divulgação (Foto: Folhapress )
Primeiro
medalhista do boxe brasileiro acusa COI de racismo estrutural
Para o pugilista que
conquistou o bronze nos Jogos do México, em 1968, trata-se de racismo
Prestes a completar 74 anos, Servílio de Oliveira ainda luta. Primeiro
medalhista olímpico do boxe brasileiro, ele não tem muita paciência para
discutir os motivos que levaram o COI (Comitê Olímpico Internacional) a excluir
a modalidade do programa olímpico a partir dos Jogos de 2028, em Los Angeles.
Para o pugilista que conquistou o bronze nos Jogos do México, em 1968,
trata-se de racismo.
"Ao tirar o boxe, o COI pune o atleta. E quem pratica o esporte são as
pessoas menos favorecidas e negros. É racismo estrutural", diz o ex-atleta
à Folha.
A decisão ocorreu meses após o Brasil ter obtido seu melhor resultado na
história da competição. No masculino, conquistou uma medalha de ouro (Hebert
Conceição) e uma de bronze (Abner Teixiera). No feminino, foi prata com Beatriz
Ferreira.
A medida não é definitiva, e a IBA (Internacional Boxe Association) pode
apresentar apelação.
"Eu espero que isso mude, tem até 2023 para entrar com o recurso",
completa Servílio.
Durante 34 anos, ele foi o único medalhista do país na modalidade. Isso mudou
apenas em 2012, quando Esquiva Falcão foi prata e Yamaguchi Falcão e Adriana
Araújo ficaram com o bronze em Londres.
Um dos motivos para a retirada inicial do boxe do programa olímpico
foram denúncias de irregularidades na IBA.
"Se a IBA fez falcatrua, tem de punir a entidade, não a modalidade.
Para mim, isso é uma tremenda gafe do COI. Trata-se de um esporte milenar [na
história das Olimpíadas]", defende Servílio.
Mas essa não é sua única batalha atual. Ele
briga também com a Fundação Palmares, que em 2020 retirou seu nome da lista de
homenageados da entidade criada para combater o racismo e valorizar os feitos
de brasileiros negros. O órgão, ligado ao governo federal, definiu que apenas
poderiam ser celebradas pessoas já mortas.
Em maio do ano passado, Servílio obteve uma decisão favorável para que
fosse recolocado entre os homenageados e recebesse indenização de R$ 10 mil. A
entidade recorreu.
"É frustrante. Fico decepcionado. Um negro, como eu, a serviço do
sistema", lamentou, referindo-se a Sérgio Camargo, presidente da fundação.
Neste sábado (19), Servílio de Oliveira será um dos atletas conduzidos
ao hall da fama do esporte brasileiro, criado pelo COB (Comitê Olímpico do
Brasil), durante congresso da entidade, em Salvador.