
divulgação (Foto: Luís Roberto Barroso - Pedro Ladeira/Folhapress )
Mentira já está pronta, diz
Barroso sobre tese de Bolsonaro contra urna eletrônica
Bolsonaro voltou a fazer
ataques contra urna eletrônica nesta semana
Prestes a encerrar seu mandato à frente do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Luís Roberto Barroso criticou a insistência do presidente
da República, Jair Bolsonaro (PL), em tentar levantar dúvidas sobre o
sistema eleitoral.
"O presidente tinha dado a palavra de que
esse assunto estava encerrado", disse Barroso em entrevista ao jornal O
Globo, publicada neste domingo (13). "Chegou a elogiar o sistema
de votação eletrônico brasileiro. O filme é repetido, com um mau
roteiro."
Agora, Bolsonaro alega que as Forças Armadas
questionaram o TSE sobre supostas vulnerabilidades no sistema eleitoral
brasileiro. Barroso explica que, na Comissão de Transparência das Eleições, há
um representante das Forças Armadas. "Em dezembro, ele apresentou uma
série de perguntas para entender como funciona o sistema", disse o
ministro.
"Elas
entraram às vésperas do recesso. Em janeiro, boa parte da área técnica do TSE
faz uma pausa, e agora as informações solicitadas estão sendo prestadas e vão
ser entregues na semana que vem. Só tem perguntas. Não há nenhum comentário.
Não falam de vulnerabilidade", completou Barroso.
"Quando o presidente diz que encontraram vulnerabilidades antes mesmo de
receber as respostas às indagações, ele está adiantando, desavisadamente, a
estratégia que ele pretende adotar. Para falar a verdade, ele queimou a
largada."
Para Barroso, Bolsonaro antecipou a estratégia atual para
colocar em dúvida ar urnas brasileiras. "Que é: 'não importa quais sejam
as respostas, eu vou dizer que o sistema eleitoral eletrônico tem
vulnerabilidades'. Ele não precisa de fatos, a mentira já está pronta."
O ministro diz que o que o presidente tem feito é como assistir a um
"filme repetido, com mau roteiro". "Não há nenhuma razão para
assistir à reprise. Antes, o presidente dizia que tinha provas de fraude.
Intimado a apresentá-las, (ficou claro que) não havia coisa alguma. Essa é uma
retórica repetida. É apenas um discurso vazio."
Na entrevista, Barroso reforçou ser a favor do banimento do Telegram no Brasil.
"Nenhum ator relevante no processo eleitoral pode atuar no país sem que
esteja sujeito à legislação e a determinações da Justiça brasileira. Isso vale
para qualquer plataforma", disse o ministro.
"O Brasil não é casa da sogra para ter aplicativos que façam apologia ao
nazismo, ao terrorismo, que vendam armas ou que sejam sede de ataques à
democracia que a nossa geração lutou tanto para construir", afirmou.
Para o ministro, "uma plataforma, qualquer que seja, que não queira se
submeter às leis brasileiras deva ser simplesmente suspensa". "Na
minha casa, entra quem eu quero e quem cumpre as minhas regras."
Barroso deixará o comando do TSE ao final deste mês, quando será substituído
pelo ministro Edson Fachin.