divulgação (Foto: reprodução)
"Importantes livros para entender o Brasil": Fernanda
Torres seleciona quais são suas obras preferidas
Dentre os livros, se destacam Memórias Póstumas de Brás Cubas,
Macunaíma, Grande Sertão: Veredas, Macunaíma e Tristes Trópicos
A atriz Fernanda Torres, que vive a avalanche de sucesso pela
sua atuação no filme "Ainda Estou Aqui", tendo sido inclusive
indicada ao Globo de Ouro pelo seu destaque, também figura em outra esfera
cultural: a literatura. Escritora, Fernanda já publicou três livros, dois
de ficção e uma coletânea de crônicas, e, ultimamente, tem se destacado ao
compartilhar suas dicas de leituras na internet.
Neste ano, a artista estreou no TikTok com a missão de propagar
a literatura brasileira, principalmente para o público jovem. “Alô, alô,
queridos! Fernanda Torres aqui, da minha ‘central de comandos’, estreando no
TikTok. Fica aí de olho que vou postar uma coisinha interessante sobre Machado
de Assis”, disse. Ainda falando sobre brasilidade através dos livros, a convite
da Folha de S. Paulo, Fernanda elencou quais obras são essências para se
entender o Brasil e comentou as escolhas.
Confira as indicações:
Grande
Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
"Grande Sertão: Veredas' é o Fausto sertanejo. Um livro que coloca o
Brasil no centro dos dilemas mais profundos da humanidade, ao discutir a
natureza do bem e do mal. Como se não bastasse, Guimarães Rosa inventa línguas.
Não há o que dizer de 'Grande Sertão: Veredas', é preciso lê-lo."
Memórias
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
"É um livro absurdo, cortante, hilariante, moderno e terrível. É o retrato
de Machado de Assis de uma elite caprichosa, egoísta e volúvel, num livro que
marca a grande virada literária do bruxo."
Macunaíma,
de Mário de Andrade
"Somos todos Macunaíma."
Os
Sertões, de Euclides da Cunha
"Se Euclides da Cunha tivesse escrito apenas a parte final de 'Os
Sertões', 'A Guerra', esse livro extraordinário já seria um clássico, mas não.
As duas primeiras partes, 'A Terra' e 'O Homem', misturam geologia e
antropologia com alta literatura. Cunha é capaz de transformar a luta de uma
planta para se desenvolver no solo árido da caatinga em paixão de Cristo, em
drama épico. 'Os Sertões' é um livro fundamental para se entender o
Brasil."
Tristes
Trópicos, de Claude Lévi-Strauss
"O mais belo livro já escrito. Nesta obra autobiográfica, Claude
Lévi-Strauss narra as duas viagens que fez ao Brasil, na década de 1930. A
primeira teve como missão educar os filhos da elite cafeeira, na
recém-inaugurada USP. Na segunda viagem, o antropólogo se embrenhou pelo sertão
e pelas matas, a fim de conhecer os povos originários do Brasil. Da impaciência
europeia com o tempo relativo da empreitada, onde um quilômetro podia demorar
dias para ser vencido; à descoberta de que a organização circular da taba
ordena não só o cotidiano das tribos, como sua cosmogonia, o périplo serve para
operar uma revolução íntima no viajante. Ele, que havia sido chamado para
civilizar o Brasil, termina como um branco horrorizado com a voracidade
genocida da civilização à qual pertence."
Escravidão
(volumes 1 e 2), de Laurentino Gomes
"A escravidão fundou o Brasil. Nessa trilogia monumental – cujo terceiro
volume ainda está para ser publicado -, o historiador Laurentino Gomes revela o
impacto dos trezentos anos de tráfico de humanos entre a África e as Américas,
nos três continentes que lucraram e se desenvolveram graças ao comércio dos
navios negreiros. Não haveria Brasil sem África. Laurentino mete a mão no
vespeiro norteado pelo pragmatismo econômico, e tece a malha de relações
sociais, empregatícias, legais, linguísticas, religiosas e afetivas herdadas do
regime escravocrata."
Ao Vencedor,
as Batatas, autoria de Roberto Schwarz
"As Ideias Fora do Lugar', capítulo de abertura de 'Ao Vencedor, as
Batatas', é um ensaio seminal do crítico literário Roberto Schwarz, sobre a
entrada do Brasil no mundo moderno, através de uma economia baseada no
latifúndio arcaico escravocrata. No livro, o professor se vale da literatura
para demonstrar a inadequação dos ideais liberais do romantismo europeu do
século 19, num país patriarcal como o nosso, tendo como base a evolução dos
romances de Machado de Assis, desde 'Ressurreição' e 'Iaiá Garcia' até
'Memórias Póstumas de Brás Cubas'."
Álbum de
Família, de Nelson Rodrigues
"Nelson Rodrigues transformou o drama do suburbano médio brasileiro em
tragédia grega, em Medéia, Édipo e Antígona. 'Álbum de Família' se passa na
casa grande e retrata a herança patriarcal das fazendas que nos fundaram. Assim
como 'Vestido de Noiva', 'Toda Nudez Será Castigada', 'Anjo Negro', 'Beijo do
Asfalto' e toda a vasta produção literária rodrigueana, 'Álbum de Família'
consegue ser ao mesmo tempo épica, trágica e ridícula."
Os Meus
Romanos: Alegrias e Tristezas de uma Educadora Alemã, de Ina Von Binzer
"Meus Romanos' é um livro fininho e curioso. Trata-se das cartas enviadas
por uma preceptora alemã contratada para educar os filhos dos grandes
fazendeiros no Brasil. Através de pequenos gestos, das brincadeiras infantis,
da sala de aula, Binzer revela o caráter escondido dos brasileiros."
Bilhões
e Lágrimas, de Consuelo Dieguez
"Bilhões e Lágrimas' é a reunião das reportagens da jornalista Consuelo
Diéguez, publicadas na Revista Piauí de 2006 a 2014. Trata-se da retrospectiva
da economia brasileira do período, feita através do perfil de banqueiros,
economistas, empresários e investidores. Da privatização das Teles ao
investimento do BNDES em salsicha, do Pró Álcool ao Pré-Sal, de Daniel Dantas a
Luciano Coutinho, o livro revela o poder dos agentes graúdos do chamado mercado
de levar um país a ganhar, ou perder, décadas."
Crítica
da Razão Impura ou O Primado da Ignorância, de Millôr Fernandes
"Neste livrinho cruel e esclarecedor, Millôr Fernandes demole as ambições
analítico poético literárias de dois ex-presidentes da República, José Sarney e
Fernando Henrique Cardoso. A hilariante análise de 'Brejal dos Guajas' e
'Dependência e Desenvolvimento na América Latina' reúne três exemplos de
erudição brasileira, a do presidente poeta, a do sociólogo uspiano e a do órfão
autodidata, rato de redação e gênio iconoclasta, Millôr Fernandes"