divulgação (Foto: Reprodução)
Defensoria pede suspensão de projeto urbanístico na Lagoa do Abaeté e
tombamento da área
Em agosto, a ialorixá Jaciara Ribeiro, do Axé Abassá de Ogum, denunciou
a continuidade das obras, mesmo após manifestações de povos de santo e
ambientalistas, durante entrevista ao programa Mojubá, na Rádio Metropole
A Defensoria Pública da União (DPU) em Salvador (BA) ajuizou, na
tarde de terça-feira (13), uma Ação Civil Pública contra o município de
Salvador e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan),
pedindo agilidade e conclusão dos processos administrativos de tombamento da
região da Lagoa do Abaeté, além da suspensão do projeto de urbanização
promovido pela prefeitura, até o término desses processos.
A ação foi motivada pelos relatos de grupos da sociedade civil,
que procuraram a DPU em fevereiro deste ano. Na ocasião, eles informaram sobre
a então tramitação, na Câmara de Vereadores de Salvador, do Projeto de Lei nº
411/2021, que previa a mudança do nome Dunas da Lagoa do Abaeté para “Monte
Santo Deus Proverá”. Após diversas manifestações e repercussão negativa,
sobretudo de entidades ligadas às religiões de matriz africana, a proposta de alteração
foi retirada de pauta na casa legislativa.
“Trata-se de medida de suma importância, a fim de evitar que o
município implemente o projeto de urbanização, alterando o patrimônio, sem
considerar as repercussões culturais”, afirmou o defensor regional de Direitos
Humanos na Bahia, Vladimir Correia, que solicita ainda que o Iphan se
pronuncie, em até 10 dias úteis, sobre a viabilidade de decretação do
tombamento provisório da região.
O defensor informa que existem dois processos de tombamento em
curso no Iphan referentes às áreas da Lagoa do Abaeté e do Parque das Dunas,
regiões conhecidas como locais sagrados de culto das religiões afrodescendentes
e protegidas ambientalmente pela legislação brasileira.
Antes de levar o caso à Justiça, a DPU enviou ofícios ao Iphan
em busca de informações sobre a situação. Segundo Correia, em um dos processos,
uma arquiteta do Instituto demonstrou ser favorável ao tombamento, mas, em nota
técnica, revelou a insuficiência dos documentos apresentados pela Câmara de
Vereadores. Mesmo após solicitação, a Câmara ainda não teria atendido o pedido
de complementação das informações.
Sobre o outro processo, o Iphan informou que houve recente
reabertura, tendo sido iniciada a fase de planejamento da instrução e o
levantamento de dados sobre o bem cultural. Considerando que se trata de uma
Área de Proteção Ambiental (APA), o Iphan informou ter encaminhado ofício ao
Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) com a intenção de
receber os estudos realizados sobre a delimitação da unidade de conservação.
Entretanto, segundo o Instituto, o órgão estadual ainda não teria enviado os documentos
que podem auxiliar na instrução do processo.
A DPU também procurou a prefeitura para obter informações sobre
o projeto de urbanização - a indicação das intervenções propostas, os possíveis
impactos sociais e ambientais, assim como o prazo para o início da execução. Em
resposta, a Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) afirmou
apenas que o projeto é oriundo de uma provocação popular e atende às
legislações ambientais e administrativas.
As intervenções na Lagoa do Abaeté foram noticiadas pelo Metro1 e
pelo Jornal da
Metropole. Em
agosto, a ialorixá Jaciara Ribeiro, do Axé Abassá de Ogum, denunciou a
continuidade das obras, mesmo após manifestações de povos de santo e
ambientalistas, durante entrevista ao programa Mojubá, na Rádio
Metropole.