divulgação (Foto: Arquivo pessoal)
“O Bahia
era a alegria e a tristeza dele também”, diz filha de torcedor que infartou
durante jogo
O aposentado Ailton sofreu um infarto fulminante enquanto assistia ao
jogo que selou o rebaixamento do tricolor
O aposentado Ailton Mangueira da
Cunha, 67 anos, estava feliz pelo nascimento recente da
netinha. Como os milhões de torcedores do Bahia, vivia a ansiedade na
última quinta-feira (09) para o jogo decisivo contra o Fortaleza, porém
confiante na permanência do time na Série A. Antes da partida começar,
fez uma chamada de vídeo para a filha caçula, a estudante de nutrição Ludmila
Cunha. Ele disse que estava tudo bem e estava vendo a novela com a esposa antes
do jogo começar.
Quando o Bahia abriu o placar aos 25 minutos do primeiro tempo, ele fez
uma nova chamada de vídeo para comemorar o gol com as filhas. O Fortaleza viria
a empatar o jogo nos acréscimos do primeiro tempo e o aposentado começou a
sentir um leve mal estar. “Ele disse que estava bem e que era só um mal estar.
Minha mãe fez um chá para ele e deu algo para comer. Achou que poderia ser uma
queda da glicemia, porque ele era diabético”, conta Ludmila.
O segundo tempo começou e o Bahia precisava de mais um gol para
confirmar a permanência, sem depender do resultado das outras equipes. Quem
virou a partida, porém, foi o Fortaleza, aos 33 minutos do segundo tempo. Nesse
momento, Ailton começou a suar frio e pediu para a esposa levá-lo a uma Unidade
de Pronto Atendimento (UPA) porque ela não estava bem. “Minha mãe pediu
ajuda a um vizinho e cinco minutos depois eles já estavam no Hospital do
Subúrbio, porque moramos em Periperi, que é bem perto. Na porta do hospital,
ele desmaiou e os maqueiros levaram para a emergência. Os médicos fizeram
manobras de reanimação por 10 minutos, mas ele não resistiu”, relata Ludmila.
“A médica falou que ele sofreu um infarto fulminante. Ele era diabético e hipertenso,
mas as duas doenças estavam sob controle”, completa.
Estresse - Ludmila lembra que o pai era uma pessoa bem tranquila, que não
costuma perder o equilíbrio, a não ser quando o assunto era o Bahia. “Ele
ficava nervoso, estressado, gritava, mas nunca havia passado mal durante o
jogo. Eu ainda falava para não se estressar, porque ele poderia morrer e o
Bahia iria continuar, mas não adiantava”, conta.
Ludmila escreveu em seu perfil no Twitter que o Bahia lhe tirou o bem
mais precioso, mas ela diz não ter mágoa do clube. “Não culpo o Bahia, mas não
vou conseguir ver um jogo tão cedo. Acho que daqui a um ano vou conseguir
assistir. Sei que não foi culpa, em si, do Bahia, ele (o pai) que se estressava
muito. Era a forma como ele reagia aos jogos”, afirma. “O Bahia era a
alegria e a tristeza dele também. Ficava devastado quando o Bahia perdia. Se
irritava com o time”, lembra.
O bahia me tirou meu bem mais precioso, o meu
pai.... eu não quero acreditar nisso
— ludinha (@ludimilacunhaa) December 10, 2021
A estudante de nutrição disse que representantes do clube entraram em
contato com ela e uma coroa de flores foi enviada para o sepultamento do pai,
realizado nesta sexta-feira (10) no Cemitério Campo Santo. “Eles também
disseram que vão fazer uma homenagem no museu do clube que ainda será
inaugurado”, conta.
Ludmila ainda está assimilando a perda do pai e tenta se apegar a alguns
detalhes para amenizar a dor. Como Ailton foi levado ao hospital antes do final
do jogo, ela acredita que o pai morreu sem ver o Bahia ser rebaixado mais uma
vez para a Série B do Campeonato Brasileiro. “Ele não viu o Bahia ser rebaixado
porque, assim que o Fortaleza virou o jogo, ele se sentiu mal e acabou sendo
levado para o hospital. Meu pai ficava preocupado em o Bahia descer e não
conseguir se organizar para subir de volta”, lembra.
A estudante de nutrição agradece o apoio que vem recebendo da torcida
após a perda do pai e espera se recuperar para voltar a acompanhar a paixão que
o pai lhe ensinou a viver. “Recebi muito apoio. Foi surpreendente e gostaria de
agradecer a todos. Ainda não sei quando conseguirei assistir a um jogo do
Bahia, mas sei que com o tempo vou me recuperar e voltar a viver essa alegria
de acompanhar o clube, que aprendi a amar através de meu pai”, diz.