Divulgação (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Lula apresenta plano que prevê R$ 300 bilhões
em financiamento e subsídios à indústria
Nova Indústria Brasil reedita políticas de antigas gestões
petistas, subsídios ao setor, até 2026, além de uma política de obras e compras
públicas
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou
nesta segunda-feira (22), um plano de estímulo à indústria brasileira, que
enfrenta um quadro crônico de estagnação e perda de competitividade. Batizado
de Nova Indústria Brasil, o pacote reedita políticas de antigas gestões
petistas ao prever R$ 300 bilhões em financiamentos e subsídios ao setor, até
2026, além de uma política de obras e compras públicas, com incentivo ao
conteúdo local (exigência de compra de fornecedores brasileiros).
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
lidera a iniciativa, mobilizando R$ 250 bilhões dos R$ 300 bilhões previstos em
créditos ao setor produtivo. Desse total, R$ 77,5 bilhões já foram aprovados em
2023, sendo R$ 67 bilhões do banco de fomento e R$ 10,5 bilhões da Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep), que administra o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
Uma das linhas já disponíveis é o Programa Mais Inovação, que
concede crédito cobrando a variação da Taxa Referencial mais um adicional de
2%. Segundo o Palácio do Planalto, trata-se dos "menores juros já
aplicados para financiamento à inovação no País". Outros R$ 20 bilhões
serão concedidos exclusivamente pelo Finep, por meio de recursos
não-reembolsáveis, ou seja, que não precisam ser devolvidos e que serão
distribuídos via chamadas públicas e editais.
No evento, Lula afirmou que os R$ 300 bilhões são um
"alento" para a indústria "dar um salto de qualidade".
"É muito importante para o Brasil que a gente volte a ter uma política
industrial inovadora, totalmente digitalizada, como o mundo exige hoje, e que a
gente possa superar de uma vez por todas esse problema de o Brasil nunca ser um
país definitivamente grande e desenvolvido", afirmou o presidente.
"O nosso problema era dinheiro. Se dinheiro não é problema,
então nós temos que resolver as coisas com muito mais facilidade", disse
Lula, ao cobrar os ministros para que apresentem resultados pelo novo programa.
A fala do presidente chama a atenção num contexto de grande incerteza em
relação ao cumprimento da meta de déficit zero neste ano, com a equipe
econômica debruçada sobre o Orçamento, que precisa ser sancionado até esta
segunda-feira, 22.
"Muitas vezes, para que o Brasil se torne competitivo, tem
que financiar algumas das coisas que ele quer exportar. A gente não pode agir
como a gente sempre agiu, achando que todo mundo é obrigado a gostar do Brasil
e que todo mundo vai comprar no Brasil sem que a gente cumpra com as nossas
obrigações. O debate a nível de mercado internacional é muito competitivo, é
uma guerra", disse Lula.
"Muita gente fala em livre mercado quando é para vender,
mas, quando é para comprar, protege o seu mercado como ninguém",
complementou o presidente.
Economistas, porém, são críticos ao formato do novo plano e veem
um "vale a pena ver de novo". Em entrevista ao Estadão, o
economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, afirmou que a política é uma
"velha roupagem de coisas que a gente já conhece: uma velha política
industrial baseada em usar recursos" públicos
Vale se refere à política de estímulo à industrialização
iniciado no segundo mandato de Lula, que elegeu empresas de setores específicos
na chamada política de campeãs nacionais. Além disso, concedeu crédito
subsidiado, via BNDES, para compra de máquinas e caminhões e exigiu conteúdo
local nas contratações feitas pela Petrobrás.
Mercadante rebate críticas
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, rebateu as críticas e
defendeu a volta do investimento estatal, alegando que outros países também
estão nessa trilha.
"Precisamos fazer um debate franco. Eu quero perguntar a
esses que escrevem todos os dias dizendo que estamos trazendo medidas antigas:
me expliquem a China? Por que a China é o país que mais cresceu no mundo nos
últimos 40 anos? Me explique a política econômica americana. Já são dois
trilhões na década em subsídio, incentivo, em investimento público para atrair
empresas, inclusive empresas brasileiras", afirmou.
"Não tem como rever a indústria brasileira sem uma nova
relação de Estado e mercado. Não é substituir o mercado, não é não acreditar na
importância do mercado, que é uma instituição indispensável de desenvolvimento
econômico. Mas o Brasil precisa, diante de desafios históricos, da transição
digital acelerada e do imenso desafio da crise ambiental (...) a transição para
a economia verde exige a participação do Estado", destacou.
Mercadante afirmou, ainda, que o valor de R$ 300 bilhões é
"piso" do que o governo deseja aplicar na política industrial e
afirmou que os demais bancos estatais - Banco do Brasil e Caixa, além da Finep
- "trabalharão de forma coordenada no mesmo objetivo".
Plano é focado em seis áreas
O Nova Indústria Brasil é focado em seis áreas específicas, que
possuem metas de entrega para um horizonte de dez anos. São elas: cadeias
agroindustriais; saúde; bem-estar das pessoas nas cidades; transformar
digitalmente; bieconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas;
e defesa.
No caso do eixo ligado à saúde, por exemplo, uma das metas é
elevar de 42% para 70% a participação da indústria nacional na produção de
medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos. Já no caso da área
de defesa, busca-se obter autonomia na produção de 50% das tecnologias
"críticas" para a área.
"Ficamos sete anos sem ter reunião do CNDI (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Industrial) e esta já é a segunda no seu governo
Lula é compromissado com a indústria, porque sabe que não tem desenvolvimento
mais forte sem indústria forte", afirmou Geraldo Alckmin, vice-presidente
e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços durante o evento
no Palácio do Planalto.
O ministro estava ao lado do presidente Lula e do ministro da
Casa Civil, Rui Costa. O evento também contou com a participação de
empresários, como Guilherme Gerdau e Márcio de Lima Leite, presidente da
Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Chamaram
a atenção, porém, as ausências dos ministros da área econômica. Não estavam
presentes Fernado Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento e
Orçamento
No discurso, Alckmin também relembrou outras iniciativas, como a
depreciação acelerada, que permite que as empresas abatam mais rapidamente, dos
impostos federais, os investimentos em maquinário; e a utilização do poder de
compra do Estado para contratações públicas, como obras e compras da
administração direta e de empresas estatais para alavancar o desenvolvimento
industrial em áreas consideradas estratégicas, como infraestrutura, energia
limpa, saúde e defesa.
Nesses casos, sobressaem iniciativas como o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), coordenado pela Casa Civil, bem como as
aquisições realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelas Forças Armadas
Brasileiras.
No âmbito das compras públicas, o foco está em três instrumentos
que o Estado pode utilizar para fomento do desenvolvimento: margens de
preferência (diferencial de preços, nas compras públicas, para beneficiar os
produtos nacionais); compensações tecnológicas, industriais e comerciais
(offsets); e encomendas tecnológicas.