divulgação (Foto: Reprodução/ Instagram)
Cantora de pagode é vítima de transfobia na Avenida ACM
Três rapazes tentaram espancar e apredejar Nathalya
Araújo dentro de um coletivo
Ir e vir do trabalho pode parecer simples para qualquer pessoa, mas para
a cantora de pagode Nathalya Araújo quase virou uma tragédia. Na sexta-feira
(16), ela foi vítima de transfobia no ponto em que pega ônibus diariamente.
Três rapazes tentaram espancar e apedrejar a jovem, às 13h30, horário de grande
movimento na Avenida ACM.
A artista esperava um coletivo ao lado do restaurante MC Donalds quando
outro parou próximo ao local em que ela estava. Os rapazes, passageiros do
veículo, então decidiram gritar frases pornográficas para ofender e provocar
Nathalya.
A jovem relata que o constrangimento foi grande. Ela então pediu
gentilmente respeito, mesmo após ser agredida verbalmente. "É o quê,
que você quer, sua travesti?! Ela é uma desgraça!", gritou um dos
agressores de dentro do ônibus.
Não satisfeitos, eles pediram para descer do veículo com o intuito de
agredir a moça. Nathalya, ao perceber a movimentação entrou em outro ônibus que
havia parado no ponto, mas não foi o suficiente. O coletivo estava parado e os
três agressores tentaram entrar no veículo para apedrejar a artista.
"Foi uma cena de horror. Me senti impotente, uma formiguinha, desesperada.
Imaginei: é agora que eles vão me matar aqui dentro do ônibus", disse
Nathalya fortemente abalada.
Sororidade
O Brasil é considerado um dos países que mais discrimina e mata pessoas
LGBTs no mundo. De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 19
horas, uma pessoa LGBTQ+ é morta no país. Segundo a Rede Trans Brasil, a cada
26 horas, aproximadamente, uma pessoa trans é assassinada no país. A
expectativa de vida dessas pessoas é de 35 anos.
Na Bahia, o que iria acontecer com Nathalya, caso os agressores
conseguissem entrar no ônibus se chamaria de "covardia". Uma triste
ironia, três homens armados, contra uma mulher indefesa. Retrato de um país que
mais mata pessoas trans, mas também o que mais consome pornografia de
travestis.
Nathalya diz que foi salva "pelas orações que ela fazia em
silêncio, enquanto estava agachada no ônibus, ouvindo o barulho das
pedradas". Ela contou também com a ajuda das mulheres do coletivo, que
fizeram uma barreira na frente da artista e deram apoio até o ônibus dar
partida.
Denúncia e constrangimento
A jovem foi orientada pela empresa em que trabalha a fazer um Boletim de
Ocorrência. Ela foi até a Delegacia da Mulher (DEAM), mas apesar da assistência
não conseguiu fazer o registro. A DEAM esclareceu que só atenderia o caso se o
agressor tivesse algum vínculo com ela, como namorado, pai, marido, alguém da
família.
Nathalya então teve que prestar a queixa na delegacia mais próxima ao
local do ocorrido, a da Pituba. Lá, ela foi atendida por um policial que pediu
para a cantora relatar o ocorrido primeiramente na porta da Delegacia, em pé.
Abalada, a cantora passou pelo constrangimento de contar toda a história e só
após isso teve acesso ao local.
A artista, que havia explicado que está em processo de retificação do
nome e que desejava ser chamada como Nathalya, disse ao Portal
M! que seu desejo foi respeitado pelo policial, no entanto, recebeu o
documento ora, tratada no masculino e ora tratada no feminino, tendo o seu nome
social identificado no texto do Boletim, como "nome fantasia".
A equipe do Portal M! entrou em contato com a Polícia
Civil, para entender o preparo que os polícias recebem para atender mulheres
trans e travestis. Até o fechamento dessa matéria não tivemos resposta.
Seguiremos cobrando.
As imagens da câmeras do local também foram solicitadas pela família
para ajudar a identificar os agressores.