divulgação (Foto: Reprodução / Finep.gov)
EUA têm leve
alta de casos de Covid gerada por subvariante
"Pode tirar a máscara. Não precisa mais", disse o
taxista à reportagem da Folha, que embarcava com o rosto coberto numa corrida
em Boston. O aplicativo, porém, continua a exigir o item para viajar.
Após
meses sem restrições a aglomerações ou fechamento de comércios, os EUA sentem o
calor do começo de primavera no hemisfério Norte e se preparam para o terceiro
verão da pandemia como se ela já não existisse. Enquanto isso, especialistas
lembram que não é bem assim --o governo federal também, já que estendeu a
obrigatoriedade do uso de máscaras em aviões e hospitais e no transporte
público, que deixaria de valer na segunda (18), por mais duas semanas.
As últimas semanas indicam uma alta de casos de Covid. Dos 50
estados americanos, 27 registraram piora nos contágios. "Os demais estados
provavelmente verão o mesmo nas próximas duas semanas", diz David Dowdy,
professor de imunologia na Universidade Johns Hopkins. "Mas o número de
internações não está subindo. É razoável adotar algumas medidas de prevenção,
mas essa onda não será tão séria quanto a última."
A média nacional de casos está em 33 mil por dia, muito abaixo
dos 780 mil diários atingidos em janeiro deste ano. A alta do momento atinge
especialmente a região noroeste do país, que inclui Nova York e Washington. A
área tem tido em torno de 120 novos casos diários por 100 mil habitantes. É o
dobro do registrado em março, mas distante da taxa de 2.200 vista em janeiro.
Entre
as grandes cidades, a Filadélfia, com 1,6 milhão de habitantes, determinou a
volta do uso de máscaras em lugares fechados. Se a situação piorar, a medida
seguinte será retomar a exigência de comprovante de vacinação para o acesso a
lugares públicos --fechar ou restringir atividades por ora está fora de
cogitação.
Os EUA seguem firmes nessa estratégia. Mesmo em janeiro, no
maior pico de casos já registrado, escolas e comércios continuaram a operar. À
época, as ações dos governos foram reforçar o apelo pelas máscaras e, em
algumas cidades, exigir o passe vacinal para espaços de lazer. E a estratégia
durou poucas semanas.
"Podemos acabar com o fechamento de escolas e negócios.
Temos as ferramentas de que precisamos. É hora de os americanos voltarem ao
trabalho e encherem os centros das cidades", disse Joe Biden, no discurso
do Estado da União, em 1º de março. "A Covid já não controla nossas vidas."
A tática da Casa Branca se concentra na vacina, mas a imunização
com o primeiro ciclo completo estancou em 66% --no Brasil, o percentual é de
75,6%. Mesmo com campanhas de estímulo ou punições, o total de imunizados
avançou apenas 3 pontos percentuais desde janeiro.
E os
66% abrangem realidades bem distintas: há estados em que praticamente um a cada
dois habitantes não se vacinou, como Alabama (51% com ciclo completo) e Geórgia
(54%), diferentemente de outros populosos, como Califórnia (72%) e Nova York
(77%).
No fim de março, o governo passou a oferecer a quarta dose para
maiores de 50 anos. Biden, 79, recebeu a sua em evento público, que usou para
pressionar o Congresso a aprovar mais recursos contra a Covid --quer um acordo
para liberar US$ 10 bilhões para comprar testes, remédios e vacinas.
Republicanos seguram a aprovação da verba para pressionar
democratas a rever medidas que facilitariam a imigração. O acerto deixaria de
fora o custeio de exames e imunizantes para pessoas sem plano de saúde. Assim,
um teste simples, hoje gratuito em muitos lugares, custa em torno de US$ 100
para não segurados.
Outro encontro de risco entre pandemia e política se dá com as
eleições de meio de mandato que renovam parte do Congresso, em novembro. Se em
Washington a tênue maioria democrata estará em jogo, devido à reprovação de
Biden, o pleito em prefeituras e governos estaduais em várias partes do país
pode levar governantes a evitar a adoção de medidas impopulares nos próximos
meses.
Schleiss defende que a melhor arma para vencer a Covid agora
será vacinar as crianças de forma ampla, já que elas ajudam a espalhar o vírus
mesmo que não apresentem sintomas. "É a mesma coisa que se dá com qualquer
outra doença viral, como o sarampo. Enquanto não tivermos uma estratégia para
universalizar a vacinação infantil contra a Covid, vamos seguir lutando contra
a doença."
Dowdy indica ainda o cuidado em grandes aglomerações. "Não
se trata de banir eventos de massa, mas de adotar medidas como melhorar a
ventilação, priorizar ambientes externos, exigir vacinação --e até considerar o
uso de máscaras", diz.
O calor é propício a isso tudo. No fim de março, milhares de
pessoas foram ver o desabrochar das cerejeiras em Washington, com parques
repletos de pessoas sem máscara, aglomerando-se para tirar fotos. O acessório
só era visto no metrô, com vagões partindo lotados e muitos passageiros se
esquecendo da proteção. Não havia funcionários para cobrar o uso, e os demais
viajantes pareciam não se importar.