Divulgação (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Moraes: Poder moderador das Forças Armadas é
"pífia interpretação golpista"
O placar na Corte está em 9 a 0 contra tese do poder moderador
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes
votou nesta sexta-feira (5), contra a interpretação de que as Forças Armadas
podem intervir sobre os Três Poderes da República a partir de preceitos da
Constituição Federal. Segundo Moraes, o entendimento é uma "pífia, absurda
e antidemocrática interpretação golpista". O placar na Corte está em 9 a 0
contra tese do poder moderador.
O ministro também afirmou que o presidente da República que
convocar as Forças Armadas para intervir nos outros Poderes estará cometendo
crime de responsabilidade, e a cassação do mandato deve ser julgada pelo
Congresso. "A gravidade maior do estado de sítio exige, em regra, prévio
controle político a ser realizado pelo Congresso Nacional, ou seja, prévio
controle do poder Legislativo civil", disse.
Moraes é relator no STF de inquérito da Polícia Federal (PF) que
investiga se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) planejou um golpe de Estado
com oficiais de alta patente. Segundo o relatório da Operação Tempus Veritatis
da PF, deflagrada em fevereiro, os militares iam prender o magistrado e impedir
a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após um decreto de
Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ser assinado por Bolsonaro.
"Nunca houve a previsão das Forças Armadas como um dos
Poderes de Estado, ou mais grave ainda - como se pretendeu em pífia, absurda e
antidemocrática 'interpretação golpista' - nunca houve a previsão das Forças
Armadas como poder moderador, acima dos demais Poderes de Estado", afirmou
Moraes em seu voto.
A ação julgada pelo STF foi apresentada pelo Partido Democrático
Trabalhista (PDT) em 2020. A legenda questionou o Supremo sobre interpretações
do artigo 142 da Constituição Federal, que trata das Forças Armadas.
Bolsonaristas frequentemente utilizam o trecho para defender uma intervenção
militar "dentro da legalidade".
Moraes repetiu por sete vezes em seu voto que o poder civil
exerce soberania sobre as autoridades militares. O ministro do STF relembrou
que, em casos de estado de sítio e GLO, as Forças Armadas estarão sempre
submetidas "à vigilância das autoridades constitucionais",
representadas pelo Legislativo e pelo Judiciário.
"Nos Estados Democráticos de Direito, jamais, houve dúvidas
sobre a supremacia da autoridade civil sobre a autoridade militar, nem mesmo
nos momentos excepcionais do 'sistema constitucional das crises', em respeito à
divisão de Poderes entre os ramos Executivo, Legislativo e Judiciário",
disse o ministro.
Placar no STF está em 9 a 0 contra tese difundida por bolsonaristas
Ainda restam os votos dos ministros Kassio Nunes Marques,
indicado por Bolsonaro em 2020, e do ministro Dias Toffoli, indicado por Lula
em 2009. Eles têm até a próxima segunda-feira (8), para registrar os seus
votos.
O relator do caso, ministro Luiz Fux, votou contra o
entendimento que permite tal intervenção pelos militares, afirmando que a
interpretação do artigo deve ser feita considerando todo o sistema legal
brasileiro, especialmente no que diz respeito à separação dos Poderes.
Os ministros André Mendonça, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin,
Edson Fachin, Flávio Dino, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso também votaram
contra essa interpretação da Constituição.