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Especialista em mobilidade lista desvantagens
do VLT: "Não está adequadamente integrado à cidade"
Ao Portal M!, Juan Pedro
Moreno defendeu que o modal deveria funcionar em regiões mais centrais de
Salvador
Em meio às celebrações dos 475 anos de Salvador, os
soteropolitanos vivem a expectativa de ver sair do papel o projeto do Veículo
Leve sobre Trilhos (VLT), que vai substituir o antigo sistema de trens do
Subúrbio, desativado há três anos. O modal, no entanto, é alvo de críticas por
não estar "adequadamente integrado e inserido na cidade", conforme
explicou o arquiteto, urbanista e coordenador do Centro de Estudos de
Transporte e Meio Ambiente (Cetrama) da Escola Politécnica da Universidade
Federal da Bahia (UFBA), Juan Pedro Moreno.
Doutor em Engenharia de Transportes, ele rechaçou a tese de se
tratar de um modal "ultrapassado" e indicou que o problema é que ele
não está sendo implantando no local adequado para Salvador.
"O VLT não está adequadamente integrado e inserido na
cidade. Ele está distante da demanda, principalmente na região entre Calçada e
Paripe. Então, a grande desvantagem do VLT é a microaccessibilidade. Há grandes
problemas de microaccessibilidade e de integração modal, e esses serão os problemas
que nós veremos no futuro. Vai ser muito difícil para usuários que moram em
regiões íngremes acessar o VLT que está na praia. Vai ter que utilizar outro
modo de transporte, seja um ônibus, uma motocicleta, uma van. E aí vamos ter
problemas de integração modal, de aglomeração", apontou ao Portal M!.
Na avaliação do especialista, ao invés de ser instalado no local
onde funcionava o antigo trem do Subúrbio, o VLT deveria operar em regiões mais
centrais da cidade, inclusive fazendo uso do antigo traçado dos bondes de
Salvador.
"Os VLTs se colocam em áreas centrais e densas. A melhor
solução para o VLT seria que ele utilizasse o antigo traçado dos bondes de
Salvador, pela Avenida Carlos Gomes, pela Avenida Sete, cortando o Campo
Grande, integrando a Praça Castro Alves. Ou seja, uma ideia semelhante ao que
foi feito no centro do Rio de Janeiro. E o grande problema que temos é que
tanto na Calçada para Paripe, como no trecho que está ligando a Estação Aguas
Claras com Paripe e Piatã, são regiões com uma topografia difícil e com grandes
problemas de microaccessibilidade para os usuários futuros do VLT. Estamos
frente a um verdadeiro problema de integração modal e microaccessibilidade, que
não foi contemplado", observou.
Plano metropolitano
Perguntado se haveria melhores opções em comparação ao VLT, Juan
Moreno afirmou se tratar de um "debate do passado" e ressaltou que o
importante é pensar em uma "rede integrada" de mobilidade, além de
ter sugerido a criação de um Plano Metropolitano de Transporte, "de
passageiros ou de carga".
"Como não temos esse tipo de plano, as coisas acontecem com
uma grande incerteza. Para acessar o Porto de Salvador, necessitamos de um trem
de carga. Em paralelo, necessitamos de um trem regional de passageiros para a
cidade de Salvador, e em paralelo, também estamos pensando em uma solução
urbana, que poderia ser o VLT. Então, precisamos de um plano que indique por
onde passarão esses modais. Como não está clara a rede metropolitana para os
diversos modos de transporte público, urbanos ou regionais, existem essas
grandes dúvidas, esses grandes problemas", defendeu.
Outro ponto defendido por Moreno foi a integração entre
município e Estado para que a região metropolitana seja pensada de forma
integrada. "A falta de planejamento está causando impactos tanto na cidade
de Salvador como na região metropolitana. Então, estamos em frente a um
problema de governança também. Tem que ter integração do município e do Estado
para pensarmos a região metropolitana ou macrometropolitana de uma maneira integrada".
O conjunto de linhas de acesso ao Porto de Salvador também foi
citado pelo especialista como uma questão importante. Segundo ele, o VLT não
deve bloquear o acesso ao Porto.
"Temos que pensar que aquele VLT que vai acessar e chegar à
Calçada - e espero que ao Centro de Salvador em algum momento - não bloqueie o
acesso ao Porto de Salvador, que é estratégico para Bahia, de grande
importância, e um dos melhores portos do País, com um grande número de
características físicas e funcionais", ponutou.
Trechos 1 e 2 têm previsão de entrega em 2027
Após prever o início das obras
do VLT para julho de 2024, a Companhia de
Transportes do Estado da Bahia (CTB) revelou ao Portal M!, que os trechos 1 e 2 têm
previsão de entrega em 2027, enquanto o trecho 3 deverá ser finalizado em 2028.
O projeto tem um orçamento total de R$ 3,6 bilhões e será
desenvolvido em três lotes, cada um destinado a trechos específicos. São eles:
Ilha de São João - Calçada; Paripe - Águas Claras; Águas Claras - Piatã. O
trechos representam um total 36 km e, segundo o órgão, será integrado aos
modais já existentes.
Questionada sobre quais são as principais vantagens do modal
projetado em comparação ao antigo, a CTB afirmou que o Sistema de Trens do
Subúrbio operava em "condições precárias" e prestava um "serviço
deficitário à população da região Suburbana".
"A tecnologia e o Material Rodante (trens) eram antigos,
com sérias dificuldades na obtenção de peças de reposição. Os sistemas de
sinalização, comunicações e energia possuíam tecnologia ultrapassada,
necessitando de implantação de novos equipamentos", informou a CTB, em
nota.
A companhia sinalizou ainda que a área de atendimento era
limitada à região da Calçada, "cuja importância relativa foi reduzida nos
últimos anos, não atendendo aos novos desejos de destino".
"O forte movimento entre Salvador e os municípios da RMS
indicava a necessidade de implantação de um novo Sistema Integrado de
Transporte Público que garantisse, pela utilização de modais de alta, média e
baixa capacidade, a adequação às demandas, de forma racional e
sustentável", concluiu.