divulgação (Foto: Luciana Matutino atuou nas investigações da Faroeste |Reprodução/ Youtube)
Faroeste: Og
Fernandes pode virar alvo de suspeição por nomear delegada para gabinete
A
delegada Luciana Matutino, responsável pelas investigações da Operação Faroeste
no âmbito da Polícia Federal, desde abril deste ano tem atuado como
assessora do ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O
ministro é o relator das ações penais originárias na investigação do esquema de
compra e venda de sentenças no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).
Porém, a designação da delegada para atuar
como assessora do ministro pode incorrer na suspeição de Og Fernandes para
relatar as ações penais contra desembargadores, magistrados, servidores e
advogados investigados na Faroeste. Ela foi nomeada no dia 25 de abril deste
ano para ocupar a vaga de um servidor que foi exonerado da função. A designação
foi assinada pelo então presidente do STJ, ministro Humberto Martins. A
delegada foi requisitada pelo ministro e pode auxiliá-lo na elaboração das
minutas das decisões condenatórias, inclusive dos investigados na
Faroeste.
Em um diálogo interceptado pela Polícia
Federal, a desembargadora Maria do Socorro, ex-presidente do TJ-BA, afirmava
que estava sendo vítima de uma "armação" da delegada, por ser esposa
do servidor do tribunal Igor Caires Macedo, que atualmente trabalha no Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).
O
advogado Guilherme Lucchesi, doutor em Direito e professor da Universidade
Federal do Paraná, que atuou em casos como a Operação Lava Jato, ao Bahia
Notícias, explicou que o Código de Processo Penal é objetivo ao estabelecer
quais são os critérios de impedimento de um magistrado em um julgamento. Mas
asseverou que os casos de suspeição são subjetivos. Para ele, o que torna essa
análise mais difícil é o fato de que a autoridade policial não é parte do
processo, atuando somente no direcionamento das investigações. “Do ponto de vista
da defesa, isso pode soar como parcialidade, principalmente pelo fato dela ter
atuado como delegada de polícia e posteriormente atuar na elaboração de
minutas. Mas isso é algo que o ministro deve resolver internamente no gabinete,
pois a gestão do gabinete é de competência dele”, explica o advogado. Com isso,
a delegada não necessariamente minutaria os casos relacionados à Operação
Faroeste.
O advogado traça um paralelo entre a Faroeste
e a Lava Jato, que foi marcada por irregularidades e parcialidades no
julgamento, como comprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Isso pode
suscitar uma eventual nulidade de uma condenação - caso haja -, como houve na
Operação Lava Jato que, a partir do entendimento que houve parcialidade do
julgador, se anulou uma condenação importante envolvendo um ex-presidente [Luiz
Inácio Lula da Silva]. Se a suspeição for suscitada por algum advogado, o
pedido deverá ser analisado primeiro pelo ministro se ele vai se reconhecer ou
não como suspeito. Caso não reconheça, o pedido será analisado pelo Órgão
Especial do STJ. Também poderão levar o caso para o STF". O advogado
reforça que a suspeição é de um membro do gabinete, não necessariamente do
ministro.
Ao Bahia Notícias, Luciana Matutino afirmou
que o gabinete do ministro Og Fernandes possui diversos casos criminais em que
atua, e que, em nenhum deles, porém, “se refere à Faroeste ou qualquer
investigação da qual eu tenha presidido”. Ela também explica que a Polícia
Federal não é parte no processo e que não possui qualquer interesse no
resultado das investigações. “A autoridade policial investiga de forma isenta e
equidistante das partes (acusação e defesa)”, frisou. Sobre a possibilidade
controle externo dos casos em que atua, Luciana Matutino explicou que há sim,
porém, sem publicidade, pois os processos são sigilosos.
Após
o fechamento desta matéria, a assessoria de comunicação do STJ enviou o
seguinte posicionamento: "Luciana Matutino Caires não trabalha nos casos
referentes às operações nas quais participou como delegada. Ela foi convidada a
atuar no STJ depois das diligências realizadas na Operação Faroeste". (Atualizada às 8h45)