Divulgação (Foto: Mateus Bonami/AGIF/Estadão Conteúdo)
Moro se recusa a responder perguntas do PT e
diz que ação é "castelo de cartas"
Senador é acusado por suposto abuso de poder econômico e
político e uso indevido de meios de comunicação na campanha
O senador Sergio Moro (União-PR) foi ouvido nesta quinta-feira
(7) pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) na ação que pode levar
à cassação do seu mandato. Ele negou irregularidades nos gastos de campanha.
O Estadão apurou que o senador se recusou a responder às
perguntas formuladas pelas partes e deu explicações apenas aos questionamentos
do juiz do caso.
A coligação Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), que
move uma das ações, preparou mais de 200 perguntas. Moro não era obrigado a
comparecer ao depoimento nem a responder às indagações.
Ao deixar o prédio da Justiça Eleitoral, o senador falou com a
imprensa e reiterou que todos os seus gastos de campanha foram declarados e
respeitaram a legislação. "O que você tem é um monte de nada, um grande
castelo de cartas que nós começamos a desmontar hoje", afirmou.
Moro enfrenta duas ações na Justiça Eleitoral, que o acusam de
abuso de poder econômico, abuso de poder político e uso indevido de meios de
comunicação na campanha ao Senado.
Um dos processos é movido pelo diretório estadual do PL, com
aval do presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto. O PL é o partido do
ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem Moro se aliou na campanha de 2022 contra o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Eles estavam rompidos desde que o ex-juiz deixou o cargo de
ministro da Justiça acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal
para blindar aliados de investigações. A segunda ação é movida pela Federação Brasil
da Esperança.
Os partidos questionam gastos na pré-campanha, quando Moro ainda
estava filiado ao Podemos, e na campanha, quando o senador migrou para o União
Brasil. São despesas como compra de carro blindado, compra de celular, evento
partidário e viagem.
As campanhas no Brasil são financiadas com recursos públicos do
Fundo Eleitoral, que é repassado aos partidos para custear as candidaturas.
"O que me deixa profundamente ofendido, violado até neste
aspecto, é quando as partes alegam que gastos com segurança deveriam ser
considerados para a cassação do meu mandato", reagiu Moro, ao deixar o
TRE. "Andar de carro blindado e andar com segurança não traz nenhuma
vantagem em eleições", completou.
Moro justificou que o reforço na segurança foi colocado como
condição na negociação com os partidos para lançar a candidatura. Disse ainda
que a atuação na Operação Lava Jato e no Ministério da Justiça o colocaram como
alvo. A Polícia Federal descobriu, em março, um plano do Primeiro Comando da
Capital (PCC) para sequestrar e matar o senador.
"Eu fui juiz da Lava Jato, vim ao Brasil para uma eleição
altamente polarizada, na qual um candidato no passado chegou até a ser
esfaqueado", justificou. "Além disso, meu trabalho como ministro da
Justiça, que nós fomos para cima do crime organizado, exigia. E nós sabíamos
que havia um risco de sofrermos atentado, como existe até hoje e como depois
até se confirmou", explicou.
O senador também está na mira do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ). Como mostrou o Estadão, ao mandar investigar o ex-juiz, o ministro Luis
Felipe Salomão, corregedor nacional do CNJ, começa a pavimentar o caminho para
uma possível cassação do mandato, com base no mesmo precedente que deixou
Deltan Dallagnol inelegível.
O
Conselho Nacional de Justiça vai investigar se Sergio Moro usou a magistratura
com fins político-partidários e se cometeu irregularidades na gestão das multas
dos acordos de delação e leniência homologados na Lava Jato.