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Em depoimento à PF, Bolsonaro diz que nunca interferiu no órgão
Oitiva foi autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes
O presidente Jair Bolsonaro prestou
depoimento ontem (3) à Polícia Federal (PF) e reiterou que nunca interferiu no
trabalho da corporação. A oitiva foi realizada no âmbito do inquérito aberto em
abril do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após o ex-ministro da
Justiça Sergio Moro declarar que o presidente tentou interferir na PF por meio
da troca do então diretor-geral Maurício Valeixo.
Bolsonaro
poderá ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e, se o
Congresso aprovar o prosseguimento das investigações e o STF aceitar a abertura
de ação penal, será afastado do cargo automaticamente por 180 dias.
O
depoimento foi autorizado no mês passado pelo ministro Alexandre de Moraes,
relator do inquérito. Na manhã desta quinta-feira (4), cópia da oitiva foi
anexada à parte do processo que não está sob segredo de Justiça.
Segundo
Bolsonaro, a substituição de Valeixo foi solicitada a Moro devido à “falta de
interlocução que havia entre o presidente da República e o diretor da Polícia
Federal”. Embora não tivesse nenhuma insatisfação com o trabalho do então
diretor, o presidente declarou que sugeriu o nome do delegado Alexandre
Ramagem, que fez sua segurança durante a campanha eleitoral de 2018.
De
acordo com o depoimento, Moro teria concordado com a troca, “desde que
ocorresse após a indicação do ex-ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal
Federal”.
“Que
ao indicar o DPF Ramagem ao ex-ministro Sergio Moro, este teria concordado com
o presidente desde que ocorresse após a indicação do ex-ministro da Justiça à
vaga no Supremo Tribunal Federal; Que conheceu o DPF Ramagem após o 1° turno
quando ele assumiu a coordenação da segurança do então candidato Jair
Bolsonaro. Que salvo engano os filhos do declarante também conheceram Ramagem
somente quando ele assumiu a segurança do declarante: Que nunca teve como
intenção, com a alteração da Direção Geral, obter informações privilegiadas de
investigações sigilosas ou de interferir no trabalho de Polícia Judiciária ou
obtenção diretamente de relatórios produzidos pela Polícia Federal”, diz trecho
do depoimento.
O
presidente também disse que deu “carta branca” para seus ministros quando os
convidou para compor o governo. Segundo Bolsonaro, Moro trouxe para o
ministério profissionais que teve contato em Curitiba, mas que “em determinado
momento percebeu que o ex-ministro estava administrando a pasta sem pensar no
todo, sem alinhamento com os demais ministérios e o gabinete da presidência”.
“Por
fim, gostaria de acrescentar que sempre respeitou e respeita a autonomia da
Polícia Federal e que entende que mesmo com a alteração de dirigentes de
unidades da PF, não é possível interferir nas investigações em razão do sistema
penal brasileiro e na cultura organizacional enraizada na instituição”.
Sobre
a reunião ministerial de abril de 2020, na qual falou sobre a troca de pessoas
da segurança no Rio de Janeiro, o presidente reiterou que estava se referindo à
segurança de Carlos Bolsonaro, um de seus filhos.
“Que
há um pequeno núcleo do GSI sediado no Rio de Janeiro, responsável pela
segurança do declarante e de sua família; Que esse núcleo do GSI é formado por
servidores lotados e alguns comissionados; Que achava que esse trabalho poderia
ser melhorado, principalmente no acompanhamento do seu filho Carlos Bolsonaro, residente
no Rio de Janeiro; Que, portanto, quando disse que queria trocar gente no Rio
de Janeiro, referia-se a sua segurança pessoal e da sua família."
No
depoimento, o presidente também relatou que se referia a dados para tomada de
decisões quando disse, na mesma reunião, que a PF não lhe dava informações.
“Que
o declarante quis dizer que não obtinha informações de forma ágil e eficiente
dos órgãos do Poder Executivo, assim como da própria Polícia Federal; Que
quando disse informações se referia a relatórios de inteligência sobre fatos
que necessitava para a tomada de decisões e nunca informações sigilosas sobre
investigações”, diz o depoimento.
Em
nota, a defesa de Moro disse que foi surpreendida com o depoimento e que
deveria ter sido comunicada previamente para participar e fazer seus
questionamentos.
“A defesa do ex-ministro Sérgio Moro foi surpreendida pela
notícia de que o presidente da República, investigado no inquérito 4831,
prestou depoimento à autoridade policial sem que a defesa fosse intimada e
comunicada previamente, impedindo seu comparecimento a fim de formular
questionamentos pertinentes, nos moldes do que ocorreu por ocasião do
depoimento prestado pelo ex-ministro em maio do ano passado”, diz a nota.