Divulgação (Foto: Reprodução/TV Senado)
Código Eleitoral permitirá pesquisa até
eleição e vetará campanha em igreja
Dispositivos estão entre os mais polêmicos do conjunto de
normas aprovado na Câmara dos Deputados em 2021
O senador Marcelo Castro (MDB-PI), derrubará a proibição à
publicação de pesquisas eleitorais às vésperas do pleito e vai vetar campanhas
em templos religiosos. Ele, que é relator do novo Código Eleitoral no Senado,
fará essas duas importantes mudanças no texto aprovado na Câmara dos Deputados
e que dita as regras na eleição.
Esses dois dispositivos estão entre os mais polêmicos do Código
Eleitoral aprovado na Câmara dos Deputados em 2021. Desde então, o texto vem
sendo amadurecido no Senado e já teve três relatores nos últimos anos - Castro
é o último deles.
O texto aprovado na Câmara dos Deputados proibia a divulgação de
pesquisas eleitorais a partir da véspera da eleição. O argumento usado à época
foi o de que os resultados desses levantamentos poderiam influenciar o voto dos
eleitores. Marcelo Castro adiantou que já decidiu derrubar esse trecho.
"O Supremo Tribunal Federal já se manifestou sobre isso e
disse que não pode haver esse tipo de restrição [às pesquisas eleitorais],
porque viola o direito à informação do cidadão. Então, nós vamos manter a
legislação como é atualmente, ou seja, a pesquisa pode ser feita até o dia
anterior e ela pode ser publicada inclusive no dia da eleição", disse.
O senador, porém, incluiu uma nova obrigação às empresas que
realizam esse tipo de pesquisa. Elas terão de apresentar em seus levantamentos
os resultados das pesquisas realizadas quatro anos antes. O objetivo é mostrar
o quanto esses institutos se aproximaram do resultado registrado nas urnas.
"Nós aproveitamos a ideia que a Câmara teve que é dos
institutos não manipularem o resultado para influenciar nas eleições",
afirmou. "Nós estamos colocando na legislação que toda vez que o instituto
de pesquisa for publicar um resultado eleitoral, para os cargos do Executivo,
ele tem que publicar juntamente com o resultado das três últimas pesquisas que
ele fez na eleição anterior sobre o candidato que ganhou a eleição", completou.
Não haverá qualquer tipo de punição prevista caso os resultados
eleitorais e os registrados nas pesquisas forem díspares. O objetivo, segundo o
relator, é expor empresas que eventualmente façam levantamentos para
influenciar no pleito.
Campanhas em cultos religiosos
O relator confirmou, ainda, que vai derrubar a permissão para
campanhas políticas em templos religiosos. Segundo ele, um templo "é o
lugar de se praticar religião, não é lugar de se praticar política".
"Esse é um tema mais do que polêmico. É um tema que traz
sempre muita divergência, mas nós achamos que a igreja não é lugar de campanha
eleitoral", afirmou. "Nós respeitamos todas as religiões, seja de que
credo for, está na Constituição. Nós somos um Estado laico. Mas não é um ambiente
próprio para se fazer campanha eleitoral".
O texto aprovado na Câmara dos Deputados permite que seja
realizada campanha política em templos religiosos e universidades. A inclusão
desse dispositivo foi uma demanda da bancada evangélica da Câmara.
A legislação eleitoral atual permite a campanha política em
universidades. O Supremo Tribunal Federal decidiu, em 2020, afastar qualquer
punição nesse sentido. No caso dos cultos, porém, há um entendimento de que a
campanha a favor de um candidato dentro de um templo pode configurar abuso de
poder religioso.
Castro reforçou que vai manter em seu texto a permissão para as
campanhas políticas nas universidades. Segundo ele, o ambiente universitário
"é de uma multiplicidade de pensamentos e de ideias".
"Universidade é aberta, as pessoas podem debater as suas
ideias em qualquer ambiente, não há uma doutrinação, não há uma formação, não
uma ideologia definida. A universidade comporta todo mundo, todas as crenças e
todas as ideologias. Até quem não tem crença nenhuma e quem não tem ideologia
participa da universidade também", completou.
O relator disse que deve apresentar seu relatório na próxima
semana no Senado. A expectativa dele é que o Código Eleitoral seja aprovado até
maio na Casa Alta do Congresso. Depois disso, a proposta terá de ser
encaminhada novamente à Câmara dos Deputados, que dará a palavra final sobre os
dispositivos alterados pelos senadores.