Divulgação (Foto: Estadão Conteúdo)
Mauro Cid
detalha funcionamento de 'gabinete do ódio' de Bolsonaro em delação, diz jornal
Ex-Ajudante de Ordens já revelou, entre outras coisas, a fraude
nos cartões de vacina do ex-presidente
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da
Presidência, detalhou, em seu acordo de delação premiada, como funcionava o
"gabinete do ódio" do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com o jornal O Globo, a Polícia Federal (PF) teria exigido que Cid
detalhasse o papel de cada ex-assessor do ex-chefe do Executivo no esquema
montado no Palácio do Planalto para atacar adversários políticos via redes
sociais.
A citação aos integrantes do gabinete do ódio teria sido uma das
exigências para que o acordo fosse homologado em setembro. De acordo com o
jornal, Cid relatou ainda a relação dos membros do grupo com os integrantes do
clã Bolsonaro.
A delação de Cid já revelou informações sobre a venda ilegal das
joias sauditas, a fraude nos cartões de vacina no sistema do Ministério da
Saúde e a tentativa de golpe de Estado após a divulgação dos resultados das
eleições do ano passado.
Como ajudante de ordens, Mauro Cid teve acesso livre ao Palácio
do Planalto, estando ao lado do Bolsonaro em entrevistas, lives, reuniões e até
mesmo em salas de cirurgias, sendo o braço direito e secretário particular de
Bolsonaro nos quatro anos do governo passado. As memórias dele e os acessos que
teve aos locais tornam a delação um problema para o ex-chefe do Executivo
Mauro Cid foi preso no dia 3 de maio, em uma operação da PF que
investiga a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema de
saúde. Após ter o pedido de delação premiada homologado pelo ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Cid foi liberado de um
quartel onde estava detido no dia 9 de setembro.
Ordem para fraudes em cartões de vacina
Segundo informações do UOL, Cid admitiu participação no esquema
de fraudes dos cartões de vacina de covid-19 no sistema do Ministério da Saúde
e implicou Bolsonaro como o mandante. O site diz que o ex-chefe do Executivo
pediu que os cartões dele e da filha, Laura, de 13 anos, fossem manipulados.
Segundo o tenente-coronel, os documentos fraudados foram
impressos e entregues ao ex-presidente para que ele usasse quando "achasse
conveniente". Os dados falsos de Bolsonaro e de Laura teriam sido
inseridos no sistema do Ministério da Saúde por servidores da Prefeitura de
Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no dia 21 de dezembro de 2022, nove
dias antes de o ex-chefe do Executivo viajar para os Estados Unidos, às
vésperas da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Naquela época,
as leis americanas exigiam que os viajantes comprovassem a imunização contra a
covid-19.
A declaração de Cid confirmou hipóteses já trabalhadas pela PF.
Segundo os investigadores, Bolsonaro e aliados tinham "plena ciência"
das falsificações.
Dinheiro ilegal de venda de joias em mãos
Cinco dias depois de sair da prisão, foi revelado que Cid disse
aos investigadores que entregou ao ex-presidente uma parte do dinheiro
proveniente do esquema ilegal de venda de joias no exterior. O tenente-coronel
admitiu à PF que participou ativamente da venda de dois relógios, um da marca
Rolex e outro da Patek Phillipe. O dinheiro da comercialização ilegal teria
sido depositado na conta do pai dele, o general da reserva Mauro Cesar Lourena
Cid. Bolsonaro, então, teria recebido em mãos US$ 68 mil de forma parcelada,
com um repasse nos Estados Unidos e outro no Brasil.
Consulta a comandantes das Forças Armadas sobre golpe de Estado
Outra
informação cedida por Cid à PF durante a delação premiada foi a de que Bolsonaro
teria se reunido com a cúpula das Forças Armadas, após o segundo turno das
eleições presidenciais, para discutir a possibilidade de uma intervenção
militar para reverter o resultado que elegeu Lula para a Presidência.