Divulgação (Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda)
Fazenda anuncia renegociação de dívida de Estados
com contrapartida de investimento em educação
Qualquer Estado poderá aderir ao programa 'Juros por Educação'
lançado pelo ministério nesta quarta-feira
O Ministério da Fazenda divulgou, nesta terça-feira (26), o
programa Juros por Educação, uma
proposta para refinanciar as dívidas dos Estados com a União com compromissos
de investimentos no Ensino Médio Técnico (EMT). A sugestão da Fazenda prevê
três faixas de correção das dívidas, a depender do porcentual aplicado pelos
Estados nas contrapartidas.
Para os Estados que aplicarem ao menos 50% da economia no
serviço da dívida proporcionada pela redução dos juros na ampliação de
matrículas no EMT, a taxa de juros será IPCA+3% ao ano. Para os que aplicarem
ao menos 75%, a taxa cai para IPCA+2,5% ao ano. Por fim, os que aplicarem 100%,
a taxa cai para IPCA+2% ao ano.
Segundo a Fazenda, caso as metas do programa sejam atingidas
pelos Estados, essa redução na taxa de juros se torna permanente para os entes
federativos. Além disso, o programa também prevê uma redução maior na taxa de
juros caso os Estados optem por amortizar o saldo devedor. Se 10% do saldo for
amortizado, a taxa cai 0,5%. Se 20% for amortizado, a queda é de 1%. Os Estados
poderão usar ativos, como participações em empresas públicas e sociedades de
economia mista, para fazer a amortização.
Qualquer Estado poderá aderir ao programa apresentado pelo
Ministério da Fazenda. Os Estados que porventura não tiverem dívidas com a
União ou que tenham débitos de menor valor terão acesso prioritário a linhas de
financiamento e outras ações de apoio à expansão do EMT, de acordo com a pasta.
Caso os Estados não apliquem a integralidade dos recursos na
ampliação das matrículas do EMT, os governadores deverão recolher a diferença a
título de aporte no Pé de Meia, programa do governo federal que criou uma
espécie de "poupança" para estudantes do ensino médio.
Se as unidades federativas não cumprirem esse aporte, a taxa de
juros real de 4% (ou seja, IPCA+4%) será cobrada retroativamente, com a
obrigação de essa diferença ser quitada em até 30 dias. O Estado que não
cumprir nenhuma dessas obrigações terá esse montante incorporado ao saldo
devedor e será excluído do programa.
A redução na taxa de juros era uma demanda dos governadores para
permitir a quitação desses débitos. Conforme o Broadcast (sistema de notícias
em tempo real do Grupo Estado) antecipou na semana passada, a Fazenda reduziria
a taxa atual de IPCA+4% ou taxa Selic (o que for menor).
O modelo escolhido pelo ministério foi estabelecer uma faixa
para beneficiar Estados que aplicarem um montante maior no ensino médio
técnico. Os Estados pleiteavam uma correção nominal de 3% - o que era visto,
nos bastidores, pelos próprios governadores, como uma proposta para estabelecer
o início de uma negociação, mas não necessariamente o que seria atingido.
A proposta lançada nesta terça-feira pelo Ministério da Fazenda
foi criada a partir de uma sugestão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), para renegociar a dívida de seu Estado, Minas Gerais. Com a
discussão da dívida mineira, Pacheco passou a sugerir uma proposta que valesse
para todos os Estados, permitindo a cessão de empresas públicas como forma de
amortizar parte da dívida e reduzindo a taxa de correção.
O programa Juros por
Educação foi apresentado pelo ministro Fernando Haddad a
governadores do Sul e do Sudeste na manhã desta terça. Participam da reunião os
governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Cláudio Castro (Rio de Janeiro),
Romeu Zema (Minas Gerais), Renato Casagrande (Espírito Santo), Ratinho Jr
(Paraná), Jorginho Mello (Santa Catarina) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul).
A pasta destacou que o saldo devedor acumulado dos Estados soma
R$ 740 bilhões. Desse montante, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e
Minas Gerais respondem por R$ 660 bilhões, equivalente a 90% do estoque da
dívida.
A Fazenda estima que os investimentos em ensino técnico e
profissionalizante têm potencial de incremento estrutural de mais de 2% do PIB.
O Censo da Educação em 2023 apontou que das 7,7 milhões de matrículas no Ensino
Médio, apenas 1,1 milhão estão integradas à formação profissional. O objetivo
do avanço no ensino técnico segue parâmetros da OCDE.
Negociação do indexador em 60 dias
O ministro da Fazenda disse no início da reunião com os
governadores do Sul e Sudeste que pretende concluir as negociações para a revisão
do indexador da dívida dos Estados em até 60 dias. "Pretendemos em 60 dias
no máximo concluir os entendimentos a partir de determinadas premissas, que é o
que nós vamos apresentar aqui", afirmou.
Ele destacou que o objetivo é ter alguns parâmetros já
estabelecidos para a negociação, o que facilitará as conversas entre Tesouro e
os secretários de Fazenda dos governos regionais. O ministro também salientou
que algumas propostas já haviam sido apresentadas pelos Estados e a proposta da
Fazenda visa adotar uma solução federativa com resultados de longo prazo.