divulgação (Foto: Fernando Vivas/GOVBA)
Por falta de transparência, MP recomenda suspensão de licitação do
Palácio Rio Branco
A abertura da licitação está prevista para esta quarta-feira (19)
O
Ministério Público estadual, por meio das promotoras de Justiça Rita Tourinho e
Cristina Seixas, recomendaram à Secretaria Estadual de Turismo (Setur) que
suspenda imediatamente o
processo licitatório (concorrência pública) do Palácio Rio Branco,
que tem abertura prevista para amanhã (19), às 9h. No documento, o MP
recomendou que a suspensão da licitação seja pelo prazo prorrogável de 30 dias,
“visto que a sua continuidade, sem a discussão e esclarecimentos das questões
discutidas em reunião realizada ontem (17), corresponde a elevado risco de
danos ao patrimônio público e afronta a princípios aclamados pelo estado
democrático de direito, dentre os quais, o da transparência”, afirmaram as
promotoras de Justiça.
O
procedimento administrativo instaurado pelo MP pretende averiguar a
regularidade de possíveis intervenções físicas que serão feitas no Palácio Rio
Branco, localizado na praça Tomé de Souza, em Salvador, em decorrência de uma
possível implementação de rede hoteleira, bem como a regularidade dos demais
termos do processo licitatório. Localizado no centro antigo de Salvador, a
construção do Palácio Rio Branco remonta ao século XVI, sendo a primeira Casa
de Governo do Brasil erguida para a residência do primeiro Governador-Geral,
Thomé de Souza sendo, portanto, referência como patrimônio
histórico-arquitetônico nacional. “O edital prevê a concessão onerosa de uso do
edifício-sede do Palácio Rio Branco para instalação e administração de
empreendimento hoteleiro, de categoria superior, precedida de obras e ações de
reforma, além de posterior conservação e manutenção durante o prazo do
contrato/alienação de área próxima ao imóvel, sem ter permitido que a sociedade
civil tivesse amplo acesso ao projeto de intervenção que o Estado, por meio da
Setur, pretende realizar no edifício, a partir da sua concessão”, ressaltaram
as promotoras de Justiça.
No
documento, o MP recomendou ainda que, durante este prazo de suspensão da
licitação, a Setur realize reuniões com a sociedade civil e instituições como o
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e Universidade Federal da Bahia (UFBa),
dentre outros órgãos que assim desejarem, para o esclarecimento dos pontos
discutidos nesta segunda-feira (17), em audiência realizada na sede do MP em
Nazaré. Na ocasião, MP solicitou diversas informações à Setur tais como o modo
como se dará o acesso do público aos cômodos do Palácio que serão restaurados,
tais como, o memorial dos Governadores, o salão de banquetes, a sala dos
espelhos e o Belvedere; quais serão os critérios utilizados para o cálculo do
valor atribuído a concessão, bem como a renda de monopólio que deve ser
atribuída ao bem, em face da sua localização, e seu valor histórico e cultural;
e, uma vez que o edital prevê a alienação de área no entorno ao Palácio e que foi
desapropriada pelo Governo do Estado ao concessionário, quais seriam as
consequências para a retomada do prédio principal (Palácio Rio Branco) de
domínio público e o anexo de domínio privado ao final dos 35 anos da concessão.
“Após
análise minuciosa, não só do projeto executivo, como também a partir de
fiscalização feita no local, o órgão de assessoramento técnico do MP - o Núcleo
de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural (Nudephac), a partir da
expedição da Nota Técnica, apontou que ‘apesar da volumetria da edificação
preexistente ser mantida, bem como todas as fachadas e salões internos que
compõem o Memorial dos Governadores da Bahia aparentemente terem sua imagem,
matéria e uso recuperados e preservados, (...) os demais ambientes internos são
subdivididos e destinados à função de hotelaria, de modo a alterar a leitura da
espacialidade, tipologia e unidade de bens integrados. Além disso, a nota
técnica aponta que ‘a mudança de uso público para privado, por si só, afeta o
valor histórico e simbólico de um imóvel cuja ocupação sempre esteve associada
ao Poder Executivo, durante longo período como sede do Governo do Estado da
Bahia e até do Governo-Geral do Brasil Colônia”, destacaram as promotoras de
Justiça.