Divulgação (Foto: James Martins )
Mestre João Grande comemora 91 anos em Salvador com
roda de capoeira
Verdadeira lenda viva, ele mora em Nova York há mais de 30 anos, e é
considerado o mais importante mestre em atividade
Uma verdadeira lenda viva da capoeira, o Mestre João Grande de
Pastinha comemorou 91 anos nesta segunda-feira (15). Radicado em Nova York, nos
Estados Unidos, há mais de 30 anos, o baluarte celebrou a data em Salvador,
junto a amigos, discípulos, familiares e admiradores, em cerimônia realizada no
Solar do Unhão, por iniciativa de Mestre Sabiá e da associação Ginga Mundo.
A festa, que abriu extraoficialmente a quinta edição do Rede
Capoeira, evento que acontecerá nos dias 24, 25, 26 e 27 desse mês, recebeu
nomes importantes do universo do esporte, como Mestre Nenel (filho do lendário
Bimba), Mestre Lua, Mestre Boca Rica, Mestre Tonho Matéria (ganhador do Oscar
da Capoeira 2024), Mestre Nani (neta de João Pequeno), a pesquisadora Lucia
Correia Lima (autora do livro "Mandinga em Manhattan"), Tereza e
Elzinha Abreu (respectivamente viúva e filha do pesquisador Frede Abreu, autor
de obras importantes como "Bimba é Bamba - a Capoeira no Ringue" e
"O Barracão de Mestre Waldemar"), o professor Pedro Abib (líder do
Grupo de Pesquisa GRIÔ: "Culturas Populares, Ancestralidades e
Educação"), a documentarista Carolina Canguçu, entre outros.
Organizador
da celebração, Mestre Sabiá conduz os passos do grande Mestre.
"Estamos aqui num momento importante de celebração, em
vida, de um grande mestre. E somos gratos por isso. Mas, precisamos ainda
fortalecer a luta por respeito a eles. Pois não é coerente com a própria
história da capoeira que tantos passem por dificuldades e ainda vivam de favor
e camaradagem", iniciou Mestre Sabiá, antes da abertura da roda. E
completou: "Não estamos aqui para fazer caridade, mas para buscar dignidade
plena. Não é possível mais alimentarmos um olhar folclórico ou superficial
sobre os mestres capoeiristas. Raiz não é pobreza, é dignidade".
E a roda
gira com ginga e mandinga...
Mostrando uma vitalidade invejável, o próprio Mestre João Grande
fez questão de abrir a roda. Cantou e jogou com serenidade, nobreza e malícia.
"Há 40 anos eu espero por esse momento", disse um fotógrafo de lente
em riste. A roda, formada por jovens e velhos, homens e mulheres, siderou a
todos os presentes, como numa especie de cerimônia religiosa, que tudo isso a
capoeira contém e manifesta. "É uma oportunidade incrível a que estamos
vivendo aqui. Que honra, hein!", celebrou a artista visual Sirc, também
presente na festa.
Sobre o Rede Capoeira, cuja abertura será no Espaço Cultural da
Barroquinha, no dia 24, às 15h30, Mestre Sabiá destacou, em conversa com o Metro1:
"Nossa intenção é, não apenas honrar os mestres como verdadeiros heróis
populares, mas também e principalmente ouvi-los. Eles são donos de saberes e
vivências únicos e, apesar disso, ocupam uma posição frágil e desfavorecida na
memória e cultura do país".
Filho de
Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional, Mestre Nenel também se fez
presente.
O evento este ano será focado em torno de 14 mestres, todos
acima dos 80 anos de vida. São eles: Mestre Felipe (96), Mestre Brandão (94),
João Grande (91), Mestre Pelé da Bomba (89), Mestre Virgílio (89), Mestre Boca
Rica (87), Mestre Cafuné (85), Mestre Curió (84), Mester Celso (84), Mestre
Sombra (82), Mestre
Brasília (81), Mestre Olavo (81), Mestre Carcará (81) e Mestre Acordeon (80).
Mestre João Grande, também conhecido como Gavião, nasceu em
Itagi-Ba, no dia 15 de janeiro de 1933, e é a principal referência viva da
Capoeira Angola no mundo. Iniciou na arte da mandinga aos 10 anos. Esteve ao
lado de Mestre Pastinha no 1º Festival Mundial das Artes Negras, em
Dakar/Senegal, em 1966. Fez parte do grupo Viva Bahia, de dona Emília
Biancardi. É um dos pioneiros na internacionalização da Capoeira no mundo. Já
formou incontáveis alunos, pessoas.