Divulgação (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Lava jato, propina e ação de
ex-partido: veja como Dino votou na 1ª semana como ministro do STF
Ministro votou favoravelmente ação que favoreceria PSB, com
mudanças nas regras sobre distribuição das "sobras eleitorais" no
Poder Legislativo
De volta ao Judiciário após 18 anos de vida política, o
recém-empossado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino estreou
a semana no novo cargo com votos em processos sobre a operação Lava Jato, os
ataques do 8 de Janeiro, o vínculo entre entregadores e empresas de aplicativo,
um caso de propina entre advogado e colegiado de um Tribunal Federal, as
"sobras eleitorais" e uma condenação trabalhista contra a Petrobras.
Dino herdou o acervo de 340 processos que estavam sob a relatoria da ministra
aposentada Rosa Weber, que deixou o Supremo ao atingir 75 anos, idade máxima
permitida pela Corte.
Compõem esse montante 235 processos que iniciaram sua tramitação
diretamente no STF e outros 105 recursais - ou seja, aqueles que vieram de
outros tribunais ou juízos. A "herança" representa 1,3% do acervo
geral da Suprema Corte, que conta com 25.242 processos em tramitação.
'Uberização'
Em seu primeiro voto, na segunda-feira (26,) o ministro
acompanhou o relator Edson Fachin e foi a favor da repercussão geral do
julgamento sobre o vínculo de emprego entre trabalhadores e plataformas de
entrega e transporte, como Uber, Rappi, Cabify e iFood. Ainda não há juízo de
valor sobre o tema. O que o STF está decidindo é qual o alcance terá a decisão
que ainda será tomada.
No entendimento de Dino, a decisão deve valer para todos os
processos com o mesmo tema. Se isso ocorrer, pode significar um precedente
importante sobre as relações entre motoristas e aplicativos, e mais de 10 mil
ações podem ser afetadas.
Propina
Na terça-feira (27), Dino votou pela continuidade de uma ação
que acusa um advogado por lavagem de dinheiro e exploração de prestígio. Essa
foi a primeira ocasião que uniu de forma presencial Dino e Cristiano Zanin, os
dois indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no atual mandato.
No primeiro encontro dos dois, os votos de cada um divergiram entre si.
O julgamento, que corre em segredo de Justiça, estava empatado
por 2 a 2, com votos de Zanin e Luiz Fux, relator, pelo arquivamento da ação penal.
Dino desempatou seguindo o voto dos colegas Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia,
dois de seus padrinhos de indicação ao STF, pelo prosseguimento da ação.
O caso envolve a suspeita de que o advogado operava para comprar
decisões de magistrados no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5),
sediado em Pernambuco, em favor de um ex-diretor do Instituto de Pesos e
Medidas do Rio Grande do Norte (Ipem-RN)
Petrobras
Também na terça, o STF formou maioria para manter uma decisão
que anulou uma condenação trabalhista contra a Petrobras de R$ 37,8 bilhões. O
julgamento de recursos de petroleiros contra a decisão foi realizado na
Primeira Turma, composta por cinco ministros. Dino seguiu o voto do relator,
Moraes, e de Cármen Lúcia, a favor da estatal.
8 de Janeiro
Novamente seguindo Moraes, Dino acompanhou integralmente o voto
do relator nas ações penais do 8 de Janeiro, para condenar 15 réus a penas que
variam de 14 a 17 anos de prisão. Com o voto, o ministro adere à corrente mais
dura nos julgamentos envolvendo o episódio do ataque às sedes dos Três Poderes
em Brasília, e a tendência é que as penas fiquem mais severas. Desde a
aposentadoria da ministra Rosa Weber, por falta de maioria, as sentenças vinham
sendo estabelecidas em um meio termo, ligeiramente menor do que proposto pelo
relator.
Lava Jato
Nesta semana, o ministro também deu seu primeiro parecer em um
caso envolvendo a Operação Lava Jato. Dino votou para negar o pedido do
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que pretende arrastar para a Justiça Eleitoral
uma investigação sobre propinas supostamente pagas pela Odebrecht ao
ex-parlamentar.
O inquérito que envolve Cunha foi aberto na esteira das delações
de executivos da Odebrecht, que narraram suposto pagamento de R$ 20 milhões ao
ex-presidente da Câmara - além de propinas milionárias a outros deputados e
senadores. Assim como Dino, o ministro Dias Toffoli acompanhou o relator. Zanin
se declarou impedido para julgar o caso.
'Sobras eleitorais' e PSB
Dino votou favoravelmente a uma ação que favoreceria seu
ex-partido, o PSB, com mudanças nas regras sobre a distribuição das
"sobras eleitorais" no Poder Legislativo. Por maioria, a Corte
decidiu que as novas regras só devem valer para os pleitos futuros, não sendo
retroativas para as eleições de 2022.
Moraes, Gilmar Mendes, Toffoli e Kassio Marques tiveram o mesmo
entendimento que Dino. Caso a ação fosse deferida pelo Supremo, o partido ao
qual Dino foi filiado até o último dia 21, um dia antes de tomar posse como
ministro do STF, ganharia uma cadeira a mais na Câmara.
Graduação para técnico judiciário
Nesta semana, Dino ainda formou maioria com Cármen, Moraes,
Zanin, Toffoli e com o relator, Fachin, para rejeitar uma ação direta de
inconstitucionalidade (ADI) movida pela Associação Nacional dos Analistas Judiciários
e do Ministério Público da União (Anajus), contra a lei que exige graduação
para a carreira de técnico judiciário.
Decisões monocráticas
Até o momento, Dino proferiu três decisões monocráticas. Uma
delas, suspendendo as decisões judiciais que determinaram a penhora e bloqueio
de bens e valores da Companhia de Saneamento do Estado do Pará (Cosanpa). Em
outra, deferiu o pedido da Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e
do Distrito Federal (Anape) para ingressar como amicus curiae na ação
que questiona a constitucionalidade do Regime Jurídico Único dos Servidores
Públicos Civis do Estado de Rondônia.
O ministro também indeferiu um pedido que buscava a suspensão do
pagamento das custas processuais movido por Marcellus Glaucus Gerassi Parente,
sobre o processo que envolve briga por herança e que põe em risco
empreendimento bilionário na região da Avenida Paulista.