divulgação (Foto: Reprodução)
Justiça solta suspeito de garimpo ilegal de
ouro que movimentou R$ 16 bi
A PF estima que as empresas envolvidas no caso movimentaram
cerca de R$ 16 bilhões entre 2019 e 2021
Um juiz do TRF-1 (Tribunal
Regional Federal da 1ª Região) determinou a soltura do garimpeiro Márcio Macedo
Sobrinho, suspeito de integrar um grupo que fazia comércio ilegal de ouro
extraído de terras indígenas.
No
total, a PF estima que as empresas envolvidas no caso movimentaram cerca de R$
16 bilhões entre 2019 e 2021.
Em decisão da
sexta-feira (29), o juiz Pablo Zuniga Dourado afirma que a soltura do
empresário está condicionada à comprovação do seu local de residência. Também
manda que ele firme um termo de comparecimento a todos os atos da investigação
ou do processo.
Como mostrou a Folha,
investigadores suspeitam que empresários usem um garimpo nas proximidades de
Itaituba, no Pará, para "esquentar" minério retirado de território
yanomami.
Há
indícios, segundo a Polícia Federal, de que a prática inclua produto extraído
de outras reservas ambientais na região amazônica. Entre elas, terras indígenas
no Pará, Roraima e Rondônia.
A
apuração é parte das três operações deflagradas no início de julho contra a
mineradora Gana Gold, atual M.M.Gold. Ela tem Macedo como um dos sócios.
Na decisão da sexta, Dourado
afirma que um dos motivos para a soltura do empresário é que as atividades da
mineradora foram suspensas pela Justiça, "circunstância que reforçaria a
tese da impossibilidade de que, livre, possa voltar a atentar contra a ordem
pública e desautoriza a manutenção da segregação cautelar".
A
operação para "esquentar" ouro, como o que teria origem na terra
yanomami, funciona da seguinte forma: autorizada pelo poder público a explorar
determinada área, a empresa passa a minerar em garimpos clandestinos ou locais
proibidos, incluindo terras indígenas.
O
ouro extraído ilegalmente desses locais não permitidos é declarado à ANM
(Agência Nacional de Mineração), órgão regulador do setor, como se fosse de
área autorizada.
A declaração sobre a quantidade
extraída dificilmente é submetida a algum tipo de controle ou fiscalização e,
com isso, a origem ilícita é camuflada.
Para
reforçar a aparência de legalidade, a empresa realiza inclusive o recolhimento
da parcela da CFEM, uma contraprestação paga pela mineradora à União, aos
estados, ao Distrito Federal e aos municípios.
No
final da operação, o ouro é inserido na economia formal. Os investigadores se
referem a essa operação como "esquentamento" do minério.
De acordo com os autos da
Operação Ganância, os indícios de que isso pode ter ocorrido surgiram a partir
da análise da quantidade de metal comercializado pela empresa e declarado como
de origem no garimpo no Pará.
A
Gana Gold tinha previsão inicial de retirar 96 quilos por ano do garimpo
próximo a Itaituba, segundo a guia de utilização emitida pela ANM.
Em
um ano e cinco meses, entre 2020 e 2021, a produção deveria ser de
aproximadamente 161 quilos. A empresa registrou comércio de um total de quatro
toneladas (2.380% a mais).
"Existe intensa atividade
no local que claramente supera a de mera pesquisa, havendo inclusive movimentação
expressiva de caminhões", afirmou a PF no inquérito.
Para
ilustrar a suspeitas levantadas contra o grupo empresarial, a PF anexou aos
autos fotos aéreas de uma área de aproximadamente 192 hectares.
Área
de garimpo na região de Itaituba (PA) explorada pela Gana Gold, atual M.M Gold
Divulgação/Polícia Federal **
Imagens mostram trechos de mata devastada. Na área foram construídos barracos,
galpões e outras estruturas utilizadas para exploração do local. O registro
fotográfico revela também a existência de um lago de rejeitos, outro indício da
atividade exploratória.
A
polícia estima em R$ 300 milhões o impacto ambiental causado pela atuação do
grupo suspeito na região de Itaituba, considerando o desmatamento, assoreamento
de cursos d'água e contaminação por mercúrio.
O
dinheiro obtido com a venda do ouro, segundo os investigadores, era lavado em
uma rede de padarias, investimento em criptomoedas, imóveis de luxo,
caminhonetes e aeronaves.
Macedo tinha gastos com helicópteros, lanchas, caminhonete importada e
uma festa de casamento embalada ao som de duplas sertanejas famosas: Bruno e
Marrone, dos clássicos Dormi na Praça e Choram as Rosas, e Jads e Jadson
cantaram no evento.