Divulgação (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Oposição divulga manifesto
contra ato convocado por Lula para o 8 de Janeiro
Documento critica decisões do STF, destaca abuso de poder e pede
retorno à normalidade democrática
No Senado, a representação da oposição ao governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou um manifesto contrapondo-se ao evento
'Democracia Inabalada', promovido pelo Palácio do Planalto em conjunto com o
Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo do ato é marcar um ano
do 8 de Janeiro. O documento encabeçado por Rogério Marinho (PL-RN), líder da
oposição, critica "o abuso de poderes" do STF e prega a "volta à
normalidade democrática".
A assinatura do manifesto conta com a participação de 30
senadores, entre líderes do PL, PP, Republicanos, PSDB e Novo, além de Flávio
Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e Sérgio Moro
(União Brasil-PR).
Eles condenam "vigorosamente os atos de violência e a
depredação dos prédios públicos ocorridos no dia 8 de janeiro" e endossam
as palavras do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que, em
entrevista em 23 de novembro, afirmou que "nenhuma instituição tem o monopólio
da defesa da democracia no Brasil".
"Cada instituição possui um papel específico no
fortalecimento dos alicerces democráticos", ressalta o manifesto da
oposição, que segue com críticas à conduta do STF. "O abuso dos poderes e
o uso indevido de interpretações de dispositivos constitucionais podem matar a
democracia".
Inquérito
Aos que subscrevem o manifesto, o maior exemplo de "uso
indevido" de um dispositivo constitucional é o Inquérito 4 781/DF,
conhecido como inquérito das fake news. Segundo os oposicionistas, essa
investigação gera uma "situação inusitada" na qual "o STF é
vítima, investigador e julgador".
"Esse procedimento foge ao padrão estabelecido pelo sistema
jurídico brasileiro de separação entre as funções de julgar e acusar",
dizem os senadores. O documento relembra que a ex-procuradora-geral da
República Raquel Dodge já se posicionou pela nulidade do inquérito, instalado
em 2019 a pedido do ministro Dias Toffolli, então presidente da Corte.
A declaração da oposição também expressa críticas as "penas
abusivas" impostas a réus do 8 de Janeiro. Os senadores traçam um paralelo
entre os detidos em Brasília há um ano e os manifestantes que estavam na
Assembleia Legislativa de São Paulo em 6 de dezembro passado. No Legislativo
paulista, os protestos contra a aprovação do projeto de privatização da Sabesp
terminaram em conflito com a Polícia Militar.
Para os senadores opositores, não é justo que os detidos na
Alesp tenham sido liberados no dia seguinte e, hoje, respondam à Justiça em
liberdade, enquanto os presos pelos atos golpistas tenham sido sentenciados a
até 17 anos de reclusão.
Conforme apurado pelo Estadão, a libertação dos detidos é a
principal pauta da oposição, que preferiu a divulgação da nota de repúdio a um
ato público de protesto.
Memória
O evento 'Democracia Inabalada' está sendo organizado pelo
governo Lula como uma cerimônia em memória dos atos antidemocráticos de 8 de
janeiro de 2023. O evento será realizado no Salão Negro do Congresso com a
presença de ministros de Estado, ministros do STF, parlamentares e outras
autoridades. A réplica da Constituição, que chegou a ser roubada do Supremo no
dia em que a Corte foi alvo dos vândalos, ocupará um lugar de destaque no
evento.
Originalmente, a cerimônia seria batizada de 'Democracia
Restaurada', mas o bordão desagradou a base do governo. Lula rebatizou o
ato em um aceno ao STF, que adotou o slogan em campanha institucional em 2023.