Divulgação (Foto: GOVBA)
Especialista em mobilidade diz que nova
Rodoviária vai "criar mais viagens"
Ao Portal M!, Juan Pedro
Moreno ressaltou que as grandes estações devem ser bem pensadas e colocadas nas
áreas centrais da cidade
Aguardada como uma alternativa de melhoria para a mobilidade na
capital baiana, a nova Rodoviária, localizada em Águas Claras, pode não surtir
o efeito esperado pelos gestores. A avaliação é do arquiteto, urbanista e
professor Juan Pedro Moreno, coordenador do Centro de Estudos de Transporte e
Meio Ambiente (Cetrama) da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia
(UFBA).
Em entrevista ao Portal M! para
uma série de reportagens sobre mobilidade urbana para o aniversário de
Salvador, que completa 475 anos nesta sexta (29), Juan Moreno observou
que a estação pode ser responsável por "criar mais viagens" para os
usuários do sistema.
"Sem dúvida, haverá impactos. E novamente colocamos a
questão da concepção, das ideias, do planejamento como uma ideia central para
conduzir a nossa metrópole. A rodoviária não existe mais como rodoviária, não
devemos nem chamar de rodoviária. Salvador é uma metrópole, e tem uma região
metropolitana com mais de 3 milhões e meio de habitantes, quase 4 milhões. Esta
região precisa de uma estação de transporte público intermodal integrada nas
áreas centrais da cidade, como qualquer outra cidade metropolitana, no País ou
no mundo", defendeu.
Conforme o especialista, um ponto importante a ser considerado é
que o Centro de Salvador e a área do Iguatemi, na região da Avenida Tancredo
Neves, atraem dois terços das viagens relacionadas a trabalho na capital.
"Maior razão para termos nelas uma estação de transporte
intermodal integrada. Esse tipo de estação é semelhante, por exemplo, ao que
temos no Rio de Janeiro, na Central do Brasil. Imagine que isso está no Centro
da cidade. Não tem sentido pensar em um trem regional que não chegue ao Centro
da cidade. E levar a rodoviária para uma região periférica, Águas Claras, onde
não tem consolidação urbana, vai criar mais viagens do que temos
atualmente", apontou.
Outro ponto destacado por Juan é a intenção do Governo do Estado
de criar o Trem Regional, que seria responsável por ligar Salvador a cidades
como Feira de Santana e Alagoinhas. Em função disso, o especialista defendeu
que modais como esse devem conectar os municípios aos núcleos centrais da
metrópole.
"Seja o Centro antigo, Lapa e Comércio, ou a região do
Iguatemi, Tancredo Neves, que também é uma centralidade. Então, você não pode
ficar a meio caminho, seja em Águas Claras, ou como ocorre com o nosso trem na
Calçada, que não são locais centrais, e provocar uma viagem adicional",
pontuou.
Por conta deste cenário, o doutor em Engenharia de Transportes
ressaltou que as grandes estações devem ser bem pensadas e colocadas nas áreas
centrais da cidade.
"E pensar essas questões também indica a importância do
planejamento. E como não temos o planejamento e estamos fazendo projetos de
forma isolada, temos uma metrópole e uma cidade de Salvador que é uma colcha de
retalhos. É a minha opinião. A grande necessidade de nossa região metropolitana
é um plano metropolitano de transporte de passageiros e de cargas",
avalia.
O professor defendeu ainda que o plano seja macro metropolitano
e integre cidades mais distantes da capital, como Santo Antônio de Jesus.
"Se esse plano fosse macro metropolitano seria muito melhor. Ou seja, um
planejamento de transporte de passageiros e cargas que envolva Salvador,
Alagoinhas, Feira de Santana e Santo Antônio de Jesus, todos com uma grande
área integrada".
Por fim, o especialista alertou que a falta de um planejamento
integrado de transportes e de uso do solo poderá comprometer a mobilidade
sustentável, necessária para enfrentar a mudança climática que sofremos
atualmente. "Ou seja, a demanda atual de pessoas escolherá sempre o
automóvel e a motocicleta individuais como solução, agravando tudo",
explicou.
Nova Rodoviária
Conforme a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de
Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), o novo Terminal
Rodoviário de Salvador tem sua construção em fase de execução na confluência da
BR-324 e Avenida 29 de Março, na localidade de Águas Claras, em um terreno de
127.235 m².
De acordo com o órgão, o equipamento ficará localizado em uma
área "estratégica". "Visto que está vizinha ao ponto de
cruzamento da BR-324 com a Av. 29 de março (em execução), via transversal que
interligará a orla Atlântica à orla da Baia de Todos os Santos (Subúrbio),
caracterizando-se, assim, como o grande entroncamento para onde convergirão os diversos
modais de alta capacidade".
Entre os modais citados, estão, a Linha 1 do Metrô de Salvador,
através da Estação Metroviária de Águas Claras, o corredor de BRT da Av. 29 de
março, que segundo o órgão, está em fase de construção.
"O Novo Terminal Rodoviário integra então um complexo
urbano, em que a interação entre os vários modais de transporte constitui-se em
grande desafio. Nesse sentido, buscou-se a concepção de uma proposta com
capacidade operacional suficiente, fluidez nos embarques e desembarques e
comunicação com as demais estruturas (Estação Metroviária, Terminal de Ônibus
Urbano e BRT), buscando a eficiência desejável, sem perder de vista a
atratividade e rentabilidade necessárias ao empreendimento para garantir a
viabilidade econômica imprescindível à gestão do Sistema. Os estudos estimaram
que, durante a concessão, serão beneficiados, anualmente, entre 3,6 a 3,8
milhões de usuários", diz trecho da nota.
Até
a publicação desta matéria, a Agerba não respondeu ao questionamento do Portal
M! sobre a previsão de entrega do equipamento. Em dezembro
de 2023, durante a cerimônia de inauguração da estação Águas Claras, que
pertence à linha 1 do sistema metroviário de Salvador, o governador Jerônimo
Rodrigues (PT) alegou que não há estimativa para a entrega da nova rodoviária,
que ficará no mesmo bairro. Anteriormente, a entrega estava prevista para o fim de
2023.