divulgação (Foto: Reprodução)
Em
abertura do Congresso da Ufba, reitor diz que ciência e autonomia das
universidades estão sendo atacadas
"Crise não é acidente, ela se configura hoje como projeto",
afirmou João Carlos Salles; mudança em orçamento retira R$ 8,6 milhões da
instituição para 2022, ano de retorno às atividades presenciais
O Congresso
comemorativo dos 75 anos da Universidade Federal da Bahia (Ufba) foi
aberto, nesta terça-feira (7), com um forte discurso do reitor da instituição,
João Carlos Salles. Ele denunciou e lamentou os ataques e cortes de recursos
que a ciência vem sofrendo por parte do governo federal. “A crise não é um
acidente, ela se configura hoje como um projeto”, cravou o regente.
O
reitor declarou que a universidade é vítima de um governo “que não é apenas
medíocre, mas sim perigoso”. “Um governo que se coloca como algoz das
instituições e de políticas públicas que deveria proteger, sendo hoje exemplo
claro de obscurantismo e autoritarismo”, acrescentou.
“Em
especial, nossa identidade e nossa autonomia se veem hoje atacadas. E são
atacadas tanto na forma mais insidiosa da supressão de recursos, quanto na
forma mais torpe do ataque a nossas comunidades universitárias, tratadas como
se foram ineptas nas sucessivas agressões ao exercício de sua autonomia”,
afirmou Salles.
O
representante da Ufba também repudiou a valorização da violência em detrimento
da educação, em referência à política pró-armas do governo Bolsonaro. “Não mais
podemos desconhecer um projeto explícito de desmonte de nossas instituições e
de políticas públicas voltadas ao bem comum. Governantes sequer escondem seu
desdém pela ciência, seu desprezo pela cultura, chegando ao cúmulo de, sem
qualquer pudor, mostrarem preferir as armas aos livros”.
O
reitor ainda lembrou que, após sucessivos cortes no orçamento nos últimos anos,
mais de R$ 300 milhões, antes destinados para o ensino superior, foram
retirados da Proposta de Lei Orçamentária Anual de 2022. De acordo com ele, na
Ufba, estão sendo cortados R$ 8,6 milhões – destes, R$ 2,2 milhões da
assistência estudantil. Ou seja, 5,12% do orçamento da instituição para o ano
que vem.
O corte de recursos acontece justamente no ano em que a
universidade retomará
as atividades presenciais, no dia 7 de março de 2022, após dois
anos funcionando quase integralmente em modelo remoto. “Isso equivale a um
corte no orçamento discricionário das universidades, para um ano no qual, ao
contrário, elas precisarão de muito mais para fazer frente ao desafio de
retorno às atividades presenciais”, revelou Salles.
Apesar
da defasagem orçamentária, “em ambiente jamais visto de ataque à imagem da
instituição”, o reitor afirma que a universidade vem resistindo graças à
“gestão coincidir hoje com a vitalidade institucional de nossos conselhos e
contar com a sintonia de nossas unidades universitárias”.
“Combatemos
cortes e contingenciamentos. Combatemos, em suma, o bom combate. Enfrentamos,
juntos e unidos, a rudeza de gestores e sua aparente polidez, que pode
tornar-se ainda mais devastadora e destrutiva”, disse o regente da Ufba. “Em
nossa política e em nossos gestos, mostramos então, aos quatro ventos, a nossa
verdade de que podemos sim ser o lugar da balbúrdia porque nunca seremos o
lugar da barbárie”, concluiu.