divulgação (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Confronto com bolsonaristas gera radicalização, diz Jobim em defesa de
José Múcio
Para o ex-ministro, o atual gestor tem habilidade
na interlocução com as Forças Armadas
O ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, - que atuou no segundo
mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -, afirmou nesta quinta-feira (19)
que apoia a permanência do atual titular da pasta, José Múcio, após os atos
golpistas de 8 de janeiro.
Jobim argumentou que Múcio tem habilidade na interlocução com as
Forças Armadas e destacou a importância de se nomear um civil para a chefia do
ministério após o fim do governo Jair Bolsonaro (PL), quando se fortaleceu um
processo de militarização da Defesa.
"Temos hoje um homem competente na Defesa, que é José
Múcio", afirmou o ex-ministro. "Fernando Henrique Cardoso começou
esse processo de entregar o comando (da Defesa) para um civil, e isso foi
progressivo. O processo de militarização da Defesa começou primeiro com o
ministro Aldo Rebelo, no governo Dilma, quando ele indicou o militar Silva e
Luna para secretário-geral, que é o cargo civil mais importante. Depois, no
governo Temer, houve também um problema quando criou-se o Ministério da
Segurança Pública, e o general Silva e Luna subiu para a Defesa",
relembrou, durante seminário promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso.
Jobim afirmou que Jair Bolsonaro "militarizou toda a estrutura" e
argumentou que o ministério deve ter um civil que circule bem entre militares e
políticos. "Múcio tem habilidade para tanto", disse.
Após a invasão às sedes dos três Poderes em Brasília, uma ala do
PT passou a pressionar para a demissão de Múcio, argumentando que o ministro
não deu uma resposta "firme" aos problemas de segurança observados no
dia 8 de janeiro. Petistas também esperavam uma postura mais "agressiva"
de Múcio contra os bolsonaristas que acampavam na frente dos quartéis, e se
frustraram quando o ministro afirmou que não desmobilizaria "ninguém na
marra".
Jobim citou as recentes declarações de Lula que geraram
mal-estar com as Forças Armadas. Na semana passada, o presidente afirmou que os
militares "não são poder moderador como pensam que são". O
ex-ministro relembrou que, em 2020, uma liminar do ministro Luiz Fux, do
Supremo Tribunal Federal, deixou claro que as Forças Armadas não são poder moderador,
e criticou o fato de o petista ficar "retomando assuntos".
"Há um extenso voto de Fux deixando isso claro. As Forças
Armadas não são poder moderador. Não tem essa discussão", afirmou Jobim.
Na liminar em questão, formulada em resposta a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade
movida pelo PDT, Fux afirmou que o poder das Forças Armadas é limitado,
"excluindo-se qualquer interpretação que permita sua utilização para
indevidas intromissões no independente funcionamento dos outros Poderes".
Nesta terça-feira (17), o general Sérgio Etchegoyen, que chefiou
o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Michel Temer,
classificou as declarações de Lula sobre as Forças Armadas como "uma
profunda covardia" e afirmou que elas não contribuem para a pacificação do
País.
Retaliação
O ex-ministro defendeu que a reação aos atos golpistas de 8 de
janeiro ocorra com "destreza e sapiência", sem
"retaliação". Segundo ele, determinar a prisão de "todo o
mundo" radicaliza a sociedade e fortalece o ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Se os democratas começarem a agir de acordo com o fizeram
(os extremistas), fazendo uma retaliação, surge uma radicalização e se
fortalece o Bolsonaro. Para se ter apoio é preciso ter um inimigo. Precisamos
ter sapiência ao tratar o ocorrido no dia 8. Não se pode induzir que, daquela
multidão, todos foram pra fazer quebra-quebra. Havia pessoas com criança no
colo, que estavam lá para fazer uma manifestação", afirmou.
Jobim afirmou que é contra, no mérito, à prisão de Anderson
Torres e do comandante da Polícia Militar no DF. Ele defendeu que a melhor
maneira de desmobilizar os extremistas não é por meio do confronto, mas do
estímulo ao crescimento de uma direita democrática que, segundo ele, pode
assumir o espaço que hoje é ocupado pelo bolsonarismo.
"Prender
todo mundo só radicaliza. Precisamos estimular a formação da direita
democrática, encontrar líderes para a direita democrática, pois é ela que tem
potencial para reduzir o bolsonarismo e o extremismo da extrema-direita. O
bolsonarismo vai desaparecer se tivermos a habilidade de desmanchá-lo por
dentro, estimulando o crescimento da direita democrática. Não faremos isso na
base do confronto".