Divulgação (Foto: reprodução)
Regulação pede carona: PL para motoristas por aplicativo vira
alvo de críticas da categoria
Na Metropole, ministro do Trabalho e Emprego defendeu projeto e
garantiu que alterações podem ser feitas
Matéria
publicada originalmente no Jornal Metropole em 11 de abril de
2024
Assinado em março pelo presidente Lula, o projeto de lei que
visa regulamentar a profissão dos motoristas por aplicativo começou a ser visto
como uma defesa aos direitos da categoria, mas acabou se tornando alvo de
críticas dos próprios condutores e juristas. Virou motivo até de uma
manifestação nacional de motoristas da Uber e do 99.
Em entrevista à Metropole,
o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, contou que foi preciso esforço
por parte do governo federal para conseguir diálogo com as empresas de
transportes. Segundo o ministro, elas não queriam regulamentar a categoria.
“Esta é uma lei que protege os trabalhadores. Não é um projeto
puramente do governo, que quer aprovar a ferro e fogo. Foi construído na mesa
tripartite, com liderança de trabalhadores e de empregadores”, afirmou Marinho,
pontuando que a gestão pode ter cometido algum erro na comunicação sobre o
projeto, permitindo que ele se tornasse alvo “das redes que propagam
desinformação”.
A ideia, segundo o Marinho, é criar um regime de trabalho que
garanta direitos, mas com liberdade. Algo menos rígido que o proposto pela CLT.
Entre outros pontos, o projeto cria a categoria “trabalhador autônomo por
plataforma”, com o motorista podendo escolher quando trabalhar, além de garantir
Auxílio Maternidade e R$ 32,10 como valor mínimo para a hora trabalhada. É
determinada também uma remuneração mínima de R$ 1.412 para quem cumprir menos
de 8h por dia, mas há o limite de 12h diárias de expediente, sob a
justificativa de garantir a segurança para motorista e passageiro.
O valor-hora e as 12h de jornada são os principais pontos
criticados pela categoria. Presidente da Cooperativa Mista de Motoristas e
Mototaxistas da Bahia, Vinicius Passos alega que os R$32,10 não correspondem ao
necessário para a manutenção do veículo e custos com gasolina. Segundo o
próprio projeto, R$24,07 desse valor seria para cobertura de gastos como
internet, combustível e manutenção.
Geraldo Santos e Igor Cirne são motoristas por aplicativo há
oito e quatro anos respectivamente. Eles revelam receio de que a regulamentação
reduza seus rendimentos - teoria contestada pelo ministro do Trabalho. Uma das
críticas deles é com relação à contribuição ao INSS. O ministro Luiz Marinho
explicou que, segundo o projeto, os trabalhadores devem contribuir 7,5% do
salário mínimo para a Previdência Social, o que corresponde a aproximadamente
R$ 99 por mês. Mas a categoria defende que seja adotado o regime de
Microempreendedor Individual (MEI), cuja contribuição é a partir de R$71,60.
O que
falta
Juiz do Trabalho e professor na Universidade Federal da Bahia,
Murilo Oliveira concorda com contribuição pelo INSS e a criação de um sindicato
da categoria, que é outro ponto do projeto. “A Previdência é a parte boa. Não
vão pagar o mesmo que um empregado, vai ser menos” afirma. Apesar disso, ele
defende que o projeto não coloca o motorista como autônomo, mas sim como
sujeito controlado.“ A lei diz que a empresa pode vigiar, pode punir e dar
metas. Não existe autônomo que não diga o preço do seu trabalho”, pontua.
Por outro lado, há quem veja a discussão como positiva, é o caso
da presidente do Instituto Brasileiro do Trabalho, Cyntia Possídio, que ainda
assim cobra um patamar mínimo, como aviso prévio, décimo-terceiro e horas
extras. O ministro, por sua vez, garante que se a categoria está convencida que
é necessário alteração no projeto, este não será um problema