Divulgação (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)
Câmara
aprova urgência para votar projeto do Novo Ensino Médio
Matéria pode ser analisada no plenário na
próxima semana.
Agência Brasil- A Câmara dos Deputados aprovou nessa quarta-feira
(13), por 351 votos contra 102, a urgência do projeto de lei que altera o Novo
Ensino Médio instituído durante o governo de Michel Temer, em 2017. Com isso, o
projeto pode ser votado na próxima semana no Plenário da Casa.
A aprovação dessa urgência promoveu uma reviravolta na tramitação
dessa matéria porque o governo havia retirado o caráter de urgência do projeto
na última segunda-feira (11), argumentando que a medida precisava de mais tempos
para ser debatida. A expectativa era de que o tema ficasse para 2024.
Enviada pelo governo federal em outubro deste ano, a matéria está
sendo relatada pelo ex-ministro da Educação de Temer, o deputado Mendonça Filho
(União-PE). A decisão do governo de alterar as regras do ensino médio ocorreu
após pressão de entidades, estudantes, professores e especialistas para
revogação das mudanças no currículo aprovadas durante o governo Temer.
Na votação da urgência na noite dessa quarta-feira, a liderança do
governo encaminhou pelo voto favorável, já os blocos do PT/PCdoB/PV e do
PSOL/Rede encaminharam contra a urgência. Ainda assim, cinco parlamentares do
PT votaram a favor de acelerar a tramitação do PL relatado pelo deputado
Mendonça. Os demais partidos e blocos partidários votaram a favor da urgência.
O deputado Idilvan Alencar (PDT-CE) criticou o texto alterado na
Câmara, argumentando que ele desfigurou o projeto enviado pelo Executivo para
modificar o Novo Ensino Médio.
“O relatório que querem votar daqui a pouco, às pressas, reduz a
carga horária da Base Nacional Comum e traz o notório saber como muito forte.
Notório saber é desrespeito ao professor. Não é qualquer um que pode ir para a
sala de aula, não. É preciso ter uma formação. Ele também retira a
obrigatoriedade do espanhol — uma pauta que eu não aceito —, assim como da
sociologia, educação física, filosofia, arte”, lamentou.
O projeto original enviado pelo Executivo retomava a carga horária
de 2,4 mil horas de formação geral básica das 3 mil horas totais. O Novo Ensino
Médio fixou essa formação básica em 1,8 mil horas. O substitutivo do Mendonça
fixou em 2,1 mil horas, com 300 horas de aulas que relacionem os conteúdos da
Base Nacional Comum Curricular com a formação técnica profissional.
Além disso, o projeto do Executivo retirou a previsão de permitir
a contratação de profissionais sem licenciatura, desde que sejam reconhecidos
com notório saber sobre a disciplina. O substitutivo do Mendonça reintroduziu a
possibilidade de contratar profissionais com notório saber na área de formação
profissional e técnica.
O relator Mendonça Filho, durante a votação, agradeceu apoio do
presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do colégio de líderes da
Casa, por terem aceitado votar a urgência do PL.
“Precisamos de uma decisão para sinalizar para os estudantes, para
as redes estaduais, para os secretários estaduais de educação, que respondem
por 84% da oferta de vagas no ensino médio público brasileiro, para essa gente
que quer ter acesso ao mercado de trabalho, quer melhorar a renda. E é por isso
que eu peço a todos aqui que têm compromisso com o futuro da educação que
possamos abandonar o velho ensino médio”, destacou.
Repercussão
O substituto do Mendonça vem sofrendo críticas dos membros da
Campanha Nacional pelo Direito à Educação que consideram que o texto retoma as
normas do projeto do governo Temer. A organização reúne sindicatos, movimentos
sociais, estudantis e comunitários.
O professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo (USP), lamentou a aprovação da urgência e defendeu que o texto
aumenta as desigualdades entre os ensinos público e privado no Brasil.
“Mendonça praticamente reeditou a Medida Provisória do Temer
fazendo uma falsa determinação de 2,1 mil horas. Na prática, são 2,1 mil horas
de formação geral básica, mas 300 horas podem ser feitas dentro dos itinerários
formativos. Ou seja, voltam as 1,8 mil horas de formação básica”, destacou.
Sobre a reintrodução do notório saber como suficiente para
contratação de professores, Daniel diz que a medida coloca pessoas que não
foram preparadas para serem professores.
“O objetivo é diminuir a pressão, que hoje as redes públicas
enfrentam, para contratação de professores via concurso. Esse é o interesse
econômico por trás da reforma. É descaracterizar a profissão de docentes para
que qualquer um seja professor”, destacou.
Por outro lado, o Todos Pela Educação avaliou que o substituto do
Mendonça traz avanços em relação ao texto do governo federal, apesar de
ponderar que precisa de melhorias. A Organização Não Governamental (ONG)
informa que é financiada apenas por recursos privados.
A ONG concordou em aumentar as horas para a educação profissional
e técnica. “É um movimento correto no sentido de não fragilizar a busca por
maior integração da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) com o Ensino
Médio regular, um dos pilares da essência da reforma”, destacou.
A organização também é favorável à possibilidade de contratar
profissionais sem formação própria de professor, argumentando que a proposta
original do Executivo “dificultaria sobremaneira a ampliação da educação
profissional e tecnológica”.
A reportagem procurou a liderança do governo na Câmara e o
Ministério da Educação para comentarem o assunto, mas não obteve retorno até o
fechamento desta reportagem.