com as milícias no Rio de Janeiro, a ligação com diferentes grupos
criminosos e o controle territorial de diferentes áreas da cidade",
afirmou. "Inclui também participação na obstrução da justiça e essa
obstrução se fez durante o mandato de deputado federal e não enquanto
vereador", acrescentou a deputada.
Ela fez menção ainda à suposta inclusão de testemunhas falsas no
processo e a queimas de arquivo. "Foram pelo menos cinco pessoas mortas
que eram fundamentais para obtenção de provas, para que nós não ficássemos seis
anos esperando uma resposta do Estado brasileiro diante de um crime que o
próprio Estado cometeu", criticou Talíria.
Legalidade da prisão
Na ocasião, o advogado de defesa de Brazão, Cleber Lopes de
Oliveira argumentou que não cabe ao colegiado analisar se o deputado é culpado
ou não, e sim a legalidade da prisão em caráter preventivo. "Ninguém pode
se alegrar com a morte da vereadora Marielle Franco, mas a comissão não está
reunida nesta data para examinar o mérito das imputações. A comissão se reúne
para examinar a legalidade do encarceramento antecipado de um parlamentar a
partir do que preceitua a Constituição Federal", afirmou.
Para Oliveira, a prisão contraria a previsão constitucional
segundo a qual um deputado só pode ser preso em flagrante delito por crime
inafiançável.
Parecer pela manutenção da prisão
Os pedidos de vista ocorreram logo após a leitura do parecer
pelo relator, deputado Darci de Matos (PSD-SC), que defendeu a manutenção da
prisão de Chiquinho Brazão. Ele concordou com a tese do STF de que a prisão
preventiva do deputado foi decretada por atos de obstrução à justiça, os quais,
segundo o Supremo, "continuavam a ser praticados ao longo do tempo".
"A autoridade policial e o Supremo afirmam que, 'até os
dias atuais, é possível aferir a movimentação de Domingos, Chiquinho e Rivaldo
no sentido de criar obstáculos à regular tramitação da elucidação dos fatos que
circundam o homicídio de Marielle e Anderson, de modo a sinalizar, de forma
cristalina, a perenidade de suas condutas'", diz o parecer de Mattos.
Análise só em abril
Na prática, a decisão final sobre o caso deverá ocorrer após dia
9 de abril, já que na próxima semana, por conta da janela partidária - período
que permite aos parlamentares trocar de partido -, não estão previstas sessões
no Plenário da Câmara.
Após a votação do parecer pela CCJ, a prisão de Brazão será
analisada pelo Plenário da Câmara, que, por maioria absoluta (257 votos), dará
a palavra final em votação aberta e nominal.