Divulgação (Foto: Pedro França/Agência Senado)
Paulo Gonet planeja recorrer da decisão que suspendeu a multa do
grupo J&F
Segundo argumentou a empresa ao STF, há uma situação de
"inconstitucionalidade estrutural e abusiva" em que se desenvolveram
as investigações
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, deve recorrer da
decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que
suspendeu, em dezembro, a multa de R$ 10,3 bilhões do grupo J&F, de um
acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF). Na mesma decisão,
Toffoli autorizou o acesso da companhia às mensagens apreendidas pela operação
Spoofing, que expôs mensagens trocadas por autoridades atuantes na operação
Lava Jato.
Para Toffoli, há uma "dúvida razoável" se o acordo de
leniência da J&F teria sido firmado de forma voluntária pela companhia.
Como efeito da decisão, a antiga Odebrecht, atualmente operando como Novonor,
entrou com pedido semelhante no STF. A J&F, companhia dos irmãos Wesley e
Joesley Batista, que mantém empresas dos setores de agronegócio, geração de
energia, mineração, financeiro, entre elas a JBS, acionou o STF no começo de
novembro.
Segundo argumentou a empresa ao STF, há uma situação de
"inconstitucionalidade estrutural e abusiva" em que se desenvolveram
as investigações. O argumento que embasa o pedido é de que tanto a J&F
quanto a Odebrecht foram "reféns dos mesmos abusos, praticados pelos
mesmos agentes, no mesmo contexto (a operação Lava Jato)".
Por isso, a companhia pede a extensão dos efeitos da decisão de
Toffoli. "Tanto Odebrecht quanto J&F foram prejudicadas por um mesmo
contexto de ocultação dolosa de informações, ocorridas num cenário de abusos
que a ambas afetaram, razão pela qual a decisão dada a uma deve ser extensível
à outra", afirmou a J&F, no documento.
A empresa defende que não podem ser usadas contra ela as provas
já consideradas ilícitas pelo STF. Também disse que fechou a leniência
"num contexto de abusos idêntico àquele que também vitimou a
Odebrecht". A advogada Roberta Rangel, mulher do ministro Dias Toffoli,
presta assessoria jurídica para a J&F no litígio contra a empresa
estrangeira Paper Excellence no processo de compra da Eldorado Brasil Celulose.
Esta situação complexa destaca a contínua luta das empresas contra as decisões
judiciais e as implicações potencialmente duradouras dessas batalhas legais.