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Juiz de Amargosa
é penalizado pelo TJ-BA por transformar vara cível em 'empresa familiar'
O pleno do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA)
aplicou a pena de disponibilidade para o juiz Alberto Sales de Jesus, por
irregularidades funcionais na comarca de Amargosa. Desembargadores do TJ
consideraram que o juiz montou uma “empresa familiar” para vender sentenças e
favorecer partes, junto com o filho e outros advogados. A relatora do caso foi
a desembargadora Ivete Caldas. Do total de desembargadores, 23 votaram pela
aposentadoria compulsória, mas não havia maioria absoluta de votos para
aplicar a penalidade. A pena de disponibilidade foi aplicada por ser a
mais gravosa abaixo da aposentadoria compulsória.
Segundo o relatório, o magistrado
cometeu 11 infrações disciplinares: atuação nos processos em que o filho era
intermediário; relação de amizade com Jó da Conceição dos Santos, apontado como
filho de criação do juiz; negligência em ações patrocinadas por Jó; sentenciar
em ações que o filho atuou indiretamente; deferir liminar em favor do próprio
assessor; sentenciar em processo que o assessor é autor; ficar inerte em
indícios de fraudes em processos contra bancos e empresas de telefonia, devido
a reclamação de autores não receberem os alvarás para sacar as indenizações;
ficar inerte em processo que o réu pediu declaração de incompetência
territorial e indicar possível fraude; sentenciar no Juizado Especial em
audiência em que a autora não compareceu; não observar que as assinaturas de
uma petição inicial não coincidem com a da audiência; e atuar em feito
envolvendo o assessor e a esposa dele, uma advogada da cidade.
O processo administrativo
disciplinar começou a ser julgado em setembro de 2021, mas um pedido de vista
adiou para esta quarta-feira (9). O desembargador Mario Albiani Jr liberou o
voto vista na sessão, inicialmente defendendo a aplicação de uma pena mais branda,
como a de censura, mas posteriormente, seguiu a pena de disponibilidade.
Segundo Albiani, os problemas apresentados pelo magistrado são justificados
pela dificuldade em atuar em Amargosa, com falta de estrutura e muitos
processos para serem julgados.
Para o vistor, o trabalho do TJ
não deve ser de “caça às bruxas” e sim de fazer um trabalho preventivo junto
aos juízes, com realização de um trabalho de correição e ajustes no
funcionamento das varas. Salientou que o juiz processado sempre trabalhou de
forma adequada e que, quando o TJ determinou o afastamento, era um período pós
Operação Faroeste, considerado por ele “um momento que não era feliz para o
julgamento”. Albiani afirmou que as imputações contra o magistrado não foram
comprovadas e que não há evidências que Alberto Sales diligenciava nos
processos do filho, e que deveria ser beneficiado com a dúvida. Albiani ainda
considerou que o caso poderia ser resolvido com diálogo com o magistrado.
A relatora, desembargadora Ivete
Caldas, declarou que “não é bem assim” sobre a suposta culpa dos erros pela
carga de trabalho, falta de estrutura e de serventuários. “Ele é de fato um
homem simples, mas não um homem inocente”, sentenciou. A desembargadora afirmou
que o interrogou pessoalmente e que ele admitiu o “passo a passo de suas
condutas”. “São condutas ilícitas, cometidas com habitualidades ao longo de
sete anos, desde 2012, quando assumiu a Vara Cível em Amargosa, até ser
afastado em 2019 pelo TJ-BA”, contou. A relatora afirmou que a vara funcionava
como “balcão de negociatas” pelo juiz, e que tudo ficou comprovado com
documentos, a partir de análises dos processos em que atuava. Ivete Caldas
afirmou que o processado cometeu os crimes de peculato, advocacia
administrativa e associação criminosa. Além de votar pela aposentadoria
compulsória, a desembargadora pediu encaminhamento do caso para o Ministério
Público da Bahia (MP-BA) investigar os fatos na área criminal e para a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para adoção de medidas disciplinares contra
os advogados envolvidos.
A desembargadora Rosita Falcão,
ao votar pela aposentadoria, afirmou que a Corte baiana não deve “mais permitir
que essas coisas aconteçam”. “Eu já vi esse tribunal silenciar com muitas
irregularidades”, declarou. Completou ainda que é uma “grande decepção” para um
cidadão quando essas irregularidades acontecem. “Se um terço do que está
descrito for verdadeiro, e é, a impressão que se dá, é que esse juiz
transformou a vara cível de Amargosa em uma empresa familiar. Não há como se interpretar
de outra forma”, lamentou.
O desembargador Moacyr Montenegro
asseverou que a conduta não pode ser aceita, e destacou que todos podem errar.
“Não se exige do magistrado um deus, um santo, um sujeito impecável, somos
seres humanos, passíveis de erro. Mas nesse processo administrativo, está fora
da curva. Não tem como se dar uma interpretação benévola, complacente, de forma
nenhuma”, frisou. O desembargador Lidivaldo Britto também alertou ao cuidado
que a Corte deve ter após a Operação Faroeste. “Agora, a responsabilidade é
nossa. Não vamos mais nos omitir”.