
divulgação (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)
MPF pede suspensão dos
resultados do CNU por falhas em cotas raciais
Recomendação
foi divulgada pelo procurador federal dos Direitos do Cidadão, Nicolao
O Ministério Público Federal (MPF)
recomendou a suspensão da
divulgação dos resultados
finais do Concurso
Público Nacional Unificado (CNU) de 2024 até que falhas no cumprimento das regras de cotas raciais sejam corrigidas. O pedido foi feito ao Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) e
à Fundação Cesgranrio, organizadora
do concurso. A recomendação foi divulgada nesta sexta-feira (31) pelo procurador federal dos Direitos do Cidadão,
Nicolao Dino.
A recomendação surge após uma investigação que identificou uma série de irregularidades no processo. “Os
elementos evidenciam um cenário de grave violação à política afirmativa de
cotas raciais, comprometendo sua finalidade, a igualdade de acesso ao serviço
público e a higidez do certame”, afirmou o procurador.
A violação foi atribuída à Fundação Cesgranrio, que, segundo o MPF,
não notificou adequadamente os candidatos reintegrados, prejudicando a isonomia
entre os concorrentes.
Além disso, o MPF aponta que a fundação falhou ao não
fundamentar corretamente as decisões sobre o enquadramento dos candidatos nas
cotas raciais de pessoas pretas e pardas. A recomendação ocorre com a iminente divulgação dos
resultados do CNU, prevista para terça-feira (4).
Demandas e recomendações adicionais do MPF
O MPF também recomendou que a divulgação dos resultados finais
seja suspensa até que todos os recursos administrativos sejam devidamente
analisados. Além disso, o Ministério Público sugeriu a reabertura do prazo para
recursos aos candidatos. A recomendação inclui a disponibilização irrestrita
dos pareceres e decisões, garantindo que todos os candidatos recebam um
tratamento isonômico.
“Cesgranrio não disponibilizou os pareceres motivados aos candidatos
não enquadrados nas cotas raciais”, afirmou o procurador. A recomendação exige
que os candidatos que foram excluídos das cotas de pessoas pretas e pardas
sejam reavaliados, com uma explicação clara para as decisões de indeferimento.
Outra solicitação do MPF é a revisão dos procedimentos de
heteroidentificação, um processo crucial para avaliar a identidade racial dos
candidatos. A investigação também aponta falhas na divulgação dos nomes dos
avaliadores responsáveis por essa análise.
Irregularidades na heteroidentificação e
falta de transparência
A investigação conduzida pelo MPF revela que houve um atraso
significativo na divulgação dos nomes dos avaliadores de heteroidentificação. A
data prevista para a divulgação era 17 de outubro de 2024, mas a lista foi
publicada apenas em 1º de novembro. A heteroidentificação é uma etapa que
envolve a análise dos traços físicos de candidatos que se autodeclaram pretos
ou pardos, para confirmar ou contestar sua identidade racial.
O MPF destaca que a avaliação de heteroidentificação não seguiu
os parâmetros estabelecidos judicialmente. Em casos de dúvida razoável sobre a
identidade racial de um candidato, o critério da autodeclaração deve
prevalecer, mas isso não teria ocorrido de maneira adequada no concurso. A
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão busca garantir que os direitos
constitucionais dos candidatos sejam respeitados e que o concurso se realize de
forma justa e transparente.
Em resposta às questões levantadas, o MGI informou que não
comentaria sobre o caso, citando que, como em outras etapas do CNU, o
ministério não se pronuncia sobre manifestações jurídicas em andamento. A
Fundação Cesgranrio, por sua vez, declarou que, de acordo com o contrato, todas
as demandas de imprensa são tratadas pelo MGI.
MPF pediu explicações sobre exclusão de
candidatos negros
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do
Ministério Público Federal (MPF), solicitou explicações à Fundação Cesgranrio e
ao Ministério da Gestão e Inovação (MGI) sobre a exclusão de candidatos negros
das cotas raciais no Concurso Nacional Unificado (CNU). A denúncia surgiu após
a rejeição de candidatos que se consideram negros pela banca de
heteroidentificação do concurso, levando o MPF a conceder um prazo de cinco
dias para que as instituições respondam.
O pedido de investigação é resultado de uma denúncia formalizada
no dia 17 de janeiro por 45 candidatos, que alegam terem sido prejudicados pela
banca. A PFDC recebeu representantes do grupo em Brasília (DF) na terça-feira
(28), e outras 70 denúncias já foram encaminhadas ao MPF em várias partes do
país. Os denunciantes solicitam uma investigação sobre as decisões da banca de
heteroidentificação do CNU.
Além disso, os candidatos afetados se reuniram virtualmente na
segunda-feira (27) com representantes do Ministério da Igualdade Racial (MIR).
O grupo busca apoio político para encontrar uma solução para aqueles que foram
indevidamente excluídos das cotas de negros, apesar de se identificarem como
pretos ou pardos.
Revisão das decisões e calendário do CNU
Com a divulgação das notas dos candidatos e a primeira lista de
classificação prevista para terça-feira (4), o caso continua a gerar polêmica.
O Ministério da Gestão e Inovação havia antecipado a data de divulgação em uma
semana, o que aumentou a pressão sobre as instituições envolvidas. O MPF
aguarda um retorno das explicações dentro do prazo estipulado, com foco em
corrigir possíveis falhas nos processos de heteroidentificação.
A heteroidentificação no CNU segue normas estabelecidas pela
portaria de 2018 e pela Instrução Normativa (IN) nº 23/2023, que visam garantir
a veracidade da autodeclaração racial dos candidatos. A prática tem como
objetivo evitar fraudes e foi criada em resposta à demanda do movimento negro.
Entretanto, o concurso tem sido alvo de críticas, pois rejeitou a inclusão de
candidatos que se declararam negros, mas foram considerados inelegíveis para as
cotas.